26 de julho de 2024
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Parintins. O folclore e o inusitado

O dia a dia nos surpreende, vez por outra, com fatos inusitados. Parintins é o berço de tudo o que envolve o imaginário, as lendas, as crenças, os mitos e, consequentemente, os mistérios e o lúdico. Na Terra Encantada dos Deuses tudo acontece, da “cobra grande” ao “boto vermelho”, perguntem a Jair Mendes, Juarez Lima e Chico da Silva, mestres dos Bumbás. 

O que tenho para contar aconteceu com um amigo de Força Aérea, hoje Coronel da Reserva Remunerada, cumprindo missão pelo Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV), no início da década de 2000, no Aeroporto Júlio Belém e o ocorrido é sempre lembrado em nossos fortuitos encontros.

À época, ele era Major e, acompanhado de outro Oficial e da tripulação, transportava no Força Aérea 2286, avião laboratório do GEIV, o equipamento de auxílio à navegação aérea (VOR), a ser instalado para orientar as aeronaves que apoiavam o festival folclórico. Curioso para conhecer algo sobre a festa, soube que, naquele dia, aconteceria em Parintins o chamado “boi de rua”, quando as agremiações percorreriam a cidade em festa, cumprindo o ritual dos primórdios das tradições parintinenses.

Seus pertences foram deixados no hotel da forma que chegaram. A curiosidade aguçava os sentidos. Nada de cama e descanso: boné na cabeça, tênis, bermuda, camiseta. Era momento de conhecer a magia tão decantada da Ilha Tupinambarana.

Lá estava ele, ilustre desconhecido, em início de tarde, atento a cada movimento na cidade, a princípio parecendo mais calma do que o apregoado, com um número razoável de lojas, considerando-se uma Ilha de rio no interior do estado, na região norte do país.

Afastou-se um pouco da parte central da cidade, caminhando por uma rua asfaltada, o que significa dizer de duzentos a trezentos metros. À direita, lojas e casas. À esquerda, o soberano Rio Amazonas, grandioso, imponente e mansamente perigoso.

Uma balsa aportou na beira do rio iniciou o desembarque de passageiros e bois, estes agrupados num terreno cercado para serem levados ao matadouro local. Envolvido em divagações e displicente como observador sem compromisso, percebeu que a movimentação popular de repente aumentou. Viu um levantar de poeira e pessoas correndo em direção contrária à que seguia. “Olha o boi”, gritavam, em sua correria.

Imediatamente recordou das palavras que ouvira no aeroporto. Era o “boi de rua” acontecendo. Atento, parou para observar com atenção o desenrolar da festa, imaginando algo parecido com a “farra do boi” em Santa Catarina. Aos poucos, porém, sentiu que alguma coisa não estava justa e um calafrio percorreu sua espinha.

Percebeu, estupefato, o que acontecia: boi de rua? Nada. Era o estouro da boiada, há pouco desembarcada, aproximando-se célere. Arisco, rapidamente deu meia volta, correndo como nunca na vida, em velocidade tal que poderia bater o recorde mundial dos cem metros rasos, tal o desespero, a surpresa e a falta de opções para salvar a pele.

A sorte providencial, o grito e a mão salvadora de uma moradora local, observando a situação pela janela de sua casa, apontando para um vão de parede protegeram o visitante e afastaram o perigo. A Providência Divina na ação da maravilhosa senhora. Afortunado segundo ou fração dele. A manada passou avassaladora.

Por pouco o ilustre desconhecido deixou de ser primeira página de jornal. Ofegante e assustado. Um calafrio de terror percorrendo de ponta a ponta a coluna vertebral do Militar. Pernas trêmulas. Um gosto amargo na boca. Pálido e mudo. Paralisado por incontáveis segundos, mas a salvo das patas e cascos da boiada desgarrada. A gargalhada geral e as gozações foram o prato feito do dia ao chegar à pousada e contar o ocorrido.

À noite, refeito do susto, passeando despretensiosamente pela cidade, qual não foi sua surpresa ao observar a evolução dos dois bois na Avenida Amazonas, em frente à catedral de Parintins. A curiosidade o fez perguntar sobre o evento e recebeu a explicação de que aquela era a apresentação dos Bumbás às vésperas do Festival Folclórico, o conhecido “BOI DE RUA”.

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