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Olavo de Carvalho e a política

Eu estava nos últimos anos do ensino médio quando um ex-colega de turma me abordou perguntando se eu já tinha ouvido falar em Olavo de Carvalho. Com a minha negativa, este colega foi categórico e sarcástico: “é um velho doido que saiu do Brasil para viver nos Estados Unidos e hoje vive pedindo ajuda pela internet”. O que me deixou em estado de alerta não foi a suposta mendicância do agora expatriado, mas a sua categórica loucura. A conversa não parou por aí. O mensageiro disse-me que o velho tinha um site chamado Mídia Sem Máscara.

Nas minhas primeiras leituras dos artigos indexados no site descobri que estava diante de um material diferente de tudo que lia no marcado jornalístico. Denúncias contra a esquerda, especialmente o Foro de São Paulo, manipulação midiática, elites globalistas, enfim, tudo estava ali às claras. Eu era de esquerda, mas apesar de tudo sempre tive um grande interesse pelo debate público – uma curiosidade que, aliás, nunca se afastou de mim.

Anos mais tarde, descobri um programa de rádio pela internet – sim, um dos primeiros podcasts de que tenho conhecimento – criado por Olavo de Carvalho. O True Outspeak tinha uma abordagem diferente, pois mesclava notícias diárias com análise política. E o que mais me interessava no formato era um senso de humor e a zombaria misturada com técnica filosófica. Aquilo, por algum motivo, me fazia lembrar as aulas na UFAM, onde alguns professores ensinavam em meio aos palavrões e piadas sem, contudo, perder de foco o conteúdo seriíssimo da aula. Olavo também foi um dos pioneiros do que hoje chamamos de ensino híbrido. As aulas do Curso Online de Filosofia (COF) eram ministradas diretamente dos EUA.

O anticomunismo de Olavo de Carvalho era arquiconhecido. Em sua atividade jornalística nos grandes jornais do país soube expor as suas opiniões políticas contra o status quo universitário e os intelectuais de esquerda, como Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder, Alaor Caffé, Muniz Sodré, Emir Sader entre outros. O Olavo polemista ganhou muitos adeptos e seguidores. Primeiramente, leitores de seus artigos nos jornais e revistas; depois, dos seus livros – “Nova Era e a Revolução Cultural”, “O Jardim das Aflições” e “O Imbecil Coletivo” – da década de 1990 e o best-seller “O Mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, cujas tiragens estão na casa dos milhões de cópias.

Olavo foi o criador da nova direita brasileira. Refiro-me ao termo “nova direita” como expressão de duas tendências convergentes: a primeira, relacionada à introdução de influências anglo-saxônicas do liberalismo e do conservadorismo; a segunda, como uma manifestação da assim chamada guerra cultural. O somatório de neoliberalismo econômico, conservantismo ideológico e estratégia de guerra revolucionária dão sustentação política e ideológica à nova direita. O crescimento do bolsonarismo, do lavajatismo, do nacional-populismo nas Europa e nos EUA fortaleceram e deram mais sentido ao zeitgeist que se anunciava.

A influência de Olavo na eleição de Bolsonaro foi decisiva. E hoje, mais do que nunca a frase de Auguste Comte faz sentido: “os vivos são sempre, e cada vez mais, governados pelos mortos; tal é a lei fundamental da ordem humana”.

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