3 de novembro de 2024

Um novo Brasil

Em todo o mundo vivemos tempos difíceis, seja no campo da política, da educação, da economia, ou da saúde. Especialistas quebram à cabeça para montar um quadro que julgam minimamente fiel à realidade. Quando essas análises se voltam para o Brasil, a situação fica ainda mais complexas. Como construí um novo país? É possível? Quais são os meios? Os caminhos?

Como esse ano temos eleições municipais, um ponto interessante a ser observado são os compromissos de campanha, ou seja, a palavra dada. Do mesmo modo como assumir e honrar compromissos aproxima as pessoas de nós, não respeitá-las nem cumpri-las afasta até mesmo os amigos. Uma pessoa que dá sua palavra e depois não cumpre não pode ser levada a sério. Todos sabem disso, mas infelizmente poucos colocam em prática. Portanto, quando der a sua palavra arrume um jeito de cumprir com o que disse!

Nesse sentido, é impressionante observar como os políticos brasileiros prometem mundos e fundos mesmo sabendo que não vão cumprir nenhuma de suas promessas. Mais impressionante ainda é ver que tem gente que acredita. Ser fiel inclui indispensavelmente manter a palavra. Por isso, ao perceber a falta de sinceridade e comprometimento com a palavra empenhada afaste-se dessa pessoa, seja ela um parente, um colega e principalmente se for um político. Fique longe dessa pessoa, ela não merece a sua confiança.

Atualmente no Brasil quem deveria dar exemplo, as nossas autoridades, não conseguem demostrar um pingo de bom senso, de responsabilidade, de zelo pela coisa pública, de amor e compaixão pelo próximo. Faltam-lhes autoridade moral. Assim, são tantos os políticos corruptos, ladrões, mentirosos nesse país, geralmente fazendo o que não devem, que as nossas crianças e adolescentes já estão até achando normal cometer pequenos delitos.

Com efeito, é preciso ensinar para eles que a ética é a base da construção desse novo Brasil, além do respeito ao próximo, trabalho honesto e igualdade de oportunidade para todos. É preciso ensinar para as crianças, adolescentes e jovens desse nosso país que crimes leves, que são aqueles sem violência ou grave ameaça, como furto leve, estelionatos de pequeno valor ou fraudes, levam a crimes maiores. É como subir uma escada, ninguém chega ao último degrau sem pisar no primeiro.   

É preciso, ainda, ensinar à verdade para as crianças, adolescentes e jovens. Não podemos negar-lhes à realidade. É preciso falar-lhes de política, economia, sexo, religião. É verdade, cada um ao seu tempo, numa linguagem própria. Não podemos esconder nada deles. No mundo de hoje, altamente conectado, eles são capazes de entendimento e de solução muito mais rápido do que muitos adultos. É preciso confiar neles, é preciso apostar na juventude!

Assim, pais, jornalistas, professores, comunicadores em geral, possuem grandes responsabilidades nesses tempos de fake news. Quem aprende na mentira tornar-se um defensor da mentira. Infelizmente não tem como escapar. É o lado mais perverso do determinismo. Ao contrário, quem aprende na verdade ama a justiça e detesta à mentira. Não compactuar com o erro, com o mal feito. É honesto e solidário, bom e justo.

Com efeito, nos alerta o filósofo irlandês Edmund Burke (1729-1797): “Para o triunfo do mal só é preciso que os bons homens não façam nada”. Ou seja, é preciso reagirmos a todo tipo de mentira, de preconceito, xenofobia, etnocentrismo. Assim, é preciso combater toda pessoa, instituição ou ideia que apresenta à realidade apenas de uma forma, de um único jeito.

Ao contrário, devemos valorizar sempre o pluralismo de ideias, a diversidade de opiniões, a dialética. Por mais absurdo que pareça ser para algumas pessoas, à diversidade é sinal de democracia, de respeito mútuo, de inteligência. Estes são os meios mais eficazes para à construção de uma sociedade mais humana, justa e igualitária para todos.

Portanto, enquanto existir um negro, uma mulher, um indígena, um pobre, um homossexual, um ateu, um nortista, um estrangeiro, sofrendo preconceito por causa da cor de sua pele, orientação sexual, condição econômica, localização geográfica, etc., não podemos dizer que “o Brasil é um país abençoado por Deus”. Somente quando o brasileiro for respeitado em sua singularidade teremos um país verdadeiramente abençoado por Deus.

Por outro lado, não podemos esquecer que foi o próprio Jesus Cristo que disse: “Eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar.” (Mateus, 25: 35-36)

Por fim, para que isso aconteça é preciso respeitar e acolher as minorias étnicas, os migrantes, os refugiados, os deslocados. Estes são os meios para a construção de um novo país, de uma nova sociedade. Essa é a minha profissão de fé, a minha ideologia, a minha verdade, a minha esperança. Que todos vivam em paz, com saúde, educação, trabalho e uma excelente qualidade de vida para todos, homens, mulheres, crianças, adolescentes e jovens.

*Luís Lemos é filósofo, professor de Filosofia e palestrante

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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