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“Ração amazônica com ingredientes locais”

Nos dias 28, 29 e 30 de maio, o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e instituições parceiras realizarão o Sustenta (I Seminário Internacional de Uso Sustentável e Tecnologias Alimentares para a Piscicultura Familiar na Amazônia). O evento acontecerá no Auditório da Ciência do Inpa, das 8h às 17h, e reunirá especialistas da Amazônia brasileira, peruana,  colombiana e boliviana para discutir inovações e soluções sustentáveis para a piscicultura. Para falar mais sobre o assunto, o Jornal do Commercio entrevistou a coordenadora do Sustenta, pesquisadora Ligia Uribe Gonçalves,

Jornal do Commercio: Hoje, os peixes de criatório são alimentados com que tipo de alimentos?

Ligia Uribe: Peixes da piscicultura são alimentados com ração formulada especificamente para atender às suas necessidades nutricionais. A ração é composta por uma mistura balanceada de ingredientes, como farelos vegetais (milho, soja, trigo) e farinhas de origem animal (carne e ossos, vísceras de aves, sangue, peixe), vitaminas e minerais. Porém, quando o produtor não tem acesso a ração comercial, acaba utilizando restos de alimentos ou resíduos da agroindústria para alimentar os peixes. Os subprodutos agroindustriais regionais, como os da cadeia produtiva da mandioca, por exemplo, representam um recurso valioso e sustentável para a produção de ração, dada a sua potencial riqueza nutricional.

JC: As pessoas dizem preferir os tambaquis de rio, aos de criatórios, pois a carne destes teria gosto de barro. É isso mesmo?

LU: O sabor de ‘barro’ está relacionado com o acúmulo de suas substâncias (geosmina e 2-metilisoborneol) na carne dos peixes, que é acentuado em peixes com maior teor de gordura. Essas substâncias são produzidas por microrganismos presentes na matéria orgânica do sistema de produção, e não conferem mal à saúde humana. O bom controle na qualidade da água do sistema de produção evita o sabor de ‘barro’, além disso é possível utilizar técnicas de depuração, que consistem em deixar o peixe em água limpa e sem alimentação por um certo período previamente ao abate. É importante ressaltar que os peixes da natureza também podem apresentar sabor de ‘barro’, especialmente, na época da seca, quando ficam em ambientes concentrados de matéria orgânica.

JC: Alimentar peixes em criatórios com frutas, tipo camu-camu, produzidas para este fim, seria mais caro do que alimentá-los com ração?

LU: O camu-camu poderia ser um ingrediente na ração, especialmente, para o fornecimento de vitamina C. Alimentar os peixes apenas com frutas ou um único tipo de resíduo agroindustrial pode resultar em desequilíbrios nutricionais, afetando negativamente o crescimento e a saúde dos peixes. Portanto, é imprescindível que se elabore misturas diversificadas e bem estudadas, que combinem diferentes resíduos agroindustriais para produzir rações completas e equilibradas, promovendo assim o desenvolvimento ótimo e sustentável da aquicultura. Infelizmente, não tenho informações específicas sobre os custos de produção e processamento do camu-camu para oferecer uma comparação direta entre o seu custo como ingrediente em relação aos ingredientes convencionais utilizados em rações.

JC: Como está a piscicultura familiar no Amazonas?

LU: A piscicultura familiar no Amazonas é praticada em pequenas propriedades rurais, com baixa ou nenhuma tecnologia. Atualmente estão registradas e atendidas 1.432 pisciculturas familiares pelo Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas).

JC: O que é a Rede Peixe Caboclo?

LU: É uma Rede de Pesquisa e Extensão Tecnológica formada por diversas instituições com o objetivo de encontrar soluções para uma ração amazônica formulada com ingredientes locais, e produzida de forma artesanal e comercial. No Amazonas, a Rede Peixe Caboclo é constituída por profissionais do Inpa, Ifam, Ufam, Universidade Nilton Lins, Sepror, Idam, e recebe apoio da Fapeam e CNPq. A rede será oficialmente lançada no dia 29 de maio, durante o Sustenta. A nossa intenção é ampliar a rede para outros estados da Amazônia e profissionais de outros países que compartilham a Amazônia, como Peru, Colômbia e Bolívia, e que têm desafios similares a serem superados para o desenvolvimento e fortalecimento da piscicultura familiar.

JC: No Inpa, quais as principais linhas de pesquisa sobre piscicultura?

LU: Trabalhamos com diversas áreas voltadas para a piscicultura: nutrição e alimentação, processamento de rações, larvicultura, fisiologia e sanidade, qualidade de água e sistemas de produção. Além do Inpa, todos os profissionais das instituições que participam da Rede Peixe Caboclo fazem pesquisa de alta qualidade e, juntos, fazemos intercâmbio de experiências e conhecimentos, promovendo a complementação e expansão dos estudos na área.

Programação do Sustenta: www.redepeixecaboclo.com.br/sustenta

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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