26 de julho de 2024
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Carnaval sem o barão

A vida e ação pública do José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912), conhecido como Barão do Rio Branco, filho do também diplomata e estadista Visconde do Rio Branco, foi um dos capítulos mais interessantes de nossa histórica política republicana.

José Maria da Silva Paranhos Júnior foi uma criança prodígio e desde cedo foi educado nos círculos aristocráticos do Império. O filho do renomado Visconde do Rio Branco fez seus estudos no campo do Direito, História e Geografia – ciências estas que o acompanharam por toda a vida e foram relevantes na sua labuta de arquiteto das fronteiras nacionais.

Participou ativamente das publicações de revistas e periódicos que retratavam a alta cultura de sua época: Revista Popular, L’Illustration, A Nação, Jornal do Brasil entre outros periódicos.

Na condição de intelectual público, desde muito cedo, despertou o seu interesse por diplomacia, guerra e problemas mundiais, o que o levou naturalmente a seguir a prestigiada carreira de seu pai. O seu projeto como homem de Estado teve como eixo normativo a inserção do Brasil na arena internacional e a definição das fronteiras nacionais junto aos países do subcontinente sul-americano.

Começou a sua carreira assumindo cargos de destaque no corpo diplomático brasileiro. Foi Cônsul-Geral do Brasil na cidade de Liverpool (um das cidades industriais e comerciais mais importantes da Inglaterra), bem como em várias cidades alemães, aproveitando o boom da revolução industrial no país de Bismarck. (Residiu na Alemanha por quase trinta anos).

Volta ao Brasil, participa de dois importantes litígios fronteiriços. O primeiro, em 1900, envolveu Brasil e França em relação aos territórios do Amapá e Guiana Francesa. Com a arbitragem internacional do governo da Suíça, o Brasil consolidou a sua fronteira com a França a respeito dos limites do Oiapoque.

Já o segundo diz respeito à Questão de Palmas. Este litígio com a Argentina foi provocado pela pressão dos portenhos em relação os territórios dos estados do Paraná e Santa Catarina, na Região Sul. Dessa vez, a arbitragem internacional ficou sob a responsabilidade dos Estados Unidos que deu ganho de causa para o Brasil.

A partir dessas duas experiências, Rio Branco tornou-se o nome certo para assumir a função de chanceler e coordenar as ações do corpo diplomático da República. Em linhas gerais, a política externa de Rio Branco estava pautada em cinco grandes objetivos estratégicos:

  1. Supremacia compartilhada na área sul-americana;
  2. Restauração do prestígio internacional;
  3. Intangibilidade de sua soberania;
  4. Defesa da agroexportação;
  5. Solução de problemas lindeiros (fronteiras);
  6. Reconhecimento internacional dos EUA como potência emergente.

Mas o que mais chamou a atenção comunidade internacional, à época, foi a Questão do Acre. O tema levanta profundas controvérsias até os dias de hoje, criando uma confusão em torno da matéria.

O problema foi causado fundamentalmente pela presença de um consórcio Bolivian Syndicate (de origem inglesa) em território boliviano ocupado por seringueiros brasileiros. Estes colonos brasileiros, não conformados com a situação, começaram uma revolta com o objetivo de incorporar aquele território e torná-lo brasileiro efetivamente. 

Para solucionar tal conflito, Brasil e Bolívia assinaram o Tratado de Petrópolis, em 1903, com os seguintes termos: incorporação do território do Acre para o Brasil mediante uma compensação financeira de dois milhões de libras esterlinas, segundo dados oficiais.

De fato, a Questão Acreana foi o maior feito diplomático no que se refere às questões fronteiriças, o que tornou o Barão do Rio Branco um dos maiores estadistas de nossa República.

No dia de sua morte, a Gazeta de Notícias assim se referia a Rio Branco em seu necrológio:

Morreu ontem o Barão do Rio Branco. Há dias a sua vida era a agonia prolongada pelos recursos da ciência. A cidade, os estados, o país inteiro, as nações vizinhas, a América, o mundo indagavam ansiosa da saúde do grande homem. E o grande homem caíra para não se levantar. Fora com um imenso soble, que resistindo anos e anos ao vendaval e a interpérie, dominando a vida, de repente estala e cai. Dizer do Barão do Rio Branco uma rápida impressão de dor, de luto, de lágrimas, quando o país inteiro soluça é bem difícil. E sua obra foi enorme e grandiosa. Ele teve duas vidas: a do jornalista de talento que se fez cônsul e a do cônsul que se transformou no maior dos brasileiros pelo seu desinteressado amor à Pátria, e no maior dos diplomatas contemporâneos pelo seu alto espírito, pela alta compreensão da função que exercia. Ele foi o dilatador do Brasil, alargando-o e aumentando-o em terras, graças ao seu engenho, sem um leve ataque à justiça e ao seu direito

Este demiurgo institucional desapareceu no dia 10 de fevereiro de 1912, num dia de Carnaval na cidade do Rio de Janeiro. Com certeza, naquele dia, como hoje, o Carnaval perdeu um pouco de sua alegria.

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