13 de dezembro de 2024

Anemia do Rio

A decisão do mandato do governador do Rio, protelada por preciosismos, na melhor das hipóteses, jurídicos, agrava a crise na economia e seus reflexos sociais. A crise é nacional e internacional em função da pandemia. Mas é mais grave na cidade e no Estado que sofrem mais, pois já vinham com crescimento negativo em termos de investimentos e empregos. O turismo vai demorar a reagir, agravado com a perda do réveillon e do carnaval, pontos altos do setor.

Mas o Rio tem o que buscar entre o que perdeu. No setor do mercado de capitais, gerador de muitos e bons empregos, o esvaziamento foi monumental nas últimas décadas. A começar pela saída da Bolsa, hoje concentrada em São Paulo, não apenas a de Valores Mobiliários, mas outros pregões de importância. As operações de câmbio oficiais eram no Rio e estão em São Paulo. A maior indústria fluminense, a Companhia Siderúrgica Nacional, levou seus escritórios para São Paulo. Nosso aeroporto internacional perdeu passageiros para São Paulo e carga para Campinas. Nosso porto já não é o mesmo há décadas, desde o crime de se taxar o café, que nos fez perder o mercado mineiro, grande exportador. Reagimos em alguns pontos, como na medicina, que mantém uma honrosa segunda posição, mas já seguida de perto por BH e Brasília, que usavam dos serviços cariocas mais sofisticados no passado.

No setor privado, sustenta o nosso setor financeiro as Assets, alguns fundos de relevância. Os bancos que tinham presença no Estado, como o Nacional, Unibanco, Boavista, Real, Pactual, desapareceram ou foram absorvidos ou tiveram a sede transferida. Urge alguma coisa para reverter este quadro – parcialmente, que seja –, aproveitando a mão de obra altamente qualificada que ainda temos. Estas, na sua maioria, estão na ponte aérea.

A política realista do governo de encolher monstros estatais, infelizmente, pune mais ainda o Rio. Basta verificar a diminuição do número de funcionários de gigantes como BNDES, Petrobras, Eletrobrás, Furnas; todos com quadros de alta remuneração. O Rio não pode, não deve, se tornar terra de aposentados, ou balneário de luxo. A formidável rede hoteleira, sem ocupação, pode fazer do Rio uma Atlantic City, que hoje mais parece um cenário de filme de terror e chegou a ter quase 30 hotéis de cinco estrelas, a duas horas de Nova York.

Temos tudo para reverter esse quadro desfavorável,apesar de com menos lideranças políticas e empresariais, e com o mundo artístico e cultural, hoje, voltado para a defesa de ideologias. Foi-se o tempo da carioquice de Vinicius de Morais, Tom Jobim, Ary Barroso, Simonal, Elizete e outros astros que faziam do Rio a capital da música, da poesia e da alegria. Não temos mais um Sérgio Porto, um Millor Fernandes, mas procurando vamos achar.

Aristóteles Drummond

É jornalista e presidente da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro

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