Líder do governo do Estado na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Sinésio Campos (PT) fala sobre a possibilidade de compor chapa com o deputado Marcos Rotta (PMDB) para disputar a Prefeitura de Manaus e aposta na reaproximação do senador Eduardo Braga com o governador Omar Aziz (PSD). Nesta entrevista, ele também fala sobre a relatoria do anteprojeto do Tribunal de Contas do Estado no Assembleia Legislativa e descarta qualquer possibilidade de encaminhar a matéria à votação do Plenário no prazo de dez dias.
Jornal do Commercio – O senador Eduardo Braga (PMDB-AM) levou ao ex-ministro José Dirceu, uma das estrelas nacionais do Partido dos Trabalhadores, a chapa que ele considera ideal para disputar as eleições municipais em Manaus, unindo PMDB e PT. Braga levou a Dirceu os nomes dos deputados estaduais Marcos Rotta (PMDB) e Sinésio Campos (PT). Isso é para valer?
Deputado Sinésio Campos – Para mim, esse é um fato novo, um fato que eu conheci pela imprensa. Mas, eu vejo tudo com alegria, porque, afinal, o senador Eduardo Braga é um político da mais alta credibilidade, ele que foi vereador, deputado estadual constituinte, deputado federal, prefeito de Manaus, governador do Estado duas vezes, e agora senador. Isso me causa muita alegria, sobretudo por me colocar em parceria com o deputado Marcos Rotta, meu companheiro na Assembleia Legislativa, cumprindo o seu quarto mandato. E eu creio que a parceria PMDB/PT é interessante. O projeto político do PT é que o partido faça parte de uma chapa majoritária para a Prefeitura de Manaus, concorrendo como cabeça de chapa ou na vice de alguém. Inclusive, o partido vai se reunir neste sábado (26), no Sindicato dos Petroleiros, e fazer a discussão sobre as eleições municipais para que haja definições até o dia 30 de junho. O que nós defendemos é que o PT componha com as agremiações que fazem parte da base aliada do governador Omar Aziz (PSD), e o PMDB não apenas faz parte da base aliada, mas do governo do Estado de forma bem evidente. E o senador Eduardo Braga é o líder do governo federal no Senado, cujo vice-presidente, Michel Temer, é um dos grandes expoentes do PMDB. Creio que agora é que o jogo político começou, agora é que as coisas começam a ganhar celeridade.
JC – O governador e o seu partido, PSD, avalizam a chapa composta pelos deputados Sinésio Campos/Marcos Rotta?
Sinésio – Dizem que canja de galinha e caldo de caridade não fazem mal a ninguém. Desse modo, creio que agora é o momento de todo mundo ter calma, tranquilidade. Esse é o momento de todos pensarem em um programa de governo para Manaus, que contemple uma gestão descentralizada. Eu acho que a atual gestão municipal é centralizadora. Eu defendo o voto distrital, defendo que as secretarias municipais tenham sua representatividade em subprefeituras. Temos que tratar da questão da mobilidade urbana, do ensino fundamental, a questão da saúde. Então, acredito que, mesmo antes de discutirmos nomes, devemos tratar dos problemas angustiantes da cidade e formular propostas para enfrentá-los.
JC – O senhor falou que “agora é que o jogo político começou”. Isso significaria que o senador Eduardo Braga e o governador Omar Aziz estão aparando arestas e voltando a conversar?
Sinésio – Claro. Isso pode acontecer. O Omar foi vice de Eduardo Braga por um bom tempo, como também ele teve o total apoio do senador e de todos nós na sua caminhada rumo à conquista do governo do Estado. E existe muito disse-me-disse sobre eles dois. Mas, nós que somos da base governista na Assembleia Legislativa, torcemos para que eles estreitem cada vez mais os laços, fortalecendo a base aliada em nível nacional e em nível estadual. Ninguém está torcendo pelo ‘quanto pior, melhor’. O bom é que as nossas maiores lideranças estejam unidas.
JC – Com relação à questão da água em Manaus, o senhor concorda com as soluções apresentadas recentemente pelo prefeito Amazonino Mendes, descartando o Proama (Programa Água para Manaus)?
Sinésio – O Proama é um braço extremamente importante para resolver o problema do abastecimento de água nas zonas norte e leste da nossa capital. Nessas zonas residem cerca de 1 milhão de habitantes. Claro que o atual sistema de poços artesianos, que tenta atender as demandas dessas zonas, tem problemas de manutenção. O único sistema de captação é a Ponta do Ismael, na Compensa. É de lá que se faz o bombeamento para atender a zona norte e a zona leste. Mas, acontece que Manaus cresceu. Da mesma forma é a questão da energia. Não adianta trazer o Linhão de Tucuruí se ninguém sabe como será a distribuição dessa energia. Assim é a questão da água. Não adianta também fazerem CPIs e mais CPIs por aí, pois o que a população quer ver é água na torneira.
JC – Vale questionar a CPI realizada pela Câmara Municipal de Manaus? Pelo que se sabe, já houve uma CPI, e, então, por que não se partiu do relatório da CPI anterior?
Sinésio – Eu falei sobre isso e fui mal interpretado. Eu desejo que os vereadores tenham prudência e responsabilidade, não transformem a CPI em palanque político. Desejo que eles contribuam, de fato, para resolver os problemas do abastecimento de água em Manaus. E repito que a população quer saber é de água na torneira e não do blá, blá do dia a dia.
JC – Essa CPI atual não deveria ter partido do relatório já existente?
Sinésio – Claro que sim. Ninguém começa qualquer coisa a partir do nada. Os problemas que envolvem a empresa Águas do Amazonas, as concessões etc., não surgiram agora. Não podemos tratar essa doença, que é o problema da água, com ações preventivas, mas com ações curativas. E, se for imprescindível uma cirurgia profunda, que isso seja feito.
JC – O que vai acontecer agora com o anteprojeto que altera a Lei Orgânica do TCE (Tribunal de Contas do Estado), do qual o senhor é relator na Assembleia Legislativa?
Sinésio – O presidente do TCE, Érico Desterro, já deixou claro que quer o anteprojeto aprovado na íntegra, conforme foi acertado no âmbito do tribunal. O detalhe é que o TCE é um braço auxiliar da Assembleia Legislativa. No momento em que eu recebi a missão de relatar o anteprojeto, vários deputados se manifestaram com emendas e sugestões. Bom, o primeiro passo agora é conversarmos com o TCE no que diz respeito a essa questão. Depois, teremos que ouvir a Associação Amazonense de Municípios, por ser um órgão identificado com as prefeituras e Câmaras de Vereadores. Os deputados possuem o direito de apresentar emendas e sugerir as alterações que entendem como necessárias. De todo modo, dentro do prazo regimental, vou fazer o anteprojeto tramitar na Aleam e encaminhá-lo ao Plenário. Mas, o que não vai ser possível é atender o presidente do TCE sobre a aprovação do anteprojeto na forma como ele veio do tribunal.
JC – O conselheiro Érico Desterro diz ter pressa na aprovação do anteprojeto pela Aleam até o final deste mês, a fim de que ele possa enviar, até 5 de julho, ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) a relação dos elegíveis e inelegíveis com vistas às eleições de outubro. Isso será possível?
Sinésio – O anteprojeto chegou na quarta-feira (23) às minhas mãos, e eu tenho um prazo, tenho que fazer as oitivas, fazer o debate. E não há interesse nenhum, de minha parte, de postergar o anteprojeto. O TCE poderia também ter encaminhado o anteprojeto a Aleam em outro contexto e jamais no limiar de um processo eleitoral. Eu entendo, no entanto, que o anteprojeto não deixa de ser oportuno, mas quem me conhece sabe que não sou de alimentar ideia de procrastinação. Mas, eu devo seguir os prazos determinados pelo Poder Legislativo Estadual.