12 de dezembro de 2024

Segurança e saúde, orgulho, tristeza não, resistência (Parte Final)

Na manhã de Natal, conversava com meu vizinho Paulo, mineiro franciscano, que trabalha no combate a pandemia no Amazonas faz alguns meses. O tema sobre governança espiritual corporativa despertou no Amigo uma sentença, na forma de oração: “Você é a Divina Presença que habita em Você! ”

Resolvi apropriar-me da frase e, parafraseando-a no fechamento do artigo, concluir: o Complexo Petrolífero Industrial Geólogo Pedro de Moura é, por sua historicidade, a divina presença que habita em Urucu.

E só a percebemos, quando habitamos aquele coração da Floresta por horas, dias, anos e/ou décadas.

Talvez esteja nessa ação, a força dos Filhos de Urucu: “Aqui, todo mundo guarda a esperança de não vender”.

Ao reler as três partes do artigo que ora concluo, nosso Leitor encontra relatos que pouco discutem ideologias privatizantes ou estadistas. Governança e espiritualidade transcendem tais conceitos.

Ao propor uma leitura realista dos impactos socioambientais que a tecnologia possa diminuir, caminhamos por responder ao questionamento se seremos capazes, em 10 anos, de eliminar o risco em atividades prospectivas.

Houve, há e sempre haverá uma correlação direta entre as tentativas de diminuir o impacto e as escolhas corporativas, ambos modelos irreversíveis.

Recentemente, defendi em minha Tese de Doutorado (dezembro de 2019) o modelo industrial à mineração que respeitasse a Racionalidade Etno-sócio-ambiental, inspirada numa governança espiritual construída numa jornada extrativista, onde a categoria historicidade/espiritualidade consistiria “no acúmulo Ser Temporal de experiências/energias (Energia=Espírito=Energia) ecosocioeconômicas impressas/compartilhadas, positiva, e/ou negativamente, por um grande empreendimento minero-industrial”.

Neste sentido, vender Urucu remete a uma escolha sem precedentes, que jamais poderá ser reduzida a uma transação comercial.

A história da indústria petrolífera, da PETROBRAS e do conhecimento geocientífico na Amazônia, desde os primórdios do Século XX, se entrecortam, dialogam e tornam-se referência tecnológica planetária a partir de Urucu.

A ironia do “legado”, comercial institucional do Governo Federal que busca convencer a sociedade da venda de ativos da PETROBRAS, como Urucu, se contradiz quando encerra: … “nós construímos tudo isso juntos. Com muito trabalho. E suor. Mas, a PETROBRAS precisa seguir um novo caminho. Vamos concentrar investimentos nos ativos de classe mundial, onde conseguimos os melhores resultados […]. O que nós construímos juntos vai continuar transformando o Brasil”.

Quando Carlos Drummond de Andrade profetizou haver uma “pedra no caminho”, não recomendou seguir “um novo caminho” … Que tal respeitarmos que há pedra/pedras no caminho?

Um comercial apócrifo, pois, queiram, ou não, a Petróleo Brasileiro S.A. é uma empresa do Estado brasileiro. Mas, e, talvez, por vergonha, ou outra intencionalidade difusa, o Ministério de Minas e Energia do Governo “Pátria Amada Brasil” não assina o vídeo de 45 segundos.

Reforço a contradição: vender o ativo de Urucu é desfazer-se de uma unidade operacional superavitária, com extraordinárias reservas de gás natural, ainda subdimensionadas quanto aos poucos estudos em nossas continentais bacias sedimentares amazônicas, onde a PETROBRAS alcançou os melhores resultados globais de produtividade por hectare de floresta preservada no mundo.

No caminho havia pedras e a Petróleo Brasileiro S.A. vem reconhecendo e ultrapassando todas.

As cartas de Link (1960) enunciavam pedras no caminho da existência de reservas petrolíferas na Amazônia… e as descobrimos 20 anos depois; disseram que éramos incapazes de produzir óleo e gás natural com governança socioambiental no coração da Floresta… há mais de três décadas a Amazônia é autossuficiente a partir de Urucu/REMAN (Refinaria de Manaus); a indústria petrolífera mundial limitou sua capacidade produtiva de hidrocarbonetos aos campos rasos e profundos… os investimentos em Produção, Desenvolvimento e Inovação da PETROBRAS levaram o Brasil ao patamar tecnológico/produtivo de exportador de conhecimento em águas ultra profundas, nosso Pré-Sal.

Os atuais financistas que dirigem a PETROBRAS tratam a empresa como um país dentro do Brasil.

Quem visita Urucu, entenderá que a PETROBRAS é o Brasil que deu, dá e dará certo. Sua historicidade é um Símbolo Nacional resultado do trabalho, conhecimento, saúde, segurança e resistência dos Filhos de nossa Pátria Amada.

Concluo, convidando nossos leitores, representantes municipais, do Ministério Público Estadual e Federal, dos Tribunais de Contas, do Governo do Amazonas, dos ministérios do atual Governo Federal, do Conselho de Administração da PETROBRAS, do Conselho da Amazônia, do Congresso Nacional, da Assembleia Legislativa e do Supremo Tribunal Federal a visitarem nossa Unidade Operacional Geólogo Pedro de Moura, de forma a reconhecer aquele trabalho hercúleo de uma Empresa de Capital Social e Ambiental nacional, conversar com os “filhos e filhas de Urucu”, antes de qualquer decisão estratégica que seja assinada/tomada.

Como, no momento atual, ninguém no Amazonas sabe como estão sendo feitas tais tratativas, tomei uma decisão sobre a escolha da cor com que passarei a virada do ano de 2020-2021. Vou vestir a cor “laranja PETROBRAS”, em atenção e carinho ao tema que aqui discuto, reverberando o grito de Urucu: Aqui, todo mundo guarda a esperança de não vender”.

Afinal, quando dizem “ser a esperança a última que morre”, aprendi com a leitura de um excelente livro do escritor Paiva Netto, que recomendo, e traz por título: “A esperança não morre nunca” (www.paivanetto.com/esperanca).        

Daniel Nava

Pesquisador Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM

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