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Venezuela, talvez, nunca mais

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Edigar Trias é engenheiro eletricista, mas em Manaus vende din-dins e merendas nos terminais de ônibus. Luz Catherine é advogada, mas ganha a vida na capital amazonense como faxineira, além de lavar e passar roupas. Ambos são venezuelanos e também o retrato vivo e cruel do desgoverno socialista que se instalou em seu país.

Edigar é de Caracas e depois de não conseguir mais emprego como engenheiro eletricista, na Venezuela, fez um curso de paramédico e começou a atuar como tal, além de dar aulas, “mas a coisa foi ficando tão ruim que o salário dos dois empregos não estava mais dando nem pra comprar comida. Na Venezuela, o preço das comidas aumenta diariamente”, recordou.

“Eu tinha um amigo morando em Manaus e ele me falou para vir pra cá, que aqui era bem melhor do que na Venezuela, então eu larguei tudo e vim, em junho. Passei um dia em Boa Vista e segui para Manaus”, falou.

“Ainda estou sem emprego, mas trabalho não falta. Vendendo din-din e merendas nos terminais, bem diferente da Venezuela, consigo dinheiro para comprar comida e pagar meu aluguel. Vim só. Deixei para trás, pai, mãe, irmão e duas filhas. Gostaria de trazê-los, porque sei que devem estar sofrendo bastante por lá, mas agora não posso. Preciso primeiro me estabilizar aqui em Manaus, aí os trarei”, afirmou.

“Gostei muito de Manaus. Estou feliz aqui. As pessoas são receptivas, cuidadosas e humildes, mas se um dia a situação melhorar na Venezuela, pretendo voltar, pois lá é minha terra”, afirmou.

Não aguentou a corrupção
A situação de Luz Catherine é um pouco pior do que a de Edigar. Ela já está há mais de dois anos em Manaus e ainda não conseguiu se estabilizar profissionalmente. “Sou da ilha de Margarita e, depois de me formar advogada, fui trabalhar para o governo federal. Trabalhei durante oito anos, mas via tanta corrupção, que saí desse emprego e fui trabalhar por conta própria. A situação foi ficando tão ruim ao longo dos últimos anos até que não deu mais para ficar na Venezuela. Eu tinha vários amigos em Manaus e eles disseram pra eu vir pra cá que teria onde morar e ganhar mais dinheiro, e eu vim”, contou.
“Trouxe meus documentos de advogada e quero exercer a profissão aqui, no Brasil, mas na OAB me disseram que com o status de refugiada eu não poderia exercer a profissão. Teria que me naturalizar. Depois de quase um ano, quando já estou para conseguir a minha naturalização, voltei à OAB e eles disseram que mesmo como refugiada eu poderia ter exercido a profissão. Entenda. Agora vou esperar minha naturalização sair no próximo ano e me registrar na OAB”, revelou.

Em janeiro, Luz trouxe para Manaus sua mãe, uma irmã e um cunhado, “mas ainda têm vários outros parentes querendo vir”, disse. “Enquanto isso, vou trabalhando como faxineira, lavando e passando roupas nas casas das pessoas e ainda está melhor do que na Venezuela”, garantiu.

“Gosto muito de Manaus e pretendo ficar de vez morando no Brasil. Não tenho mais esperança nenhuma de que a situação política e econômica vá mudar para melhor na Venezuela. A situação política lá sempre foi instável, com golpes e mudanças repentinas de governo, ditaduras e autoritarismo, principalmente a partir de Hugo Chávez, em 1999. Esse governo do Maduro ainda vai demorar muito e, quem me garante que, quando sair, vá vir um presidente que preste?”, lamentou.


Aprender e empreender

Recentemente Edigar e Luz se encontraram durante o projeto ‘Oportunizar’, realizado pelo Centec (Centro de Ensino Técnico). “O projeto ocorreu de agosto a outubro, voltado exclusivamente para venezuelanos solicitantes de refúgio, com meta de aumentar as chances de acesso a emprego e renda dessas pessoas, por meio da oferta de cursos de qualificação e também do advocacy com o empresariado de Manaus, o que se constitui na busca de parcerias para a formação de uma rede de empregabilidade”, explicou Nathalia Flores, coordenadora do projeto.

“Foram promovidos quatro cursos: instalador de refrigeração e climatização doméstica (feito pelo Edigar), auxiliar administrativo, manicure e pedicure e design de sobrancelhas (feito pela Luz), e auxiliar de cozinha e confeiteira, com 30 alunos cada, 119 venezuelanos e um cubano”, listou. “Nos dias 6 e 7 de dezembro tiveram duas oficinas voltadas para o empreendedorismo, cujo objetivo foi despertar o perfil empreendedor nos refugiados por meio de técnicas de modelagem e gestão para seu próprio negócio. No dia 12, quarta-feira, realizaremos a última oficina do ano, ainda para os refugiados, Auto responsabilidade profissional, encerrando o projeto por este ano”, revelou.

“Se em 2019 tivermos novamente recursos da Acnur (Agência da ONU para Refugiados), continuaremos com o projeto”, finalizou.

A presença da população venezuelana em Manaus tem aumentado nos últimos anos, como reflexo do fluxo de venezuelanos que deixam seu país devido aos desafios políticos, socioeconômicos e de direitos humanos. Mais de 8.800 solicitações já foram feitas por venezuelanos na cidade desde 2017 até agosto deste ano.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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