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Para analistas, retomada leva tempo

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A recuperação da produção industrial, que ainda tentava se firmar, ganhou fôlego em junho, com alta de 1,1%, na margem. Com as revisões promovidas pelo IBGE, agora trata-se do quarto ganho mensal consecutivo. Na comparação anual ainda houve queda, de 6,0%, mas o ritmo foi o menor em 13 meses. Mesmo assim, analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, apontam que a retomada da indústria para os patamares anteriores à crise vai levar tempo e lembram que o setor perdeu muito espaço na economia brasileira nos últimos anos.
“O quadro vem melhorando aos poucos, mas ainda estamos muito longe de recuperar as perdas do passado recente”, afirma o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa. Para ele, a produção industrial deve fechar com queda de 6,0% em 2016, após o tombo de 8,2% no ano passado. O sócio e diretor da MacroSector, Fabio Silveira, vê um ajuste ainda mais forte este ano, com retração de 7,5%. “Continuamos com o ajuste fortíssimo na indústria e não há perspectiva de melhora acentuada, mas de melhora suave e discreta nos próximos meses, porque as condições do mercado de trabalho, do consumo e do crédito estão fragilizadas. As exportações, que poderiam ajudar, também não vão crescer nos próximos meses”, aponta.
O Banco Fator afirma que o movimento da indústria nos últimos meses mostra que o fundo do poço já ficou para trás, o que é corroborado pela melhora nos indicadores de confiança das empresas. Mesmo assim, ainda vê queda de 6,2% este ano. “Apesar dos estoques elevados ainda inibirem a produção, a melhor gestão macroeconômica e o avanço de reformas devem continuar impulsionando a retomada da confiança e ajudar a indústria a se recuperar no segundo semestre”, diz o Banco Votorantim em relatório enviado a clientes.
O economista da Tendências Consultoria, Rafael Bacciotti, também tem uma visão mais otimista. Ele aponta que a alta em junho ante maio foi bastante disseminada, com avanço em 18 dos 24 setores. O analista explica que, em bens de capital, o crescimento foi de 2,1% em junho, marcando o sexto ganho consecutivo. “A produção de bens de capital está sendo direcionada para o mercado externo”, indica. Mesmo assim, segundo o IBGE, a produção de bens de capital ainda opera 41,3% abaixo do pico histórico alcançado em setembro de 2013. Na indústria em geral, a produção está 18,4% menor do que o pico.
A consultoria britânica Capital Economics lembra que, com alta nos três meses do segundo trimestre, a indústria deve ter contribuído positivamente para o PIB do período, o que não acontecia desde o primeiro trimestre de 2014. Essa contribuição é estimada em 0,2 ponto porcentual. “Tudo somado, nós permanecemos confortáveis com nossa visão de que as condições econômicas no Brasil vão continuar a melhorar gradualmente nos próximos trimestres”, afirma o relatório assinado pelo economista para mercados emergentes, Edward Glossop.
O Bradesco também aponta para a contribuição positiva da indústria no PIB e diz ainda que a melhora em bens de capital e em insumos típicos da construção civil sugerem variação positiva da formação bruta de capital fixo (FBCF) no segundo trimestre. Mesmo assim, o banco estima contração de 0,3% na economia brasileira no período, na margem.
Entre os representantes do setor, o otimismo é cauteloso. O presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), Humberto Barbato, estima que a produção física deve cair 10% este ano, enquanto o faturamento da indústria deve recuar 8% em termos reais.
“Nossa sondagem mostra que o nível de confiança deverá melhorar no segundo semestre, mas há ainda algumas surpresas”, afirma, apontando que as demissões em junho no seu segmento foram maiores do que o esperado. Além disso, os industriais têm reclamado que a queda do dólar nos últimos meses pode afetar as exportações, que vinham sendo um destaque positivo.

Confiança em alta, com saldo positivo desde fevereiro

A confiança da indústria, que vem subindo ininterruptamente desde fevereiro deste ano, deixou de ser guiada apenas por uma expectativa de crescimento da economia no médio prazo e passou a contar, em julho, com uma percepção melhor e mais consistente do momento atual, avalia o economista Aloisio Campelo Jr, superintendente adjunto para Ciclos Econômicos do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
A análise de Campelo se sustenta nos dados obtidos pela sondagem da indústria feita mensalmente pela FGV. Em julho, o Índice de Confiança subiu 3,7 pontos em relação a junho, para 87,1. A alta foi puxada principalmente pelo ISA (Índice de Situação Atual), que avançou 4 pontos, para 85,2 pontos. O IE (Índice de Expectativa), por sua vez, teve crescimento de 3,3 pontos, para 89 pontos. Foi a primeira vez, desde março, que o indicador de percepção do momento atual subiu mais que o indicador que mede as expectativas dos empresários para os próximos meses.
Ocorre que, nas ocasiões anteriores em que o ISA avançou mais que o IE, o aumento se deu apenas por um alívio pontual nos estoques e não por uma percepção geral de melhora da economia, explica o economista. Tanto que, nestas ocasiões, as altas eram mais tímidas, de 1 ou 2 pontos. Dessa vez, ao subir 4 pontos, o índice teve seu maior avanço na comparação contra o mês anterior desde agosto de 2012.
Além dos estoques, os empresários também têm notado uma expansão gradual da demanda interna, que saltou 5,7 pontos em julho, para 85,6, e na percepção da situação atual dos negócios, que teve aumento de 8 pontos, para 83,1. Neste último, leva-se em consideração fatores como lucratividade, taxa de câmbio, taxa de juros e capital de giro.
Segundo o economista, o avanço da percepção sobre a demanda é resultado de quedas menores na massa salarial e de uma redução no endividamento das famílias, este último percebido nas pesquisas de sondagem do consumidor. “Abre-se um espaço no orçamento doméstico das famílias para compras de bens de valor um pouco menor”, afirma o economista, ponderando que o consumo de bens mais caros, como um carro ou um imóvel, deve levar mais tempo para se recuperar.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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