4 de outubro de 2024

Pelos rios do amazonas

Há um pouco mais de duas décadas o transporte para longas distâncias pelos rios do Amazonas começou a ser mais setorizado entre cargas e passageiros. Onde antes somente havia transporte misto, agora começa a existir o transporte exclusivo para passageiros em lanchas cada vez mais rápidas. Infelizmente, a rapidez passa pelo aumento de força das máquinas propulsoras. O transporte misto continua acontecendo, até porque o espaço na embarcação é maior, no entanto quem deseja chegar mais rápido por água, usa a chamada “lancha rápida” que poderíamos chamar de ônibus aquático. Este tipo de lancha, que até pouco tempo era usado apenas para curtas distâncias, hoje é utilizado em viagem de mais de 30 horas ininterruptas.

A partir de Manaus, talvez a viagem mais demorada seja a para Tabatinga, via rio Solimões, passando por várias cidades ribeirinhas, mas não parando em todas. Vamos pegar como exemplo a lancha “Glória de Deus III” que costuma sair de Manaus às 6 horas para chegar a Tabatinga às 16 do dia seguinte. Com um conforto para passageiros um pouco maior que de um avião, tem uma cabine de passageiros climatizada com 95 lugares, propelida por dois motores diesel de 500 cavalos cada. Ainda existe o motor do gerador de energia de 45 kwa que garante a climatização, principalmente. Equipada com 3 banheiros, uma minúscula cozinha onde são preparados o café da manhã, almoço e jantar. As opções de refeições são limitadas, porém bem preparadas naquele cubículo de dois por dois metros, aproximadamente. No entanto a lancha tem seu gasto principal no combustível. 10.800 litros de óleo diesel são consumidos nos dois trechos da viagem. Os oito tripulantes fazem o trajeto de ida e volta e, depois recebem uma folga de vários dias.

Existem muitas marcas de motores propelindo os barcos e lanchas pelos rios, desde os alemães Mercedes e MWM, passando pelo americano Caterpillar e encontrando a preferência nos japoneses Yanmar e Mitsubishi, para citar apenas alguns. Destas máquinas é exigida uma aceleração constante próxima 2.200 RPM na subida do rio, e menos de 2.000 quando desce a favor da correnteza. Isso tudo para manter uma velocidade média de 28 milhas náuticas, algo em torno de 43 km/h. Isso explica a distância entre o ponto de chegada e o destino, em uma das direções dos rios do Estado do Amazonas. Nas embarcações mistas é exigido menos dos motores que por isso duram mais.

Porém existem lanchas rápidas ainda maiores que a que citamos. Para participar do projeto Literatura Caminhante, que acontece em muitos lugares, porém no mês de janeiro na cidade de Tefé, utilizamos a lancha referida para chegar à cidade. A volta, no entanto, aconteceu a bordo da lancha Madame Crys, de 114 passageira, propelida por dos motores de 650 CV cada. 

Para aqueles que não conhecem, o rio Solimões, apesar de ser “apenas” tributário se confunde com o Amazonas em largura e correnteza. Em alguns locais tem mais de 11 km de largura, na seca, podendo chegar a cerca de 50 na cheia, com a invasão das várzeas.  Some-se a isso, que somente no lado brasileiro, desde o Peru, tem cerca de 1.500 km até sua foz (1.110 em distância aérea) e teremos um formidável volume de água. Não é sem motivo que o escritor Paulo Queiroz se refere a ele como “invasor de pátrias”. 

Ainda voltaremos a esse assunto, uma vez que tudo no Amazonas é enorme e, por isso mesmo, este curto artigo só serve para despertar a curiosidade dos que pouco conhecem sobre a região e os seus rios.  Ainda não falamos do Rio Negro, que no lado brasileiro, desde a Colômbia fica a cerca de 900 km de Manaus, aumentado em muito se for acompanhando os rios.

Luiz Lauschner

é empresário

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