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Sucesso e fracasso na lama

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A história de um país pode e deve ser motivo de muito estudo e reflexão para todos os cidadãos em todos os sentidos, tanto no que diz respeito aos problemas sociais, econômicos, políticos ou meramente cronológicos. Durante muito tempo tivemos no país a atividade exploradora bruta, com a exportação do produto primário, como a principal fonte de renda e de manutenção de toda a nossa estrutura.

Desde os tempos das Minas Gerais, quando se percebeu que o ouro não era tão farto e fácil quanto se imaginava, os minérios menos nobres passaram a ser a grande fonte de renda lá para as bandas das Minas Gerais. E foi por lá que se formou a grande mineradora que aqui no Brasil era a maior, embora no ranking mundial ficasse lá para trás. Tudo era dificultado pelo fato de ser uma empresa estatal, com a burocracia emperrando os processos e os inevitáveis desvios de dinheiro e de interesses diminuírem demais os resultados da combalida empresa.

Quando o plano Real foi implantado e teve o sucesso conhecido, a segunda etapa levou à privatização de diversas empresas estatais, das quais estava esta empresa, que nas mãos de investidores privados, teve uma verdadeira revolução. Aquela empresa deficitária se tornou a segunda maior empresa mineradora do mundo, tendo resultados jamais conseguidos antes, passando a gerar empregos e renda que nas mãos do governo nunca havia conseguido e jamais iria conseguir.

Ainda por cima, gerou tecnologias na área da produção de aço laminado que a distinguiram no mundo todo, levando o nome de nosso país a patamares jamais conseguidos e alavancando outros setores. Trouxe progresso, trouxe renda e trouxe junto com tudo isso o capital de investidores do mundo inteiro que passaram a confiar muito mais em nosso país.

Sim, estou falando da Vale do Rio Doce, a empresa que está hoje na mídia pelo mesmo motivo pelo qual esteve há três anos, o desastre ambiental, humano e técnico causado pelo rompimento de suas barragens de contenção de resíduos de rejeitos de minério. A mesma empresa que se tornou exemplo de sucesso e de superação, envolvida hoje em dois casos sucessivos de falta de responsabilidade e de descaso com a vida humana e com o meio ambiente.

Tanto no primeiro caso em Mariana como agora em Brumadinho, a opinião pública busca culpados para o fato e pelo fato de ter um governo tão recentemente eleito que não pode ser responsabilizado pelo segundo desastre, passou a fazer as comparações inevitáveis entre as ações tomadas nos dois casos. O tempo de resposta da presidente Dilma e do Presidente Bolsonaro e o rigor com que o governo atual está enfrentando a situação parece que deixa a população mais aliviada com um desastre tão brutal.

Será que se pode considerar humano um sentimento de alívio quando tantas pessoas morrem de forma tão grotesca e cidades inteiras são devastadas, com áreas que certamente jamais voltarão a produzir? Vejam a que ponto chega uma sociedade que sofreu tanto tempo com a impunidade e com a inércia do poder público e que só tem como alívio, sentir que agora pode ter uma lei que funcione, um governo que realmente governe.

Enquanto isto, assistimos todos os dias aos esforços de bombeiros, militares e agora à força de técnicos israelenses, se arrastando na lama para tentar desesperadamente resgatar corpos, numa tentativa de consertar um erro irreversível que se resume à ganância que leva um modelo que poderia ser exemplo para toda a vida se desfazer na lama de Mariana e Brumadinho.

*Orígenes Martins Jr é economistas e professor

 

Orígenes Martins

É professor, economista, mestre em engenharia da produção, consultor econômico da empresa Sinérgio
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