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Objetivos dos problemas

Os administradores dizem que um objetivo é toda situação futura desejada. É desejo enquanto permanece na mente do indivíduo como descrição de algo ainda atemporal. Tem-se uma imagem mental daquilo que é desejado, primeiro requisito para que se tenha um objetivo. O segundo é a dimensão temporal, que exige que aquela descrição seja passível de ser construída de agora para diante e se materialize em determinado momento. Não basta, então, que se tenha uma fotografia do futuro. É preciso que sua materialidade possa ser datada, caso se comece a construí-la hoje. Se a construção acontecer em ritmo acelerado, o futuro se aproxima; se mais lentamente, ele se distancia. Isso demonstra, de outra forma, que a realidade, aquilo que existe, está vinculada ao tempo, naquilo que os cosmólogos chamam de dimensão espaço-tempo. É justamente a partir desse esquema lógico que os objetivos dos problemas de pesquisas precisam ser compreendidos.

Do ponto de vista da ciência e da tecnologia, um objetivo é o resultado final pretendido pela investigação. Note que o termo “resultado final” é outra maneira de dizer “situação futura desejada”. É preciso notar, também, que quando afirmamos “resultado final” estamos também nos referindo, por dedução, que existem resultados “não finais”, parciais, temporários, intermediários e assim por diante. Não importa o nome que se lhes dê. O que importa é saber que eles não são os resultados finais enquanto situação futura desejada. Algumas vezes essas situações intermediárias se comportam como elementos, partes, componentes da situação futura desejada, quando executadas nos esforços de produção tecnológica, ou explicações parciais, provisórias, que vão ser utilizadas para a produção da explicação total pretendida, nos casos das investigações científicas.

Isso denota que as explicações científicas, que são os resultados finais pretendidos por todo e qualquer projeto de ciência, são construções humanas. Ainda que a explicação seja a descrição dos elementos que compõem o coronavírus, que é algo que existe na realidade, essa explicação (e não o vírus) é uma arquitetura, uma armação, uma construção, uma invenção humana. Se 100 cientistas fizerem, cada um separadamente, uma descrição, nenhuma delas será igual, mas a diferença entre elas não vai ser muito acentuada. Isso também ajuda a entender a ideia de erro, que é a diferença entre a explicação que o cientista dá e aquilo que a realidade efetivamente é. Aliás, isso também ajuda a entender o que Kant quis dizer quando afirmava que não podemos conhecer a coisa-em-si.

O fato é que os objetivos nos levam a entender a necessidade de sintetizar o que se pretende com a investigação. É por isso que a prática científica e tecnológica exige que a frase construída não pode ter mais do que duas linhas. A razão disso é que sujeito + verbo + complemente devem ser suficientes para gerar a compreensão. É um imperativo da ciência, uma regra. O motivo mais próximo dessa lei é óbvio: objetivos longos denotam falta de clareza acerca do que os pesquisadores pretendiam alcançar. Uma coisa é dizer “Medir o grau de letalidade do coronavírus em população ribeirinha amazônica” e outra é “Refletir sobre os possíveis posicionamentos que as pessoas que têm maior participação política no desenvolvimento político, econômico e social de suas comunidades e que agora estão se sentindo menosprezados pelas políticas descaracterizadoras dos avanços obtidos durante o período de ouro da história do Brasil”.

Quando dizemos “Criar um medicamento capaz de curar o coronavírus durante os primeiros 5 dias de sintomas” a compreensão é quase que imediata. Mas se digo que pretendo “Desenvolver um recurso educacional que permita que os alunos desprestigiados pelas aulas tradicionais e que estejam em situação de abandono social possam refletir sobre as suas situações e consigam desfazer as amarras de suas dependências históricas” talvez seja necessária outra investigação apenas para tentar entender a frase. Um objetivo, para que possa ser assim considerado, não pode precisar de explicação. Quando o presidente Kennedy afirmou que “Até o fim do século colocaremos um homem na lua e o traremos de volta em segurança” praticamente todos os americanos o entenderam e aprovaram a proposta.

A mesma regra de clareza e síntese exigida para o objetivo geral, situação futura desejada, também é válida para os objetivos intermediários. É possível elaborar os objetivos parciais em sequência cronológica, especialmente para as investigações tecnológicas. Contudo, para as científicas, isso não é recomendado. Aliás, na maioria das vezes deve ser impedido. A razão é simples: objetivos específicos de ciência quase sempre se fazem sobre as categorias analíticas. É preciso entender isso porque a finalidade da ciência é sempre gerar explicações acerca dos fatos e fenômenos do mundo. E isso é feito preenchendo-se lacunas, expandindo-se as fronteiras e aprofundando-se o tecido do conhecimento. E como se faz isso? Explicando as dimensões e demonstrando a pertinência ou não das suas categorias, como será mostrado mais adiante.

Quando o objetivo da investigação é elaborado de forma adequada, basta um procedimento singelo para transformá-lo no título da comunicação científica. Para quem não tem familiaridade com a ciência não imagina o quanto isso é importante. O título tem que ser a síntese da síntese da síntese. A primeira síntese é a introdução da comunicação, a segunda é a conclusão e a terceira é o resumo. O título vai sintetizar mais ainda toda a informação. Se desejo “Analisar se a percepção de estudantes de ensino médio de um instituto federal rejeita ou aprova as políticas da instituição”, basta fazer pequenas alterações nessa frase para transformá-la em título. Por exemplo “Análise da percepção dos estudantes de ensino médio acerca das políticas de sua instituição”. Simples? Sim. Fácil de fazer? Nem tanto.

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