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A inteligência artificial e a beleza natural

André Ricardo Costa

Professor da Ufam

As surpresas embelezam o conhecimento. Há quebras de paradigmas que mostram o quanto estávamos acostumados com o ainda extraordinário. Ocorre agora, com os instrumentos de Inteligência Artificial. Eles estão bagunçando o coreto daquele 1% de organizações que conduzem o progresso global. Até ontem eram as FAANGs, acrônimo para Facebook, Apple, Amazon, Netflix e Google. A bagunça tirou Netflix e inseriu Microsoft, Tesla e Nvidia, formando as 7 magníficas. A última se destaca, cujo presidente tem sido tratado como popstar.

É o taiwanês Jensen Huang. O mundo está só curiosidade sobre como em tão pouco tempo ele levou sua empresa a desbancar concorrentes e ombrear em valor de mercado as maiores empresas do mundo. As FAANGs eram conhecidas pela capitalização de mercado maior que o PIB da maior parte dos países. Consequência de oferecerem à sociedade produtos singulares, novos, difíceis de imitar, e de uma utilidade tal que aumenta em muito a produtividade de seus usuários. Hoje, o valor de mercado da Nvidia está bem próximo daquela que inventou o computador pessoal, a Apple.

Arrisco-me a identificar a fonte de valor da Nvidia. Sua inovação foi desconstruir um dos padrões mais sólidos em computação, a Lei de Moore, pela qual os processadores dobram de capacidade a cada dois anos. Crescimento exponencial de tirar o fôlego dos que dizem “passa amanhã” quando a necessidade de dominar programação bate à porta, posto que nessa caminhada ao infinito as aplicações aceleram ao mesmo passo em ganhos de robustez e complexidade.

Pois o caboclo taiwanês viu nisso um obstáculo a transpor. Huang levou sua empresa a compreender ao máximo a cadeia de valor dos usuários dos microprocessadores. Não se interessou a vender códigos, mas a otimizar a arquitetura dos processadores de modo a atender aos padrões peculiares de cada grande grupo de usuários mais interessados nos avanços computacionais.

A Nvidia tornara-se conhecida pelas placas de vídeo únicas para jogos eletrônicos. Em seguida, processadores para criptomoedas. Depois sobrevieram as peculiaridades da inteligência artificial para carros autônomos, engenharia genética e biotecnologia, sistemas de gestão empresarial, medicina etc. A otimização se relevou mais poderosa que aumentar processamento. Como são infinitas as atividades humanas, a Nvidia trouxe ao presente o distante infinito a cuja direção estava a progressão de Moore.

Há um ditado, “na corrida para o ouro, seja o que vende picaretas”. Descobrir ouro é bom, mas vender picaretas a todos que tentam é mais confortável. Na corrida da Inteligência Artificial, a Nvidia aponta as minas e vende as picaretas. Algumas demais magníficas perceberam a estratégia e tentam concorrer. Tesla com o Dojo, Apple com M3 e Google com TPU v5p.

Como o Amazonas pode se posicionar neste cenário? O primeiro sonho seria que a Nvidia viesse produzir seus processadores no PIM. Ou que concorrentes o fizessem. Ou que produzíssemos componentes. Ou que extraíssemos do nosso subsolo os minerais terras-raras que estruturam os componentes. Talvez tudo isso. 

Lindo mesmo seria nos posicionarmos como usuários privilegiados das picaretas da Nvidia. O ouro está ao nosso redor. Não há fonte de dados mais rica que o bioma amazônico. Se dominarmos a Inteligência Artificial, a Nvidia desenhará processadores específicos para análise de biodiversidade. Em seus relatórios, vai apontar os amazônidas como grandes clientes. Desbravadores formidáveis. Os que perceberam o valor de usar a Inteligência Artificial para usufruir das belezas naturais.

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