13 de outubro de 2024

Os “parasitas” como protagonistas

Divulgação

Realmente o mundo dá muitas voltas. Quem diria? Hoje, na linha de frente do enfrentamento ao coronavírus, não vemos engravatados, banqueiros, nem o pessoal do chamado mercado financeiro. Não vemos nenhum daqueles que tentaram jogar na lama a imagem daqueles que trabalham para servir ao público, aí incluído parcela da mídia e seus espaços generosos pra divulgar matérias e reportagens contra os servidores e até contra os serviços públicos.

Na linha de frente estão os servidores públicos das mais diferentes áreas, especialmente os da saúde, que arriscam as suas vidas e a dos seus familiares para salvar vidas, além dos que estão na retaguarda, trabalhando para manter a máquina pública funcionando.

Que ironia! Os que foram recentemente chamados de “parasitas” são a nossa esperança. Antes fomos acusados de tudo, éramos um peso pra sociedade, um estorvo, um grupo que trabalhava pouco, um bando de preguiçosos que ganhava muito e que consumia os recursos que deveriam ir, imagino, para o pagamento dos juros absurdos da dívida pública e para os financiadores e defensores do chamado neoliberalismo e do Estado mínimo.

Como disse Paulo Planet Buarque em artigo publicado, “De repente, não mais que de repente, todos os problemas brasileiros – seu eterno "déficit" público, a corrupção, a sonegação fiscal, a injusta distribuição de renda, a incompetência administrativa, tudo – passaram a ter no servidor público a sua causa principal, senão única”.

“Toda a mídia concentrou no serviço público a razão maior dos males nacionais, sendo as reformas administrativa e previdenciária absolutamente imperiosas: eis que, a partir da aprovação das mesmas, por fim os governos passarão a ter os recursos indispensáveis para o investimento e o desenvolvimento”.

Bem antes do episódio dos parasitas, fomos bombardeados por reformas e pela possibilidade de redução de salários, pelo possível esvaziamento dos serviços públicos, além de discursos difamatórios, que jogaram a sociedade contra nós. A mesma sociedade que hoje luta contra a falta de leitos, de respiradores, máscaras, álcool, testes rápidos e de materiais de proteção para os profissionais da saúde.

Antes mesmo das eleições presidenciais chegaram até a classificar como “jabuticabas brasileiras” o direito ao décimo terceiro salário e abono de férias. E outros insistem em defender padrões existentes em outros países, inclusive os EUA, que não oferece saúde pública à população, e onde um simples teste do coronavírus custa o equivalente a R$ 5 mil reais.

Diante das mortes e das infecções, temos mais uma certeza: a necessidade urgente de se valorizar o Sistema Único de Saúde (SUS) e os serviços públicos. Como disse Hélcio Marcelino, do SindSaúde-SP, mesmo sucateado, tendo perdido mais de R$ 20 bilhões para o pagamento de juros só no ano passado, o SUS ainda consegue oferecer tratamento para a população.

 “Se não fosse o SUS e seus trabalhadores, a situação seria muito pior no Brasil. Muito pior que a da Itália e da Espanha, onde a gente vê as pessoas sendo internadas em casa, e os médicos sendo obrigados a escolher quem vai viver e quem vai morrer para colocar no respirador”.

É neste momento que a sociedade verá a importância dos servidores, verdadeiros protagonistas nessa luta, heróis anônimos que se arriscam, enquanto os nossos algozes estão refugiados nas suas mansões, acovardados, e talvez arrependidos.

*Augusto Bernardo Cecílio é auditor fiscal e professor

Fonte: Augusto Bernardo

Augusto Bernardo

é auditor fiscal de tributos estaduais da Secretaria de Estado da Fazenda do Amazonas e educador. Foi um dos fundadores do Programa Nacional de Educação Tributária (atualmente nomeado de Educação Fiscal).

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