26 de julho de 2024
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Vozes da Educação de Manaus – Parte 3

Hoje, dando continuidade à série “Vozes da Educação de Manaus”, transcrevemos aqui parte de uma entrevista, feita pelo sistema de troca de mensagens (WhatsApp), com o professor Bibiano Garcia, como segue.

“Sou um caboclo amazonense, nascido de parto normal no interior de nossa pequena casa de madeira, em Manaus, em 13 de dezembro de 1972. Até os 8 anos vivi na vila da EMBRAPA, na estrada Am 010, km 30. Mais tarde viemos para o bairro Santa Etelvina onde permaneço até os dias de hoje. Meu pai, já falecido, se chamava Bibiano Simões Garcia e minha mãe, de 83 anos, chama-se Maria José da Silva, vindos do interior do Pará, uma cidade chamada Alenquer. Sou formado em Filosofia, casado com Soraia Reis Garcia e pai do Bruno e da Sophya, que completou 15 anos neste último dia 12. Sou professor de Ensino Religioso, ministro extraordinário da Palavra e Comunhão Eucaristia, missionário leigo redentorista e ativista de movimentos de lutas por melhoria da educação e combate a corrupção. 

Fui seminarista na Congregação Redentorista (um dia pensei em ser padre) e “pai social” na organização não-governamental “Aldeias Infantis SOS Brasil”, (por um período, deixei a sala de aula para morar com adolescentes ajudando-os em sua formação para a vida. Eram crianças advindas de um mundo de violência). Desde tenra idade me envolvi com as lutas pastorais e sociais, principalmente em defesa dos direitos humanos. Em 2006 envolvi-me de forma mais direta na luta por melhorias na educação.

De lá para cá, em nossas lutas de movimentos, vivi os altos e baixos. Os pontos altos deram-se quando avançamos na união de todos em torno de pautas comuns como: correta aplicação dos recursos do FUNDEB, cumprimento do PCCR e reajuste salarial. Os momentos baixos que vivi, acredito que se deram quando nos faltou a união das lideranças da educação, o que contribuiu para a fragilização da categoria, há tempos dividida em dois sindicatos e em vários movimentos oposicionistas. Cada um ligado direta ou indiretamente a partidos políticos. Nada contra. Pelo contrário, creio que é preciso organizar-se politicamente. 

O que me realiza é a perseverança. De 2012 a 2016, mesmo tendo sido apontado como uma das maiores vozes em defesa da educação no parlamento municipal, quando exerci o mandato de vereador, não vi essa força se converter em êxito para um segundo mandato. Em 2018 tentamos levar as diversas pautas de lutas pela educação pública e de qualidade para dentro da Assembleia Legislativa, mas novamente não obtivemos êxito nas eleições. E em 2020 mais uma vez não obtemos êxito.

Hoje meus planos são o de continuar lutando por dignidade, justiça, contra a corrupção, em defesa da educação, da Amazônia, dos povos tradicionais… Deve ser mal de um teimoso. Também pretendo fazer uma faculdade de Direito, instrumento importante para quem atua nas lutas sociais. Faço minhas leituras em casa. Pretendo também escrever um livro compartilhando um pouco do que vivi nos bastidores da política e na época em que exerci a liderança de um dos movimentos de professores em nosso Estado. 

Acredito que pelo fato de não aceitar ou coadunar com aquilo que é errado e viver uma vida simples, porém com dignidade, posso ajudar os mais jovens a acreditarem que é possível se envolver com política, assumir cargos relevantes em governos e continuar firme nos princípios cívicos, cristãos e da honestidade. Há muitos que duvidam que eu possua apenas um carro popular de 2012 e uma casa no bairro de Santa Etelvina, onde moro há cerca de 40 anos. Se for honesto não tem como se tornar uma pessoa rica na política ou no serviço público. A honestidade é uma herança herdada de nossos pais. 

Pretendo também escrever um livro sobre o tempo em que exerci o mandato de vereador, nossos trabalhos em defesa de uma cidade melhor para todos, e os momentos difíceis quando tive minha casa invadida por duas vezes, os móveis e o carro quebrados e uma jovem riscada de faca dentro de minha própria casa em uma ação envolvendo dois bandidos. Até hoje não tenho informações oficiais sobre os autores dessa barbaridade ou o que tenha motivado tal ato.

Sobre minhas influências, tanto na vida acadêmica quanto na vida pessoal, destaco os meus pais, sábios por natureza. Mas também destaco a vida de Jesus Cristo, Francisco de Assis, Paulo Freire, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Dom Jacson Damasceno Rodrigues e Padre Rogério Ruvoletto. Os livros que me marcaram foram: Confissões de Santo Agostinho, Carta Encíclica Laudato Si, de Papa Francisco, Tráfico de Mulheres na Amazônia, Reforma Política Democrática, Iniciação ao Silêncio, A Mosca Azul, As Paixões da Alma, Manaus Amor e Memória, A Arte da Guerra… Estes e outros me influenciaram na vida, na formação acadêmica, profissional, humana e espiritual.

Estes últimos dias estou lendo um livro escrito por Dom Luiz Soares Vieira intitulado “Não Perder a Esperança” onde ele afirma que, “no meio das crises morais e éticas, por que passou e passa a sociedade e que trouxe sofrimentos sem conta a nosso povo, senti que precisava gritar que os valores da paz, da verdade, da solidariedade e da justiça eram o único caminho para construirmos um mundo melhor.”

Quanto você me pergunta se é possível ser professor e não ler, digo que é muitíssimo difícil, não que seja impossível, mas academicamente falando, sim. É como querer que uma planta sobreviva sem a luz do sol, sem o alimento da terra, sem o líquido da vida. 

Um dia eu quis apenas ser um missionário, depois um padre, depois um professor, vivendo de forma simples e digna. Mas a inquietação frente a tantas injustiças acabou me levando a exercer um mandato de vereador, numa campanha de poucos recursos. E mesmo não obtendo êxito em uma reeleição, após três outras empreitadas, acabei sendo convidado para exercer um cargo que nunca imaginei um dia exercer, o de secretário adjunto de educação. Tentei fazer o meu melhor, mas acebai deixando 9 meses após o convite aceito. Não tenho habilidade para lidar com grupos envolvidos com descaminhos, com suspeitas de corrupção. E apesar da divisão de nossa categoria profissional, perseguições e fake news, posso dizer que me sinto realizado por combater o bom combate e guardar a fé. No entanto, continuo com o coração inquieto. 

Minha mensagem é que um dia as pessoas entendam que um dos caminhos mais nobres e mais difíceis de se alcançar a justiça e a paz é no campo da política. Ela está suja e enlameada devido a timidez ou acomodação daqueles que, mesmo sendo altamente preparados e qualificados, justas e honestas, resolveram ficar “sentadas no trono de um apartamento esperando a morte chegar”. Lhe digo que, mesmo que um dia você seja perseguido, caluniado ou humilhado, não desista de continuar lutando pelo que acredita e fazendo aquilo que lhe faz feliz, simplesmente por você ser quem você é e não por querer agradar a opinião de outras pessoas.

Muito grato ao professor Luís Lemos pelo convite para colaborar com esse projeto respondendo as questões que deram forma a este pequeno texto. E obrigado a você que nos deu a graça de sua atenção e leitura. Um grande abraço do professor Bibiano Garcia”.

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