26 de julho de 2024
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Exacerbação inconsequente

Independente dos recursos, do tamanho territorial ou populacional, e sem querer comparar em nada o Brasil com Portugal, vemos que por lá as medidas de combate ao Covid-19 já rendeu frutos e mereceu aplausos como modelo de enfrentamento, rumando para a retomada gradual e por etapas das diversas atividades.

Lá foi declarado estado de emergência quando o número de mortos era de apenas dois e 642 casos confirmados. Mesmo antes da emergência o governo fechou escolas e boates, proibiu reuniões entre grupos numerosos, suspendeu voos com destino à Itália e interrompeu o turismo com a Espanha. E a população atendeu prontamente ao comando, abraçou com rigor as orientações e está bem próxima da grande vitória.

Por cá até acredito que alguns ainda contam piadas preconceituosas, mas por lá certamente utilizaram mais a inteligência, a unidade de comando e a disciplina em seguir regras e normas em época de preservação da vida, bem diferente das aglomerações e de um ambiente desfavorável que vai dos atritos políticos ao caótico sistema de saúde pública, perpassando pela irresponsabilidade de muita gente que ainda acredita ser apenas uma “gripezinha”.

Hoje ainda vemos por aqui famílias que felizmente não perderam ninguém. Outros tantos que acham que não serão atingidos, e uma multidão de pessoas anestesiadas, porque a ficha ainda não caiu.

Essa pandemia certamente deixará sequelas não somente nas famílias enlutadas. Provocará um sentimento de revolta e de aversão contra agentes políticos irresponsáveis e inconsequentes, que não enfrentaram essa crise com medidas e gastos necessários, no tempo certo, em qualquer esfera de governo. Mas os bons gestores serão exaltados e reconhecidos quando tudo isso passar.

Até mesmo a quantidade e a qualidade dos serviços públicos de saúde já estão sendo avaliadas pela população, mesmo em momento de aflição e desespero. Pior será quando avaliarem de cabeça fria. Cabeças rolarão e isso repercutirá principalmente nas urnas, nas próximas eleições, se não caírem antes.

Questionamentos já começaram, mesmo tardiamente. Por que tantas arenas construídas em vez de grandes hospitais bem equipados? Por que realizar Copa do Mundo e Olimpíadas num país onde as escolas merecem cuidados, onde muitas cidades não sabem o que é saneamento básico, onde até pra receber vacina pra gripe temos que selecionar parcela da população e esquecer o resto.

Por que tantos conflitos entre as autoridades quando o foco deveria ser apenas o vírus, o nosso inimigo comum? Mas sabemos que enquanto alguns estão pensando em eleição e reeleição, milhares de cidadãos brasileiros estão morrendo sem atendimento médico ou dentro dos hospitais, independentemente de idade. O pior é saber que continuarão não aprendendo as lições da vida e votando em alguns que sequer merecem o nosso respeito.

Enquanto milhares de brasileiros morrem, as cortinas de fumaça tentam tirar a atenção da população do sofrimento para as brigas políticas, a vida pessoal de mandatários, demissões de ministros e de secretários, acusações e investigações, agressões a jornalistas e enfermeiros, discursos contra a Democracia, e milhares de postagens que percorrem o Brasil maculando e destruindo reputações.

A própria pessoa que hoje ajuda a turbinar essa situação pode lá na frente ser vítima e ter sua vida destruída. Em grupos de zap sem uma coordenação firme ou objetivo definido, parece até clube de inimigos. Mal posso acreditar que certas postagens vieram de pessoas com curso superior, mestrado ou doutorado. Uma pena!

*Augusto Bernardo Cecílio é auditor fiscal e professor

Fonte: Augusto Bernardo

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