Por anos minha rotina tem girado em torno do aprimoramento de líderes, e neste tempo de tantas dúvidas e incertezas tenho buscado a descoberta de um novo caminho, sem perder a essência de muitos aspectos até então trabalhados neste processo de desenvolvimento. De toda forma agora parece mais urgente, e sem válvula de escape, a certeza de que só equipes engajadas avançarão, pois no cenário em que estamos vivendo, o senso de coletividade, confiança e criatividade são capazes de gerar organizações com resultados suficientes para vencer os obstáculos, e não os usuais mecanismos de controle hierárquico que geram pessoas pouco dedicadas e sem foco no que realmente fará a diferença, entendendo sua contribuição e fornecendo soluções para que apesar da crise possamos encontrar alternativas de sobrevivência e por que não crescimento.
Não contabilizei, mas diversas pessoas chegaram até mim no último mês me perguntando porque os seus líderes não faziam o que precisava ser feito diante do “óbvio” do trabalho home office, que era dividir as tarefas para as pessoas que ficariam em casa, usassem as plataformas de reuniões on-line para acompanhamento e fornecessem feedback periódicos para a alta administração do que estavam conseguindo produzir, compartilhando suas dificuldades e dúvidas com seus colegas para identificar as boas práticas e avançarem. Claro que consolidei aqui o que as pessoas estavam chamando de “óbvio” e construí um raciocínio lógico para o artigo. De toda forma, o cenário de dúvidas era o mesmo: Por que os líderes não fazem o que deve ser feito?
Claro que dependendo da pessoa e do cenário em que ela se encontrava, e de toda carga emocional que expressava sua “indignação”, tateava a melhor forma de falar e gerar campo de ajuda, suporte e apoio para que minimamente fosse feito o que era possível, com ela, com a empresa e com os líderes, dentro do rol de meus conhecimentos e network. A pergunta ecoava em meus pensamentos de forma objetiva e que pode até parecer dura, mas concluí: Eles simplesmente não fazem porque não sabem. Se soubessem já teriam feito.
Não quero que essas linhas sejam verdades absolutas e nem espero que seja aplicável para todos os líderes em todas as circunstâncias, mas muitas vezes desdobramos nossos pensamentos de que eles não estão fazendo porque não querem, porque não tem autorresponsabilidade suficiente para fazer o que precisa ser feito, que se acomodaram e vivem a esperar por alguém que diga o que devem fazer. Pode ser? Pode! Mas e se for considerado que todas as pessoas fazem o melhor que elas podem, dentro das condições que têm (cognitivas, emocionais, materiais e etc), será que esses líderes não estão deixando de fazer o “óbvio” porque ao sabermos pensamos que é simples, mas para eles não é tão claro assim?
Esperar ações e reações das pessoas dentro de um conjunto de perspectivas que julgamos certas, coerentes, adequadas, assertivas ou qualquer outro adjetivo não seria uma exigência irreal considerando que elas não têm a mesma experiência, vivência, motivação, conhecimento e demais diferenças que geram a percepção necessária para tomar decisões e agir?
Se os líderes querem e não conseguem porque não sabem, e podemos ser mola propulsora para seu desenvolvimento, quais são os caminhos como organização ou como apoio, para que eu possa ser fonte de orientação, suporte e direcionamento para esta pessoa?
Não estou ignorando o fato de que quando queremos corremos atrás e buscamos alternativas para aprender e fazer o que precisa ser feito. Estou reforçando o fato de que eles podem já estar fazendo o melhor que podem, dentro dos recursos internos e externos que tem, e mesmo assim não conseguirem suprir a expectativa sobre uma régua de ação que desconhecem e mesmo que estejam empenhados em realizar o “impossível” ainda assim não será suficiente.
Para instigar, se começamos a acreditar que os líderes não fazem porque não querem, podemos começar a usar uma maior rigidez, usando controle e imposição em vez de colaboração, treinamento, compartilhamento de informação, instigando emoções primitivas de medo, escassez, gerando uma miopia da realidade, consequentemente aumentando o caos.
Se passarmos a pensar que eles não fazem porque não sabem e estimularmos o aprendizado contínuo, a possibilidade de se mostrarem vulneráveis, permitindo o erro compartilhado e braços de apoio, não estaríamos construindo um campo para maior confiança, abertura para um diálogo sincero, espaço para ideias e criatividade com emoções mais próximas da generosidade, alegria e amor?
Temos que concordar que da pessoa mais evoluída emocionalmente até as de baixo grau de consciência sobre suas emoções, todos nós estamos de alguma forma sofrendo, sobre a perda, a dor, a insegurança, o isolamento, as dúvidas e outros sofrimentos. Todos nós em todo canto do mundo com o mínimo de percepção sobre o cenário, estamos com dúvidas, com incertezas, com aflições. Alguns lidando melhor e outros com mais dificuldade. Uns chorando para fora, por dias prolongados, outros chorando para dentro em algum instante, mas praticamente todos já derramaram alguma lágrima de tristeza diante do que o mundo está vivendo, mesmo os que estão enxergando os benefícios e aprendizados que podemos ter com tudo isso.
Claro que você tem o direito de discordar e está tudo certo. Mas neste momento quero olhar para o que falta nos líderes mais dispostos, e o que podemos fazer para ajudá-los, ao invés de dizer que não fazem porque não querem, na mesma medida que reflito sobre as exigências impostas aos líderes para cobrar que as pessoas façam, quando eles mesmos estão sem recursos internos, pode nos fazer míopes de que são o problema e não parte importante para as soluções que podemos encontrar juntos quando pensarmos em caminhos para construção de novos conhecimentos, novas oportunidades, novos acertos e erros, e juntos criarmos uma rede de apoio e não de cobrança, um sistema de aceitação e aprendizado e não de críticas e ameaças, um campo de fraternidade onde o óbvio de ontem não nos garante um passo de certeza do amanhã.
Eu sou e serei sempre militante do desenvolvimento, onde quer que eu esteja, com quem quer que esteja, continuarei acreditando na alma humana, que hora sem saber o que fazer não tomará caminhos tidos como naturais, porque o que é simples para mim pode ser muito complexo para o outro, e é por isso que estamos sempre aprendendo e será sempre maravilhoso se estivermos também prontos para ensinar.
Também gostaria de pedir desculpas se não fiz ou faço o que você acredita que eu deveria fazer, ou porque não sei fazer, ou porque sei e simplesmente não quero. De toda forma, só uso os recursos que estão em mim, muito disposta a entender os que estão em você, e juntos, sermos mais e melhores em meio ao caos.
*Cintia Lima é Psicóloga, Master Coach e Mentora Organizacional [email protected] – 92 981004470
Fonte: Cíntia Lima