26 de julho de 2024
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Ingredientes originais

O Brasil é um país para onde convergiram pessoas de todos os locais. Impossível que isso não influenciasse na comida. Somente o povo europeu tem características que mudam de país para país de maneira muito saliente. Na terra tupiniquim todos convivem com os mesmos ingredientes, porém as receitas originariamente são bem diferentes. Recentemente os asiáticos, japoneses e chineses, simplesmente invadiram as cidades grandes e pequenas com suas iguarias desconhecidas até há pouco tempo.

Da Europa, os portugueses vieram em maior número e trouxeram de lá seus hábitos alimentares; Os italianos conhecidos por suas massas e aqui desenvolveram a indústria vinícola a partir do costume ancestral de tomar vinhos; Os alemães, possivelmente em terceiro lugar em número de imigrantes também trouxeram uma riquíssima gama de pratos, tanto no forno, fogão como nas sobremesas. Depois, em menor número, há poloneses, holandeses, austríacos, franceses, ucranianos, russos, húngaros, árabes, judeus e muitos outros. Mais tarde, já no século XX, vieram os japoneses com costumes mais uma vez diferentes. Todos estes povos preparavam suas comidas a partir do plantio e da criação de animais e derivados. Também ensinaram a fabricação de embutidos e de queijos.

Claro que os que aqui aportaram no século XIX já encontraram estruturas prontas ou em formação. Os gaúchos, entre outros, já tinham know how em produção de carne bovina e o churrasco já era o prato principal. É fácil supor que as receitas não podiam seguir fielmente o traçado original, uma vez que nem todos os ingredientes estavam disponíveis. Embora o Peru e o México tenham ensinado aos europeus a comerem batata e tomate no início da invasão dos conquistadores espanhóis, foram os colonizadores europeus no sul do Brasil que trouxeram estes produtos de volta à América Latina, embora eles próprios desconhecessem sua origem. 

Os sulistas por seu hábito carnívoro tentaram “patentear” a maneira de fazer churrasco quando este já estava disseminado em todo território nacional. O modo original de prepara-lo, onde só se usava sal grosso como tempero (o mesmo sal que era tratado ao gado), somente lenha ou carvão vegetal para assá-lo, somente espetos, de preferência de madeira, também foi atropelada pelas churrasqueiras a gás e as grelhas cada vez mais sofisticadas. Os alemães e italianos também impuseram uma mistura de batata com creme de maionese como guarnição obrigatória, sem desprezar a farinha de mandioca e o próprio aipim que ainda hoje estão presentes. A carne de porco, de frango e os embutidos foram se enfiando na brasa antes destinada apenas a carne de gado e de ovelha. As coisas foram mudando de conformidade com os hábitos das pessoas que aqui viviam, com os das que iam chegando sempre utilizando o que havia por perto.

Hoje se discute receitas originais que raríssimas pessoas querem ver resgatadas. Assim também acontece com os pratos da Amazônia que foram enriquecidos, segundo alguns ou deturpados segundo outros, com ingredientes desconhecidos dos primeiros habitantes da região. Tomate, cebola, alho e ovos cozidos, hoje presentes na caldeirada, eram estranhos para os índios. Nos mais de quinhentos anos de história, não mudou somente a culinária, mas também a maneira de produzir alimentos a partir da lavoura. Até mesmo a pesca extrativista está recebendo uma “ajudinha” da tecnologia até na repovoação dos rios.

Fazer o que? Possivelmente, os não tão selvagens moradores das matas amazonenses, usariam gás de cozinha em plena selva, não fosse a logística da troca da botija.  Também no velho mundo a pizza italiana, o Strudel alemão, a korowajca ucraniana, o quibe libanês, o vinho francês e outros já variaram tanto que seria difícil restabelecer o original. O que é modernamente chamado de Fusion Food, (o uso de novos ingredientes em velhas receitras) não acontece pela criatividade, mas pela necessidade. O homem evolui, adquire novas tecnologias e a comida muda com ele. O que é bom nisso tudo? Salvo raríssimas exceções, a mudança é para melhor.

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