26 de julho de 2024
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Instrumentos de coleta de dados

O grande esforço das atividades científicas é a coleta de dados empíricos. A razão disso é que ciência se faz a partir do entendimento acerca do comportamento da natureza, das coisas do mundo. Na verdade, o grande desafio de todo cientista e da ciência em geral é explicar como o mundo funciona. E essa pretensão é tão grande que quase sempre se quer prever o que vai acontecer a partir do conhecimento prévio da realidade, como se a natureza agisse sempre da mesma forma. Quando a gente acha que isso acontece, quando os cientistas se convencem de que há certa regularidade comportamental da natureza, eles chamam essa regularidade de lei. É por isso que existe a lei da gravitação universal e também as leis da termodinâmica. Em se tratando da ciência em geral, a construção dessas leis é feita à semelhança de um prédio, tijolo a tijolo. A diferença é que os tijolos da ciência são os dados coletados da realidade. É por isso que a ciência é baseada em dados. Não importa se se quer explicar por que há desemprego ou por que dois gases explosivos geram a água.

Advém desse imperativo da ciência a necessidade de se criar instrumentos válidos para a coleta de dados. Mais adiante vamos tratar especificamente da validade dos instrumentos. Por ora basta que se compreenda sua essencialidade. Se pretendo medir a massa de uma estrela, preciso de um instrumento especificamente construído para esse fim. Esse instrumento pode até servir para coletar outros tipos de dados simultaneamente, como é o caso dos instrumentos multifuncionais e multifinalitário, mas fundamentalmente precisa medir a massa, a quantidade de matéria da estrela. Por outro lado, se a intenção for medir a dureza de determinado metal posso construir um equipamento que me forneça a resistência do material. O que queremos mostrar é que cada tipo de dado exige um tipo específico de instrumento que o detecte e forneça uma medida precisa do fenômeno que se quer conhecer.

O mesmo procedimento, o mesmo imperativo, poderíamos dizer, exigido das chamadas ciências naturais também é válido para toda e qualquer área do conhecimento que deseja gerar explicação de natureza científica. A criação de instrumentos de coleta de dados válidos é uma exigência da ciência, de maneira que toda explicação fornecida, para se considerada científica, tem que descrever o instrumento que utilizou e como ele foi utilizado para capturar os dados (na seção de materiais da metodologia). O uso do instrumento está vinculado nos procedimentos que toda pesquisa realiza para gerar os dados, o que exige outra descrição, que acopla o uso do instrumento nos procedimentos realizados (isso é feito na seção de métodos da metodologia). Com o perdão da tautologia: todas as ciências precisam criar instrumentos para coletar seus dados. E esse instrumento precisa ser, antes, validado, que é a garantia de que ele realmente captura os dados pretendidos.

Nas chamadas ciências sociais, por exemplo, há vários tipos de instrumentos muito utilizados mas que raramente os próprios usuários desconhecem as regras de suas construções. O questionário é um deles. Raros são os usuários de questionários que sabem que todo questionário é a materialização de uma arquitetura teórica ou de um marco teórico, duas coisas absolutamente distintas. As dimensões e categorias analíticas devem estar logicamente ordenadas nesse instrumento, com os tipos de dados rigorosamente planejados, uma vez que cada tipo (nominal, ordinal, intervalar e racional) concorre para gerar a explicação global sobre o fenômeno. Quando um cientista de verdade olha um questionário não vê apenas perguntas, mas uma teia lógica sincronizada de variáveis com suas respectivas formas de serem detectadas, capturadas empiricamente.

A mesma exigência de construção de instrumentos de coleta de dados vale também para os estudos que têm como base a literatura, os chamados estudos de revisão. É preciso aplicar o método científico para gerar as respostas. E toda resposta é construída com inúmeros dados devidamente coletados. Se desejo saber quais são os tipos de avaliação da aprendizagem conhecida pela ciência, preciso criar um instrumento que me permita capturar todos os tipos de respostas possíveis. Todos os tipos, sem exceção, porque terei que coletar todos eles. A ciência, portanto, não oferece a opção de se gostar disso ou daquilo, dessa ou daquela posição ideológica, desse ou daquele tipo de argumento, desse ou daquele modo de apresentar resultados, desse ou daquele tipo de resultado. A ciência é a somatória de todas as explicações que foram geradas com o uso do método científico. E o uso do método, mais uma vez, exige instrumentos de coleta confiáveis e válidos.

Muita gente imagina que o simples fato de se fazer entrevista deixe em aberto qualquer forma de realizá-la. Essa é outra posição falsa. Um roteiro de entrevista também é um instrumento de coleta de dados e, por extensão, também precisa estar estruturada em uma arquitetura teórica ou marco teórico, com suas respectivas dimensões e categorias de análise. E é mais laborioso porque exigirá, ainda na sua construção, de um desenho efetivo de como os dados vão ser transformados para que permitam ser analisados (analisar é quebrar em partes) a partir de uma estratégia ou técnica aceita pela ciência, como será mostrado na parte relativa a organização dos dados mais tarde.

É na construção dos instrumentos de dados que os cientistas se aproximam dos engenheiros e dos artistas. Construir um instrumento válido é uma verdadeira engenharia porque exige validade mensurada e atestada. Também é uma arte porque exige alto grau de sensibilidade e imaginação. Na verdade, é essa engenhosidade e arte que são descritos nos artigos que costumeiramente são publicados para obter o aceite da comunidade científica da validade dos novos instrumentos de coleta de dados que são criados o tempo todo.

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