26 de julho de 2024
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“Valor dos Antepassados”

No dia 2 de junho partiu para a Eternidade minha sogra querida, mãe de minha esposa Ana, Maria D’Avila Tomaz, aos 93 anos de idade. Pelo afeto profundo que Ana, suas irmãs e irmãos e todos familiares sentimos por ela, decidi escrever sobre o tema dos antepassados, para homenagear sua memória e também a de outros antepassados, meus, de minha esposa e de meus filhos, que são referência viva na memória, como fontes de luz que provém do passado e iluminam o presente, para o futuro.

Desde cedo me interessei em conhecer as histórias de nossos antepassados. Tive a graça de conviver com duas avós, Gleide e Ecila, e um avô, Luiz, cujo nome herdei, acrescido de um “Neto”. Além disso, a alegria de ter conhecido e compartilhado bons momentos com nossa bisavó Odete, mulher sábia, que nos fascinava por suas lembranças, como a de ter assistido, ainda jovem, uma conferência do famoso Ruy Barbosa, no Teatro Municipal de São Paulo, levada por seu pai, nosso tataravô Cristhiano Vianna. Sim, naquele início do século 20, assistir uma conferência do “Águia de Haia”, considerado um dos homens mais cultos do mundo, era um privilégio emocionante, como ela descreveu para seus bisnetos… Mas não somente isso, Vovó Odete nos encantava também por sua jovialidade, inteligência e disponibilidade de dar atenção aos  bisnetos disputando conosco o jogo “Palavras Cruzadas”, que ela vencia com facilidade, por conta de seu vocabulário rico e sua memória infalível, mesmo com mais de 80 anos de idade.

No convívio com antepassados e nas histórias de família,  recebi lições de como viver a vida com respeito aos valores éticos, com alegria e com generosidade. Claro que meus pais fazem parte desta bela aprendizagem –e como! Mas escrever sobre eles me exigiria o tempo e o espaço de um novo texto, talvez um capítulo de um livro que ainda não ousei escrever. O fato é que na nossa família se valorizava os antepassados, tanto nos “causos” pitorescos e divertidos, quanto nas conquistas e façanhas de cada um deles. Nesse sentido, as reminiscências sobre Tio Neco eram insuperáveis e nos faziam gargalhar, bem como os feitos de nosso antepassado José Bonifácio de Andrada e Silva, representavam –ainda representam-  referência de orgulho e de honra familiares. 

Pelo lado de mãe, além do Patriarca da Independência e seus irmãos Andrada, bem como José Bonifácio, o Moço, várias vezes deputado e senador, neto dele, o ramo nordestino também se destaca. Meu tataravô, Joaquim Catunda, que também se tornou senador pelo Ceará, teve uma prole numerosa, dentre ela, meu bisavô Tomaz Catunda, médico cearense que se radicou em Santos, tendo atuado tanto na medicina, inclusive filantrópica, quanto na docência, pela qual também tinha grande vocação. Dentre suas realizações,  a de ter sido o médico da expedição chefiada por Euclides da Cunha, que passou por Manaus e singrou as águas do Purus, para o importante trabalho de demarcação de nossas fronteiras. Foi um homem austero, probo, generoso com seus semelhantes, sem nenhuma ambição de riqueza material. Uma de suas filhas foi minha saudosíssima avó Gleide Catunda de Andrada e Silva, professora, estudiosa, uma grande e inesquecível mestra, que me ensinou inclusive o prazer das caminhadas, nas ruas e vicinais de Campos do Jordão, quando passávamos férias na Casa da rua Ília, em Capivari. Esta casa –um antigo sanatório para tuberculosos, adquirida e reformada por nosso avô Mário – representava o ápice de nossos encontros familiares, principalmente no mês de julho, com o frio da montanha, as geadas, a comida deliciosa, as brincadeiras ao ar livre…

Este avô, que não conheci, foi um jogador de futebol de destaque no início do século passado, como comprovavam não apenas os relatos de vovó Gleide, mas inúmeros recortes de jornais da época, com as reportagens sobre os feitos do Clube Atlético Paulistano, onde atuava ao lado de Friedenreich, o maior artilheiro da história do futebol brasileiro antes da “Era Pelé.

Aqui faço um pequeno “recorte” da memória de alguns antepassados, sem esquecer de dizer que os relatos sobre os famosos, aqueles que ainda podem ser encontrados em páginas de livros e da internet, não são mais importantes para mim do que as figuras hoje anônimas de ascendentes que também influenciaram  meus referenciais de vida, minha conduta pessoal e social. Nesse sentido, minha avó Gleide, além de meus pais e avós Luiz e Ecila, foram fundamentais, além de  diversos outros antepassados que fazem parte da “memória coletiva familiar” e que, no meu entendimento, deveria ser mais valorizada no seio dos lares brasileiros… Lembrando que, abaixo de Deus, devemos aos nossos antepassados, nossa própria existência neste planeta. E um sentido de pertencimento e de responsabilidade que transcende as gerações: nossos lugares na humanidade.

Concluo com uma homenagem singela à minha sogra Maria, um dos seres humanos que marcaram fortemente minha alma. E com um reconhecimento de orgulho minha esposa Ana, tão dedicada e leal, filha exemplar, que permaneceu com ela, no hospital, até o último suspiro. Essa amazonense descendente de cearenses, mulher nascida e criada nos seringais do Juruá, depois casada com meu sogro Serginho, além de dar à luz a 15 filhos e criar e educar 14, além de ter adotado mais uma, vivenciou uma existência sofrida, com uma fé inabalável, uma honestidade inexcedível, uma generosidade incomparável, uma perseverança exemplar e um amor ao próximo profundo e permanente. Mãe de minha esposa, avó de meus filhos Taianna e Luiz Henrique e bisavó de minha neta Ana Luiza, tornou-se afetivamente minha antepassada. Por ela pranteio a dor da saudade de sua filha Ana e de toda família. E registro com emoção: Gratidão.

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