Presidente Bolsonaro, sabemos que o senhor não pôde conhecer tanto a Amazônia quanto o senhor certamente gostaria de conhecer, tanto pela magnitude da região quanto pelo pouco tempo que o senhor teve por ter que cumprir seus 7 mandatos em Brasília por cerca de 30 anos.
Até os pesquisadores que se envolveram diretamente no estudo da Amazônia por muitas décadas, também não conseguiram dominar seu enorme e múltiplo conteúdo.
Mas sempre que o senhor puder, mesmo com sua extensa e importantíssima agenda na condução do executivo do nosso Brasil, ouça os 26 milhões de amazônidas: tanto os 18 milhões que moram nas áreas urbanas quanto os 8 milhões das áreas mais afastadas do interior.
Se o senhor puder, os ouça em separado, porque suas falas são diferentes.
Para a Amazônia dos 18 milhões urbanos, o escutar pode ser baseado nas mesmas políticas públicas urbanas iguais às das demais cidades do Brasil como Glicério ou Campinas, onde o senhor nasceu, que tratam sobre emprego, saúde, educação, segurança e mobilidade, por exemplo – suas falas são muito parecidas. Todos eles têm pouca relação com a floresta e sua riqueza é gerada principalmente pela atividade urbana.
A outra Amazônia, a dos 8 milhões do interior, terá outras falas e muita relação com a floresta, e talvez o senhor possa compreender melhor porque depois de tanta riqueza gerada na região nos últimos 30 anos com a madeira, a mineração, o gado e a soja, por exemplo, estes amazônidas ainda não conseguiram participar desta prosperidade – algo deve estar errado, e eles talvez possam falar-lhe porquê.
Não teria sido possível produzir esta riqueza sem remover a floresta e é preciso continuar gerando riqueza. Será necessário substituir mais floresta, além da área já desflorestada que é do mesmo tamanho do Mato Grosso do Sul, mas o resultado previsível, a continuar como foi feito até agora, e sem ouvir os seus povos, deverá ser o mesmo.
Ao ouvi-los, o senhor poderá falar e agir por eles a partir das verdades deles, e certamente milhões de outros brasileiros que estão atentos à Amazônia ouvirão o senhor como porta voz legítimo destes amazônidas.
Fala-se que a Amazônia tem sido abandonada, e por isto tem favelas, muita pobreza e meninas que engravidam aos 14 anos, mas não dê ouvidos à estas narrativas, Presidente.
A Amazônia não gera favelas, porque se assim fosse, não haveria favelas no Rio ou em São Paulo, que não têm Amazônia.
A Amazônia também não causa pobreza, porque o Nordeste também tem pobreza e não tem Amazônia.
A Amazônia tem meninas grávidas aos 14 anos, mas Fortaleza e Curitiba também as têm, e lá não tem Amazônia.
Como se vê, favela, pobreza e meninas grávidas não têm relação com o local.
É certo que a pobreza da Amazônia somente será diminuída se houver a geração de mais riqueza, mas o resultado da distribuição até agora nos ensina que, de fato, algo está errado.
Queremos ser ouvidos, Presidente, porque até hoje os que falaram por nós não disseram as nossas verdades.