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PIB no Brasil na menor fase da série histórica

PIB no Brasil na menor fase da série histórica

Impactado pelo avanço da pandemia e das medidas de distanciamento social, o PIB do segundo trimestre mergulhou mais fundo do que se esperava. A soma dos bens e serviços produzidos no Brasil totalizou R$ 1,653 trilhão, em valores correntes, ficando 9,7% abaixo da marca do trimestre anterior. Foi a segunda queda trimestral seguida e o menor resultado para a economia desde o início da série histórica, em 1996. Os dados foram divulgados pelo IBGE, nesta terça (1º). 

Na comparação com o mesmo período de 2019, o recuo foi ainda mais severo: -11,4%. Após rever a queda registrada pelo PIB entre janeiro e março deste ano – de -1,5% para -2,5% –, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística informa que a economia acumulou queda de 5,9% no primeiro semestre. Com isso, o PIB nacional foi reduzido ao mesmo patamar do final de 2009, auge dos impactos da crise global provocada pela onda de quebras na economia americana.

Lideranças e especialistas ouvidos pelo Jornal do Commercio dizem que o número não surpreendeu, em face do fechamento geral de lojas de comércio e serviços, e da paralisação quase que total do PIM, no mesmo período. As fontes concordam que o segundo trimestre aparenta ter sido o fundo do poço da crise da covid-19, mas se dividem quanto ao andamento da economia no médio prazo, dadas as incertezas em relação às contas públicas e eventuais repiques no números de casos da doença no Amazonas e no Brasil.   

A queda livre do PIB foi puxada essencialmente pelas retrações históricas em indústria (-12,3%) e serviços (-9,7%), que respondem por 95% das riquezas produzidas no país. A agropecuária foi no sentido contrario e avançou 0,4%, impulsionada principalmente pela produção de soja e café.

A manufatura sofreu impactos negativos das indústrias de transformação (-17,5%), construção (-5,7%), eletricidade, gás, água, esgoto e resíduos (-4,4%) e indústrias extrativas (-1,1%). Nos serviços, as maiores quedas foram em “outras atividades de serviços” (-19,8%) – que engloba serviços prestados às famílias –, assim como em transporte, armazenagem e correio (-19,3%) e comércio (-13%) – relacionados à indústria de transformação. 

Consumo e investimentos

Pelo lado da demanda, a maior queda foi no consumo das famílias (-12,5%), que representa 65% do PIB. O consumo do governo recuou 8,8%, muito por conta das quedas em saúde e educação públicas. Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) também foram para trás (-15,4%), impactados pela construção e produção interna de bens de capital. 

No acumulado do primeiro semestre, o PIB caiu 5,9% em relação ao mesmo período de 2019, com desempenho positivo da agropecuária (1,6%), em detrimento da indústria (-6,5%) e dos serviços (-5,9%). Foi a primeira taxa semestral negativa desde 2017, quando o país ensaiava uma saída da crise econômica iniciada entre 2015 e 2016. 

“O futuro ainda é muito incerto, uma vez que temos boatos sobre uma segunda onda ou repique, que traria números piorados. A expectativa é que, caso tudo isso passe, tenhamos uma alavancagem sobre o segundo trimestre e, possivelmente, uma equalização a partir de julho de 2021. Muito vamos depender da questão pandêmica, que traz incertezas para os investidores. Temos também a Reforma Tributária, que acaba deixando uma insegurança jurídica em cima da Zona Franca”, listou o presidente do Sindicato dos Economistas do Amazonas, Marcus Evangelista. 

“Planejamento e medidas”

Para o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, os números do IBGE mostram um retrato correto da dinâmica econômica no segundo trimestre de 2020. O dirigente assinala que abril apresentou “o pior resultado dos últimos tempos” para a indústria incentivada, levando o setor a começar o segundo semestre com paralisação de empresas e redução de jornadas, entre outros entraves.

“Esses problemas se estenderam para o mês de maio, com o prolongamento do pico da crise provocada pela Covid-19. No último mês do segundo trimestre, que é junho, os resultados econômicos começaram a melhorar, principalmente os da indústria. A partir de julho, ou seja, início do terceiro trimestre, os dados econômicos tornam-se mais consolidados, prenunciando uma recuperação mais consistente”, amenizou. 

O presidente da Fieam diz que não acredita na possibilidade de repique nos números da pandemia, já que estaria havendo um decréscimo de casos e de morte por covid-19, no Amazonas. Quanto ao equilíbrio das contas públicas, Antonio Silva considera que são normais as dificuldades, após uma crise tão forte, que atingiu todas as nossas atividades. 

“Após uma crise de tão grandes proporções, invariavelmente, teremos desequilíbrio orçamentário. Mas, este pode ser contornado com planejamento e medidas de contenção de gastos. No segundo mês deste trimestre, agosto, também esperamos resultados positivos para a indústria”, afiançou.

“Águas revoltas”

No entendimento do titular da Sedecti (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jório Veiga, a pior fase da crise da covid-19 já passou e foi, justamente, no segundo trimestre. O secretário estadual estima que, embora a recuperação não se dê da mesma forma e na mesma velocidade em todos os setores, a trajetória de curto prazo é ascendente.

“A expectativa que tenho é bastante positiva, considerando o cenário que passamos, com boas vendas até o fim do ano. Vemos que vários segmentos estão vendendo bem e que, em alguns casos, temos até falta de produtos, o que preocupa um pouco. Mas, logo deve estar equilibrado. No caso do setor de serviços demora mais um pouco. Turismo e refeição fora do lar, por exemplo, ainda sofrem muito com as limitações impostas e o temor da população. No geral vejo uma recuperação em marcha”, asseverou.

Indagado sobre as perspectivas de um auxílio emergencial cortado pela metade em um cenário de desemprego em alta e represamento do consumo, o secretário estadual assinalou que, embora estas sejam situações preocupantes, as atividades econômicas estão se normalizando no Estado, garantindo que pelo menos parte da população esteja retomando o trabalho.

“Isso é o que estamos vendo. Mas, não podemos depender tanto do auxílio emergencial. Teria de haver, como está havendo, um processo de ‘desmame’, muito importante neste momento. A regularização total, creio eu, só se dará com o advento da vacina e de uma maciça campanha. Aí, sim, teremos a tranquilidade. Até lá, vamos navegar por águas revoltas. Temos que ser cautelosos e confiantes. As coisas estão indo na direção certa”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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