12 de dezembro de 2024

De Natal, Amor e Família

Desde criança tenho ouvido críticas aos exageros associados ao Natal e a outros festejos. Meus pais, por exemplo, nunca nos deram presentes de Dia das Crianças, por entenderem a superfluidade de uma data que deveria ser, como meu pai dizia: todos os dias. Em relação ao Natal incorporei desde cedo a visão fraterna do Conto de Natal de Charles Dickens, uma obra prima literária de grande profundidade existencial, que relata a transformação do velho rico, razinza e sovina Scrooge num ser humano redimido.

Além disso, os ensinamentos da Igreja me orientaram no sentido do verdadeiro significado natalino: celebrar o nascimento de Jesus Cristo. E a pergunta que me faço todos os anos é a de que como posso e devo celebrar o Natal. Um questionamento que incorpora cada vez mais elementos de reflexão e oração. E diálogo em família, especialmente com minha esposa. As respostas podem ser um pouco diversas na forma, mas semelhantes no conteúdo de amor.

Neste ano, depois dos percalços dos eventos pessoais e familiares dos últimos tempos, em que a pandemia de Covid 19 assolou de modo impactante a todos nós, este questionamento de celebração do Natal se destaca. De fato, o coronavírus se enfronhou em nossas vidas como um membro indesejado de nossos relacionamentos, uma ameaça oculta sempre presente, um inimigo que pode estar em qualquer lugar, a nos fazer sofrer por nós e pelos outros. E celebrar o Natal com nossos familiares próximos parece exorcizar de nossas existências, ainda que por alguns momentos, este terrível adversário.

O encontro familiar natalino, por menor que tenha sido no ano passado, foi como um oásis de paz no meio da guerra. Neste ano será diferente, mas não tanto como gostaríamos. Parece que a “frente de batalha” está mais distante, talvez menos ameaçadora, mas a guerra contra o vírus e suas mutações ainda não terminou, para nossa tristeza. Mesmo assim, apesar de todos os percalços, a celebração do Natal em família é uma oportunidade preciosa de um espaço de paz e de amor com nossas pessoas mais diletas. E para nós cristãos este encontro de paz familiar possui um significado intenso de amor à Deus, de agradecimento à Ele, ao Espírito Santo e ao próprio Jesus, pela vinda do Salvador… Sem esquecer da Santa Família: a humilde Maria, mãe do menino que renasceu a Esperança na humanidade e José, o pai carpinteiro, também humilde, seu pai adotivo.

Então, esta celebração familiar é essencial para valorizar o nosso encontro de amor e de fé com Deus por meio da Sagrada Família. Nesse sentido menciono São Francisco de Assis como grande impulsionador dos presépios que simbolizam o nascimento do pequeno Jesus, com a simplicidade e humildade que Deus desejou para o nascimento de Seu Filho.

Assim, acredito que o significado da celebração de Natal se associa ao contexto da simplicidade e rusticidade do nascimento do menino Jesus na manjedoura de uma estalagem de Belém… Penso que nossas celebrações familiares – e as outras também – devem resgatar este momento como fundamento dos encontros natalinos, independentemente da Igreja a qual somos adeptos. Além disso, este Amor de Deus em nós, certamente nos leva a refletir, a pensar e a agir, além do ambiente de nossa casa, do nosso trabalho, da nossa igreja física… Estas ações de amor poderão ter se iniciado e se mantido muito antes do Natal, muitas delas ao longo de toda uma vida espiritualizada.

Mas certamente podem se intensificar e se ampliar neste período de advento natalino, de acordo com as condições existenciais de cada um. E compreendendo a generosidade não apenas como donativos materiais, mas também – e diversas vezes mais importante- por meio de gestos fraternos de encontros, escutas e diálogos, com amigos e outras pessoas, especialmente as mais sofridas, aflitas e necessitadas nestes tempos de inquietação,

Não pretendo dar lições a ninguém. Apenas compartilhar reflexões sobre o(s) significado(s) do Natal. E, aproveitando a oportunidade para agradecer aos leitores(as) de meus artigos no Jornal do Comércio, bem como aos demais articulistas, dirigentes, editores e membros diversos da equipe deste valioso veículo de imprensa. A todos, a minha gratidão.

Desejo um Natal de Amor e de Paz para cada um de vocês.

Luiz Castro

Advogado, professor e consultor

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