11 de dezembro de 2024

Aprendemos com a pandemia?

Falta liderança, sobram conflitos

 Certa vez escrevi sobre como seríamos após a pandemia. A maioria estava convicta de que a humanidade seria outra. Que teríamos comportamentos mais solidários e que essa doença certamente deixaria ensinamentos, mundialmente falando, claro. Ledo engano! 

   O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que em 2020 foram notificados 50.033 assassinatos no país durante a pandemia de covid-19, equivalente a uma morte a cada dez minutos, ou 4,8% a mais em relação a 2019. 

   Violência contra as mulheres: uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência em 2020 no Brasil durante a pandemia, segundo pesquisa do Instituto Datafolha. Mudamos? Não! Pioramos. 

   No trânsito não é diferente. Desde o início da pandemia, houve mudança no perfil psicológico dos motoristas brasileiros, que passaram a serem mais agressivos, imprudentes e individualistas. Isso pode ser observado nos números alarmantes que vêm das estradas brasileiras, principalmente nos feriados.  

   Nas cidades também sentimos essa agressividade, com intolerância, falta de solidariedade e muitos acidentes e mortes evitáveis. 

   A disseminação de fake news também é algo que só desinforma, provoca prejuízos dos mais diversos tipos e agride a nossa inteligência. O pior: gente dita esclarecida postando mentiras descaradas em grupos de zap e nas redes sociais. Claro que tem bobo acreditando e replicando sem nenhuma checagem, transformando desinformações criminosas em “verdades absolutas”.  

   Com base nisso, um grupo de jornalistas empreendedores do Amazonas se reuniu para lançar uma campanha que pretende conscientizar a sociedade sobre a importância de prestigiar o jornalismo profissional, que segue as boas regras de informação, com checagem, pluralidade e verdade. 

   Nos veículos desses empreendedores você pode ver um selo que identifica a prática do jornalismo profissional. A campanha “É Fato! Jornalismo Profissional com Credibilidade” também ganhará as ruas em breve, com peças publicadas em várias mídias. 

   As agressividades não param por aí. Ocorreram centenas de ameaças (por e-mail, zap, redes sociais e telefonemas) aos servidores da Anvisa que trabalhavam nos estudos visando a utilização de vacinas contra a covid-19 em crianças. Piorou ainda mais com a tentativa do mandatário em expor publicamente nomes de quem autorizou o uso da vacina Pfzer. 

   Essa covardia, somada à militância de radicais, é a combinação perfeita de gasolina com fogo, um incitamento irresponsável e criminoso, que teve repercussão altamente negativa na sociedade brasileira e no meio político. 

   Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, disse que é inaceitável qualquer intimidação ou ameaça em função de decisões que são tomadas livre e autonomamente por uma agência reguladora a partir de critérios técnicos e científicos. 

   Aliás, lá por Brasília a coisa não está nada boa, e não me refiro à queda de popularidade do presidente vista em diversas pesquisas. Enquanto brasileiros passam fome, aprovam quase R$ 6 bilhões de reais para fundo eleitoral para 2022.  

   Por parte dos servidores também existe muita insatisfação, principalmente porque enquanto uns recebem reajustes salariais, outros amargam vários anos vendo seus salários sendo corroídos por uma inflação que agride terrivelmente a todos os brasileiros. 

   Por fim, temos uma lamentável e destrutiva diferenciação entre categorias diferentes de servidores, e isso já se manifestou publicamente quando a tal reforma da Previdência separou claramente servidores militares dos servidores civis. Quem ganhou com isso? 

Augusto Bernardo

é auditor fiscal de tributos estaduais da Secretaria de Estado da Fazenda do Amazonas e educador. Foi um dos fundadores do Programa Nacional de Educação Tributária (atualmente nomeado de Educação Fiscal).

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