26 de julho de 2024
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O vírus mais mortal – Parte 1

Em tempos de reclusão em função da pandemia, me vi a navegar e receber mensagens nas redes sociais, algumas, repletas de amor e solidariedade, outras, repletas do ódio político-ideológico…

É assim. Somos uma humanidade plural, ecumênica e em evolução, enquanto civilização.

Passado o primeiro mês da pandemia no Brasil, no momento em que ela começa a escrever os obituários nos jornais brasileiros, assistimos: um discurso presidencial irresponsável; uma teleconferência entre gestores públicos descompromissada com o interesse da promoção de saúde; um ministro da saúde equilibrado tendo que agir como um representante do Corpo de Bombeiros, ‘apagando fogo’; empresários ‘falidos’ em menos de 48 horas depois do início do isolamento social, histéricos, coletivamente, querendo nos convencer que nossos 7.000 hambúrgueres consumidos são mais importantes que 7.000 velhinhos, que terão morrer mais dia, menos dia.

Foi um final de mês de março decepcionante e, por isso, resolvi escrever este artigo pensando: qual será o vírus mais mortal neste momento da pandemia?

 Seria o vírus da irresponsabilidade de um líder, sucumbido às pressões ideológicas e de mercado, incapaz de perceber que, suas palavras, ditas em rede nacional, poderiam arrastar multidões de pessoas a se exporem, desnecessariamente, no período do calendário no Brasil no qual a curva do gráfico dos infectados começa seu crescimento exponencial? 

A partir da fala do ministro da Saúde, no dia 24 de março, segundo o qual “há vários brasis dentro do Brasil”, me perguntei: será o nosso Sistema Único de Saúde – SUS e nosso sistema hospitalar privado no território brasileiro ‘atléticos’ o suficiente para suportarem a letalidade de pacientes doentes que, simultaneamente, desrespeitarem recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o isolamento social? 

No Direito, há o princípio da precaução, e vidas humanas não podem ser tratadas como uma aposta da política de saúde pública. 

Numa guerra como a que estamos enfrentando, cada vida que perdemos pelo ataque letal do novo Corona vírus, tem o mesmo valor que nos mostra uma recente propaganda de uma das empresas de cartão de crédito – “não tem preço”.

Li, estarrecido, nas redes sociais, pessoas de bem, compartilhando postagens questionando o porquê de os moradores de rua não pegarem o Corona vírus. Meu Deus, não sabem estes insanos, que tais populações, vulneráveis sociais, sequer fazem parte das estatísticas oficiais? Nascem, vivem, morrem, são enterrados, na invisibilidade de nossos olhos, como se fosse natural não nos incomodarmos com alguém que pede ajuda nas ruas, ou dorme nas sarjetas…

Talvez a pandemia e a quarentena nos despertem a humanidade adormecida dentro de nossos corações.

Tentando responder a pergunta de partida do artigo, seria o vírus mais letal o da indiferença de um capitalismo selvagem, reproduzido pelo discurso desumano de um empresário, ao colocar na porta de seu estabelecimento cartaz que exibia, em letras garrafais, o prato do dia: “O BRASIL NÃO PODE PARAR POR CONTA DE 5000 OU 7000 PESSOAS QUE VÃO MORRER  🙂 ” ?

Nunca tive a oportunidade de comer neste estabelecimento comercial, mas, já decidi que, ao longo da minha vida, nunca vou entrar para me alimentar nele e, se possível, evitarei passar perto. Fiquei intoxicado pelo alimento servido, só de ler o cardápio escrito na porta…  (Continua)

*Daniel Borges Nava é geólogo, analista ambiental e professor doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade na Amazônia

Fonte: Daniel Nava

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