A execução de planos de inovação tecnológica tem no fator humano a sua força motriz. A inovação é o processo através do qual conhecimentos esparsos nas mentes e cérebros dos indivíduos e grupos de consorciam para gerar aquilo que ainda não existe. Essa não existência diz respeito tanto àquilo que existe em outro lugar, mas que não faz parte de determinada realidade, como aquilo que não existe em lugar nenhum. O que não existe aqui, mas existe ali, é inovação que se processa de determinada maneira, através de aquisição ou imitação; o que não existe em lugar nenhum, por seu turno, precisa passar pelas etapas clássicas da geração do novo. Em ambos os casos, o fator humano é fundamental. É por essa razão, dentre outras, que a etapa de execução dos planos elaborados nas etapas anteriores também é chamada de direção. Dessa maneira, o que os gestores fazem na execução dos planos de inovação é dirigir os esforços de seu quadro de colaborares para o alcance dos objetivos e metas determinados. Este ensaio tem como objetivo apresentar os três instrumentos que os gestores utilizam para executar qualquer plano de inovação.
Os gestores profissionais utilizam três ferramentas fundamentais para fazerem convergir os esforços de seu quadro de colaboradores em direção ao alcance dos objetivos e metas pretendidos pela organização e que foram por eles construídos. Liderança, motivação e comunicação são essas ferramentas, cada qual com uma finalidade diferente mas que, no conjunto, formam uma unidade cujo termo que mais adequadamente a traduz é direção. Essas ferramentas não apenas apontam a direção, como também as mantêm. São como colas que unificam os esforços tanto dos indivíduos quanto grupos de indivíduos, além dos instrumentos não humanos para tal, como os processos e tarefas executadas por robôs e inteligência artificial.
A motivação é a energia interna que leva os indivíduos a fazerem alguma coisa. Todos têm pelo menos um motivo, uma razão muito forte para despenderem partes substanciais dos seus tempos de vida envidando esforços para materializar alguma coisa. Alguns o fazem por dinheiro. Gostam de dinheiro e, por isso, são capazes de suportar estresses prolongados e situações adversas pelo seu intento. Mas outros o fazem por motivos considerados mais nobres. Há cientistas, por exemplo, que se emocionam todas as vezes que suas ideias são materializadas e cumprem o papel que, antes, só existiam em suas mentes. O que os movem, nestes casos, são a possibilidade real de que aquela inovação criem valor, façam o bem para o seu público-alvo. Os gestores precisam conhecer os diferentes motivos pelos quais seu pessoal se empenha por realizar feitos para retribuir-lhes na medida adequada. Ninguém faz nada sem motivo. E todo motivo precisa ser retribuído porque a retribuição é a energia que retorna às mentes inovadoras.
A liderança, por seu turno, é o instrumento de ligação das pessoas. Se a motivação age individualmente, a liderança é, no mínimo, grupal. Ninguém lidera somente a si. Liderança é fenômeno relacional; motivação é individual. Líder e liderado(s) formam uma unidade orgânica que multiplica a capacidade individual de fazer coisas. Ainda que haja líderes que confundem liderança com autoridade ou dominação, uma parte significativa, já composta por gestores profissionais, pratica o mecanismo da servilitude. Servilitude é tanto atitude quanto virtude de servir. Neste particular, o líder é “obedecido” porque é referência para o(s) liderado(s). E referência significa, em termos gerais, seguir um acordo que, em linhas gerais, o líder supre as necessidades dos liderados para que, em troca, os liderados possam se dedicar apenas ao fazer, à materialização da inovação. O líder é líder porque é capaz de fazer com que nada falte à sua equipe.
A comunicação, finalmente, é o instrumento utilizado pelos gestores para proporcionar todos os tipos de conhecimentos necessários para que dúvidas e ambiguidades alcancem o patamar mínimo durante o processo de inovação. Não existe dúvida e ambiguidade zero, mas o máximo tolerável, que é aquela quantidade e intensidade que não compromete a execução das atividades e também suas melhorias e até mesmo eliminação, se desnecessárias. Comunicação é outro fenômeno relacional. E, como tal, precisa seguir o esquema cliente-fornecedor, por exemplo. O destinatário é quem determina os padrões comunicacionais, cabendo ao emissor não apenas segui-los, mas fundamentalmente aperfeiçoá-los constantemente. Essas melhorias contínuas são necessárias para que, tanto horizontal quanto vertical, diagonal e ambientalmente, sejam garantidos os fluxos constantes das transmissões e disponibilidades de conhecimentos para os membros das equipes de inovação.
O desafio da execução é, portanto, manter o máximo da energia inicial do projeto de inovação a partir de um esquema de suprimento de necessidades (físicas e extrafísicas) por parte dos líderes de equipes e de unidades de negócio por meio de um esquema de comunicação capaz de reduzir ao máximo as dúvidas e ambiguidades, naturais em todo esforço humano cooperativo. O dirigente (também chamado líder) de esquemas de inovação só é dirigente porque é o indivíduo com maior capacidade de suprimento de demandas físicas, como materiais e insumos para a execução dos projetos, e principalmente extrafísicas, como o desânimo, as frustrações e toda sorte de demandas dessa natureza.
O que se pretende mostrar é que os fatores humanos são as peças-chave em toda organicidade dos processos de inovação. O quadro de pessoal precisa ser o foco central de toda a atenção, por inúmeros motivos, tais como a dificuldade de se encontrar indivíduos com conhecimentos e habilidades, tempo exageradamente longo para aquisição dessas habilidades e conhecimentos e alto custo envolvido. Inúmeros casos de sucesso têm mostrado, inclusive, que as pessoas precisam ter retornado para elas a maior parte dos resultados auferidos, tanto financeiro quanto de outras naturezas. Retribuir ao máximo é, ao que tudo indica, a garantia máxima de que as inovações aparecerão. E também de forma inovadora.
*Daniel Nascimento-e-Silva, PhD, Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
Fonte: Daniel Nascimento