27 de julho de 2024
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”É para isto que cultuamos nossa Constituição?”

O deputado Petruz Filho mora na propriedade que é da família há décadas, e além dos filhos e esposa, nela mora também seu pai de 95 anos, de quem herdará o imóvel no momento adequado.

O local é moradia feliz da família desde o tataravô de seu pai Petruz, e tem toda a história das raízes da família desde sua imigração ao Brasil, tendo também um caráter de grande sentimentalismo por terem ali prosperado e vivido em paz desde que lá nasceram todos os membros.

É um orgulho para Petruz Filho quando semanalmente diz aos colegas do Congresso: “vou indo prá terrinha”. É onde “encontro a razão de viver”, dizia.

Um dia, foi informado que um projeto importante na estratégia política do país exigiria a desapropriação da “terrinha”. Tentou buscar alternativas, mas o projeto estava bem fundamentado e observou a legalidade, inclusive com a promulgação da sentença a si desfavorável em processo que moveu tentando evitar que o projeto fosse adiante, mas foi em vão.

Petruz Filho nunca foi corrupto e sempre primou pelo cumprimento da lei, e lhe restou apenas informar seu pai e ao restante da família.

Na execução da sentença, na desapropriação, os filhos foram para locais e cidades diferentes e perderam a relação assídua familiar, o pai dele teve um AVC e no dia da mudança, enfartou e veio a falecer – dizem que foi de tristeza.

Depois do enterro do pai, Petruz Filho meditava sobre o ocorrido e concluiu que ele mesmo tinha provocado a situação. Conhecedor das leis, sabia que as políticas de governo são oriundas da vontade popular expressada através do Congresso e dos governantes do executivo, todos eleitos pelo povo, e por isso o projeto da desapropriação era válido; portanto, ele mesmo sendo eleitor, também aceitava o que era uma decisão democrática da maioria da qual participara, mesmo indiretamente. 

Meditou mais e entendeu então que o povo que busca na Constituição o seu bem-estar geral como principal objetivo, às vezes provoca um mal-estar geral em seus semelhantes, desde que não seja para eles próprios.

Esta questão de direitos que é importante quando para nós mesmos, não deveria ser também importante quando não for para nós mesmos?

Matar o pai de Petruz, desestruturar sua família e extinguir uma tradição e suas raízes existenciais de décadas, é o que o povo decidiu, e sem limites?

Os congressistas todos aceitariam em suas vidas estes acontecimentos?

É para isto que cultuamos nossa Constituição?

Os indígenas também devem aceitar isto em seus territórios?

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