Pesquisar
Close this search box.

Trabalho temporário afeta escolaridade dos filhos

De cada dez alunos que concluem o ensino fundamental no bairro do Tarumã, zona oeste, só uma continua a escolarização no ensino médio, problema decorrente da falta de estabelecimentos de ensino naquela área. Entre as dificuldades enfrentadas está a transferência constante de escola em função da mobilidade gerada pelo trabalho temporário dos pais.

As informações fazem parte da tese de doutorado da pesquisadora Maria do Céu Câmara Chaves, intitulada “Práticas Educacionais e Representações Sociais da Família sobre o Direito à Escolarização de seus filhos na Zona Oeste de Manaus”, que foi realizada com apoio da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), por meio do Programa RH-Interinstitucional.

Processo migratório

Segundo a pesquisadora, o trabalho se concentrou na zona oeste por causa do processo migratório de famílias vindas do interior para a cidade à procura de melhores condições de vida, principalmente na década de 1960. “No período, foi verificado que 70% da população ribeirinha havia se deslocado para Manaus impulsionada pela instalação de grandes fábricas na capital”, frisou.

A ausência de estudos sobre as transformações sofridas pela família, segundo Maria do Céu, reforça o processo de culpa pelo fracasso escolar, da mesma forma que o sistema de ensino também culpa o professor, sem considerar as condições de trabalho e de salário que lhes são oferecidas. Ela disse que a escola não tem poder para superar, nela mesma, as desigualdades sociais produzidas.

Conforme a pesquisadora existem apenas duas escolas municipais que oferecem poucas vagas para a educação infantil (pré-escola) e o ensino fundamental. A instituição mais próxima que oferece o ensino médio fica no Centro e os pais não têm recursos para arcar com a frequência diária dos filhos na sala de aula.

“Existem esforços para melhoria da qualidade do ensino oferecido na escola. No entanto, esta se encontra despreparada, inclusive, para lidar com a realidade presente nas comunidades onde estão inseridas”, salientou, acrescentando que existem medidas compensatórias, como o transporte escolar gratuito, a bolsa-família, o kit fardamento, material escolar e a distribuição de merenda. As ações foram tomadas pelo governo federal e prefeituras municipais com o intuito de garantir às famílias as condições básicas para cumprir o dever com a escolarização das crianças.

Todavia, segundo ela, os programas transferem mais encargos para a escola, atribuindo-lhe novas responsabilidades e tarefas, como o controle de distribuição dos benefícios. “Tais tarefas se superpõem às exigências próprias da gestão escolar, gerando uma sobrecarga e uma descontinuidade na execução do planejamento escolar”, afirmou.

Pesquisadora sugere políticas públicas

Na avaliação de Maria do Céu Câmara Chaves, os programas governamentais e as demais instituições que se propõem a garantir a educação devem ser baseados nas condições em que vivem essas comunidades.

“As populações vêm de um processo de perda da origem de seus territórios e se encontram vulneráveis socialmente. Há necessidade de políticas públicas para educação básica que realmente alcancem, no conteúdo e no método, as populações pertencentes as camadas populares”, sugeriu a pesquisadora.

A pesquisa foi desenvolvida por meio de convênio estabelecido entre a Ufam (Universidade Federal do Amazonas) e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto (SP).

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar