Pensei em iniciar minha contribuição para os leitores do Jornal do Comércio com o título “Perigos do Ódio”, mas preferi optar pelo viés da esperança neste início de ano. Já que em 2020 fomos sobrecarregados de notícias ruins, acredito que precisamos nos alimentar de perspectivas positivas para 2021, que será, acredito, um ano de transição entre as dores acentuadas da crise da “epidemia” – doenças, sofrimento, mortes, medo, solidão, desemprego, falências e tantas outras – e o início de um novo ciclo, de enfrentamento e de superação das mazelas.
Constato que a maioria de nós sofreu e chorou com as perdas de parentes e de amigos que se foram e tantas histórias dolorosas neste percurso. E que isso tudo não deve passar rapidamente, como observamos neste início de ano…Mas a epidemia vai passar e teremos outros grandes desafios, tanto na saúde quanto na economia e na própria sociedade. Por isso penso que 2021 será o ano de travessia entre o fim da epidemia e uma nova oportunidade para alavancar a economia, com o desenvolvimento da nossa potencialidade nacional e regional , geração de boas oportunidades e enfrentamento eficaz das desigualdades, das injustiças e das causas da violência.
Para vencer um desafio é fundamental dar os passos certos nos momentos adequados. Neste primeiro trimestre do ano parece óbvio que ainda será indispensáveis priorizar a prevenção ao contágio da Covid 19 , por uma questão humanitária que se acentua pela limitação evidente da capacidade de atendimento hospitalar para os casos graves. E, também, iniciar a primeira fase da vacinação, com prioridade para os segmentos mais vulneráveis da população. Terão de ser ações – atitudes – concomitantes, que dependem da inteligência estratégica e da agilidade operacional dos órgãos governamentais, bem como a colaboração da população.
Do segundo trimestre em diante, à medida em que a imunização avançar e a epidemia arrefecer, será momento de construir pontes para um futuro melhor. Isto não será fácil, porque vivemos num país polarizado, em que pressupostos ideológicos tentam se impor até sobre verdades científicas, com o ódio ao pensamento “inimigo” visando se impor como “norma de conduta”, ainda que contrária aos parâmetros de convivência pacífica e respeito.
Penso que a generosidade, a compreensão, a alteridade , a razoabilidade e a solidariedade são essenciais para que não sobrevenha, depois da pandemia, uma outra crise tão ou mais ameaçadora do que a atual. Como diz o provérbio popular: “o ódio não é um bom conselheiro” e como ensina Jesus Cristo no Evangelho “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Basta optar.
Enfatizo que transcender divisões ideológicas não significa abandonar crenças políticas, visão de mundo e de gestão pública, mas sim encontrar pontos de interesse que unam as pessoas na direção do Bem Comum, um dos fundamentos da verdadeira Política. Nesse sentido, em 2021 precisaremos de muito diálogo e ações integradas para que nosso país avance de modo sustentável.
Ser “de direita” ou “de esquerda” fazem parte do jogo político tradicional, mas são definições que estão mudando ao longo do tempo. Pode-se observar, por exemplo, que no enfrentamento da atual pandemia, governantes de diversos matizes de pensamento político foram mais ou menos eficientes, dependendo muito mais de sua postura ética e capacidade de gestão do que de sua crença política. Assim, governos catalogados como de direita ou de esquerda obtiveram ótimos resultados, enquanto outros governos – com as respectivas visões de pensamento conservador ou progressista- fracassaram.
Desejo que neste ano diminua a atitude fácil de responsabilizar quem pensa e age diferente de nós por todas as mazelas que a população sofre…Porque para vencer grandes crises é necessária união, apesar das divergências. O mal só supera o bem, quando o ódio prevalece.
Que em 2021 caminhemos com amor fraterno para uma mudança de paradigmas e de comportamentos.