10 de dezembro de 2024

A máscara

Nos tempos bons da minha adolescência, já lá se vão muitos anos, a máscara tinha vários significados que ultrapassavam um simples pedaço de pano envolvendo parte do rosto de alguém. Quando utilizada no rosto, geralmente tinha a função lúdica de esconder heróis ou bandidos em histórias infantis que ainda faziam das crianças sonhadores e crianças de verdade. Não tinham ainda esta função de defesa de um inimigo perigoso e maldito que está bem longe de ser imaginário, muito pelo contrário, vem ceifando vidas reais de pessoas de todas as idades no mundo inteiro.

No futebol de rua, nas peladas tão boas para nós, ser mascarado era algo que podia ser disparado contra aquele que tentava disfarçar uma qualidade inexistente, ou mesmo fazer teatro em uma falta não acontecida. Ninguém se revoltava com o rótulo tampouco qualificava de bullyng, sem perigo algum de se chegar a um processo judicial ou um tratamento psicológico por trauma ou seja lá o que resolveram inventar nesta geração politicamente desregrada e cheia de regras sem sentido.

Falando da máscara, temos hoje na luta contra este inimigo mundial, o Covid 19, uma atitude de rebeldia e irresponsabilidade social que envolve a utilização, ou falta de uso dela, em um momento em que se fala no aumento dos casos e mortes por conta da pandemia, ou segunda onda como queiram. Não querer utilizar a máscara, fazer a higiene das mãos com o álcool gel ou mesmo sabonete, vai bem além de uma atitude de defesa pessoal contra o inimigo virulento.

Quando a horda adolescente se aglomera em um bar, ou no momento em que adultos que regridem na maturidade se escondem em festas clandestinas e se atacam na bebida e outras coisas mais, a primeira condição é: NÃO UTILIZAR A MÁSCARA. Neste momento estes supostos humanos esquecem que não apenas suas vidas estão em jogo nesta atitude insana. A possibilidade de contágio e consequente morte por conta do vírus pode ser levada a membros de suas famílias, pessoas de seus trabalhos e até mesmo amigos.

Porém entra em campo neste momento um sentimento secular no ser humano: O EGOÍSMO, a incapacidade de pensar no outro com um mínimo de complacência, abrir mão de um pouco que seja de seu conforto pelo bem de seus pares. E tanto pode ser feito apenas pela atitude de USAR A MÁSCARA SEMPRE QUE NECESSÁRIO!

Nossa cidade foi declarada em uma segunda onda pela Fiocruz, instituição renomada, embora autoridades e até mesmo profissionais da medicina insistam em tentar mostrar uma situação de controle ou até mesmo de diminuição do perigo. Falam nesta “imunidade de rebanho” sem mesmo saber o que significa, assim como esperam uma vacina como se fosse a salvação definitiva do problema. Querem jogar a sujeira para debaixo do tapete de qualquer forma, pois basta andar pela cidade à noite para entender a atitude irresponsável de nossa população.

O que mais me assusta é a banalização com que as pessoas passaram a tratar a morte. “Morreu fulano ou sicrano”! Passou a ser expressão utilizada com uma simplicidade e crueza impressionante. Não se percebe mais nenhum sentimento quando as pessoas falam sobre a morte de alguém, pois se tornou algo banal, corriqueiro, mais um numero a ser incorporado nas estatísticas que a televisão vai noticiar no jornal da noite. Então, se a morte não me assusta mais, não mexe mais com meus sentimentos, PRÁ QUE A MÁSCARA?

Orígenes Martins

É professor, economista, mestre em engenharia da produção, consultor econômico da empresa Sinérgio

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