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Produção agrícola do Amazonas deve ser menor neste ano, segundo dados do IBGE e da Conab 

Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori  Face@jcommercio

Embora divirjam nos números, os mais recentes levantamentos da Conab e do IBGE convergem na conclusão de que a produção agrícola do Amazonas deve ser menor neste ano. A primeira manteve seus números e espera que a safra de grãos não passe de 47.800 toneladas, o que equivale a um tombo de 12,5% a menos do que na 2020/2021 (54.600). O segundo estima que a produção agrícola do Estado –incluindo também fruticultura, cana-de-açúcar, mandioca e café – deve ser 10,55% inferior, atingindo 1,382 milhão de toneladas. 

Vale notar que a Companhia de Abastecimento Nacional Conab e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apresentam metodologias diferentes para seus cálculos. O órgão de pesquisa considera a produção dos 12 meses do ano em seus cálculos, ao passo que a estatal leva em conta os calendários das safras. Outra diferença é a abrangência: enquanto a Conab foca na safra de grãos, o IBGE inclui também fruticultura, café, mandioca e cana-de -açúcar em seu levantamento, além de cereais, leguminosas e oleaginosas.

Caso o prognóstico da Conab para a safra de grãos do Amazonas se confirme, o resultado ficará também 2,6% inferior ao projetado pela estatal, no começo do ano (56.000). Com isso, a área de plantio e a produtividade da safra de grãos do Amazonas também trocaram de sinal. A primeira foi corrigida dos 22.700 anteriores para 19.600 hectares, o que sinaliza um tombo de 9,7% na comparação com os resultados somados em setembro do ano passado (21.700 toneladas)

O Estado segue na direção contrária da região Norte e da média brasileira, que tiveram suas estimativas corrigidas para cima em 13,4% e 6,7%, respectivamente. O índice de crescimento do Estado permaneceu no penúltimo lugar do ranking nacional, ficando atrás das crescentes médias brasileira (+6,2%) e da região Norte (+14,1%). Ficou na frente apenas do Rio Grande do Sul (-34,9%) e bem atrás de Santa Catarina (-3,4%).

As apostas para a soja (+4,7% e 13.500 toneladas) foram mantidas no décimo levantamento da estatal, mas já se espera um crescimento mais modesto também para o milho (+3% e 23.800 toneladas), que até então vinha com projeções de alta na casa dos dois dígitos. O índice de queda aguardado para o arroz aumentou para 50% e a estimativa agora é que a safra não passe das 8.100 toneladas – contra as 16.200 do período anterior. O cálculo para o feijão foi mantido em 2.400 toneladas, sinalizando empate com a safra de 2020/2021.

Em seu boletim, a Conab só menciona o Amazonas no caso da cultura do milho. A estatal destaca que seu plantio acontece logo após a colheita de soja, mas acrescenta que o clima não ajudou. “As chuvas acabaram prolongando o início da semeadura desta safra 2021/22. No momento atual, a cultura se encontra em processo inicial de maturação, com exceção do município de Boca do Acre, que já se encontra em processo inicial de colheita”, informou.

Mandioca e fruticultura

Já o LSPA (Levantamento Sistemático da Produção Agrícola) do IBGE, que engloba também café e fruticultura, aponta que a safra agrícola do Amazonas deve sofrer recuo de 10,55% entre 2021 e 2022, de 1,545 milhão para 1,382 milhão de toneladas. As expectativas para as áreas de plantio (145.946 hectares) e colheita (127.873 hectares), entretanto, seguem as mesmas do ano passado. Em contrapartida, as expectativas para a safra brasileira são de um novo recorde para este ano, especialmente no caso de cereais, leguminosas e oleaginosas (+3,2% e 261,4 milhões de toneladas)

A queda de produção no Amazonas é puxada principalmente pela mandioca, carro-chefe do setor agrícola do Estado, que chegou a alavancar os números dos anos passados. O IBGE projeta que a produção deve ficar em 852.867 toneladas neste ano, 18,57% a menos do que o registrado no ano passado (1,047 milhão). Em contraste, o minoritário segmento de cereais, leguminosas e oleaginosas aparece com projeção de crescimento de 10,23%, e 31.369 toneladas – com destaque para o milho (+17,04% e 21.940 toneladas)

Outros dados negativos do setor agrícola do Amazonas vêm da fruticultura: cacau (-7,16% e 936 toneladas) e laranja (-2,21% e 78.294 toneladas), banana (-1,86% 146.857 toneladas) contam com estimativas de queda. O café aponta novamente estabilidade, tanto para a variante arábica (1.836), quanto para a canéfora (2.679). A cana-de-açúcar (+13,98% e 267.297 toneladas) comparece com melhores números.

“Milho foi o produto responsável pelo aumento na produção estadual de cereais e leguminosas na previsão para a safra de 2022 do amazonas. Por outro lado, há previsão de queda para arroz e feijão. Já outros produtos da produção agrícola têm previsão pessimistas para 2022: banana, cacau, laranja e mandioca estão nesse grupo. Apenas a cana-de-açúcar têm previsão de aumento. Mas, esses ainda são números iniciais”, resumiu o supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques.

“Valorização de mercado”

Em entrevista anterior à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, concordou que o excesso de chuvas impactou na produção, mas reforçou que a percepção do setor privado é que milho e soja ainda demonstram perspectivas de crescimento na região. Segundo o dirigente, a redução do arroz poderia se dar por motivos comerciais, com os investimentos sendo redirecionados para outra cultura com mais valorização de mercado – especialmente a soja.

“É fato que a produção de grãos em nosso Estado enfrenta desafios para sua expansão, principalmente as questões relativas à regularização fundiária e acesso a licenciamento ambiental. A produção de grãos deve ser estimulada em nosso Estado, em especial, nas áreas vocacionadas do Sul do Estado, pois precisamos diminuir a dependência de produtos importados de outros Estados e reduzir o custo de rações”, assinalou. 

Agricultura com sustentabilidade

O titular da Sepror (Secretaria de Produção Rural do Amazonas), Petrúcio Magalhães Júnior, também preferiu focar no longo prazo e lembrou que a produção de grãos do Estado vem crescendo ao longo dos anos, partindo de 38.700 toneladas, em 2019. O secretário estadual pontua que, a despeito da queda projetada, daquele ano até o atual, houve um salto de 24% na produção, quando comparado às 47.800 toneladas aguardadas para a presente safra. 

“Entendo que a redução do arroz ainda será revista. Embora estejamos no bioma amazônico, temos áreas de campos naturais com potencial para produção de grãos e pecuária sustentável. Não só o Brasil, mas o mundo, precisa conhecer nossa imensidão territorial, diversidade cultural e edafoclimática [relativo ao clima e ao solo]. Temos tecnologias de produção, em especial da Embrapa, para que o nosso Estado possa produzir alimentos e manter a floresta em pé para a sobrevivência do planeta”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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