10 de dezembro de 2024

O absurdo caso Eletrobras

Aristóteles Drummond

  O clima de irresponsabilidade no trato de questões de relevante interesse nacional precisa ser avaliado pela sociedade.

A Eletrobrás, empresa que mesmo no período estatal foi exemplar na construção do formidável parque gerador de energia de que o Brasil dispõe, incluindo a construção da binacional Itaipu, foi privatizada em concurso público aprovado pelo Congresso Nacional sob aplausos da opinião pública. O controle é pulverizado, como ocorre nas maiores empresas do mundo.

O governo Lula, a partir do próprio presidente da República, achou por bem questionar a venda, o pacto de acionistas, os estatutos da empresa e os fundamentos que orientaram os investidores, inclusive muitos milhares pela via da Bolsa de Valores. Cada declaração de autoridades afeta a empresa e coloca em risco projetos importantes para o país. A Eletrobrás é responsável pelo parque gerador de energia limpa e renovável que nos dá conforto ambiental na área, atende a um quarto do mercado consumidor e 40% das linhas de transmissão. Tem projetos importantes no Uruguai e com a Argentina.

A direção da empresa é de excelência, com gestores com invejáveis currículos. Peca, entretanto, pela total falta de sensibilidade nas relações institucionais, bem diferentes de outros setores. Passaram pela empresa com sucesso,  homens públicos relevantes como  Mário Behring, General Costa Cavalcanti, José Luiz Alquéres, José Antonio Muniz Lopes, Aloísio Vasconcelos. Dois, inclusive, com passagem no Congresso Nacional. Lidar com governos, preservar a imagem institucional e prestar serviço público essencial na vida do cidadão e da economia nacional não pedem mestrados. O desastre da Light evidenciou o mesmo erro na relação com a sociedade.

Recente problema no exemplar sistema interligado nacional, admirado em todo mundo, superior, por exemplo, ao sistema dos EUA, foi tratado pelo governo de forma política, quando foi problema técnico, como ocorre em todo mundo e ocorrerá sempre.

Semana passada foi a vez de o Judiciário contribuir para os absurdos que comprometem a credibilidade e a segurança jurídica de todo o país, ao interferir no plano de desligamento de funcionários por 15 dias, em inaceitável ingerência em assunto interno e administrativo. A empresa precisa adequar seu quadro às necessidades e tem sido correta no plano de desligamento voluntário. Tudo estará esclarecido em dias, mas fica o clima das interferências insólitas, descabidas e desnecessárias.

O assunto não pertence apenas ao equivocado governo, e nem à inábil empresa. Deixá-la trabalhar, investir, cumprir seu papel em serviço essencial para nosso progresso econômico e social é importante. A esquerda esclarecida, em todo mundo, deixou de defender o estado obeso  e em áreas próprias para a gestão privada, como é o caso da ELETROBRAS. 

Falta interlocução com a sociedade na empresa e falta vozes nas elites empresárias em defesa do papel da livre iniciativa na vida nacional. No governo, sobram idiossincrasias com o setor privado.

Que saudade de Rui Gomes de Almeida!

Aristóteles Drummond

É jornalista e presidente da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro

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