4 de outubro de 2024

Amor à democracia

A sorte das cidades e dos cidadãos está lançada para os próximos quatro anos! E foi lançada nesse domingo pelo voto dos eleitores, conscientes ou não, nas mãos dos vereadores e prefeitos que foram eleitos nessa eleição. Que tipos de vereadores e prefeitos estão sendo eleitos para cuidar de nossas cidades durante esses quatro anos vindouros?

Em primeiro lugar, esperamos que sejam homens e mulheres capazes de zelar pela República. Em segundo lugar, que sejam capazes de administrar com honestidade os impostos pagos pelos cidadãos. Em terceiro lugar, que sejam capazes de pensar mais no coletivo e menos no individual. Em quarto lugar, que sejam comprometidos com à verdade, que não propagem fake news. Em quinto lugar, que sejam homens e mulheres de ilibada conduta moral.

Do mesmo modo, quando se tem uma montanha pela frente, o que fazer para chegar ao topo, o objetivo da escalada? A Psicologia ensina que primeiro é preciso querer chegar ao topo, depois começar a escalada, dando um passo de cada vez, até alcançar o objetivo final, o topo da montanha. Assim também deve ser em relação ao voto.

Todo cidadão deve se perguntar qual é o objetivo a alcançar quando vota em certo candidato. Será que os objetivos de quem você vota são os mesmos que os seus? Será que o seu candidato pensa que nem você? Será que ele não pensa apenas em seus interesses particulares? Lembre-se: “voto não tem preço, tem consequência”. Portanto, o seu voto poderá, ou não, anunciar um horizonte mais saudável e feliz para todos.

Outrossim, é preciso ensinar às crianças, os adolescentes, os jovens, que o poder político não é para sempre, que os governos passam. Que o melhor resultado da política é a funcionabilidade dos serviços públicos. Que os governos cumpram, independentemente de suas ideologias, com o dever de servir à população. Dessa forma, e apesar de tudo, mesmo à democracia não sendo perfeita, ela ainda é a melhor forma de governo que temos na atualidade.

Em seu livro “Do Espírito das Lei”, Montesquieu tratou sobre esse tema. Diz ele: “O governo republicano é aquele no qual o povo em seu conjunto, ou apenas uma parte do povo possui o poder soberano; o monárquico, aquele onde um só governa, mas através de leis fixas e estabelecidas; ao passo que, no despótico, um só, sem lei e sem regra, impõe tudo por força de sua vontade e de seus caprichos”.

De fato, no governo republicano, apesar do “povo possui o poder soberano”, o que falta à democracia de hoje são eleitores capazes de votar em candidatos comprometidos com a ética na gestão pública; candidatos que assumam a responsabilidade de fazer o melhor pela cidade, comprometidos com os anseios da população e não apenas com interesses particulares.

Infelizmente, há muitos políticos no Brasil que se elegem apenas para ganhar dinheiro, pensando apenas em seus próprios interesses e não nos interesses da população. Se continuarmos assim, elegendo políticos que não pensam na República, vai chegar uma época em que vamos questionar se à democracia é realmente a melhor forma de governo.

No entanto, apesar de todas as dificuldades para se construir um governo realmente democrático, penso que à democracia ainda seja a melhor forma de governo. À democracia acolhe a todos, não importando se você é de esquerda, da burguesia, ou de qualquer ideologia partidária. Enfim, somente à democracia nos dará “a liberdade, esse bem que nos permite desfrutar dos outros bens”, como disse Montesquieu.

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

Veja também

Pesquisar