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Opinião Econômica – “Surfar a onda”

É preciso que o país persista em políticas como corte de
juros, expansão do crédito e desoneração da produção

A RECESSÃO reduziu pela metade o número de milionários na Inglaterra. Em 2007, eram 489 mil pessoas. Agora, são 242 mil. A redução foi considerada dramática pela imprensa inglesa, principalmente porque o instituto que faz regularmente essa pesquisa (CEBR, na sigla em inglês) estimara anteriormente que haveria 760 mil milionários em 2010.
Uma grande parte desses ingleses havia chegado à condição de milionário principalmente em razão dos astronômicos aumentos dos preços dos imóveis de 2003 a 2007. De qualquer forma, a sensação de empobrecimento fez muito mal à economia britânica, porque teve efeito direto na contenção do consumo.
O que ocorre na Inglaterra também se dá em outros países ricos, onde a sensação de empobrecimento é a principal característica da atual crise. Segundo o FMI, neste ano o PIB vai se contrair em 4,0% na Inglaterra, em 2,7% nos EUA, em 6,2% no Japão, em 5,6% na Alemanha, em 2,9% na França e em 4,5% na Itália. Mas os cidadãos desse grupo de países conhecido como G6 sentem que empobreceram bem mais do que esses números indicam, porque seus bens e ativos (imóveis, ações etc.) tiveram desvalorizações muito mais fortes.
A percepção de empobrecimento é menor em países emergentes, entre eles o Brasil. Jim O’Neill, economista do Goldman Sachs, em seu famoso estudo sobre os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), previu que esses quatro emergentes teriam em 2010 um PIB equivalente a 21% do PIB do G6. Essa previsão, que parecia exagerada, mostrou-se conservadora. Já em 2009, por conta dos efeitos da crise, o PIB dos Brics, segundo projeções do FMI, representará quase 30% do PIB do G6, mesmo com o péssimo desempenho da Rússia.
Passados quase nove meses desde o colapso de setembro, está claro que a atual crise, ao contrário de outras das últimas décadas, atingiu muito mais drasticamente o mundo desenvolvido do que o emergente. Para o Brasil, a crise pode vir a ser um fator impulsionador de sua influência internacional pela posição de liderança na produção de alimentos. Segundo estudos da FAO, o mundo terá de dobrar sua produção de alimentos até 2050, para atender às necessidades de uma população projetada em 9 bilhões de pessoas. Com terras agricultáveis disponíveis que podem chegar a 200 milhões de hectares, o Brasil será, de longe, o principal país beneficiado por essa corrida para a segurança alimentar nas próximas décadas.
Ironicamente, portanto, pelo menos até agora, a crise global atinge mais os milionários da Inglaterra e dos EUA do que os pobres do Brasil ou da Índia. E é muito bom que seja assim.
Esse novo cenário mundial certamente é responsável pela grande entrada de investimentos diretos no Brasil nos primeiros quatro meses do ano –US$ 4.6 bilhões, praticamente o mesmo valor de igual período do ano passado, quando a economia estava superaquecida. A indústria automobilística, por exemplo, que vive um inferno astral no primeiro mundo, faz pesados investimentos no Brasil –US$ 1.9 bilhão no quadrimestre.
A convicção mundial é que as economias desenvolvidas devem enfrentar um longo período de estagnação mesmo depois de superada a crise. Em contraposição, do mundo emergente espera-se uma volta rápida ao consumo.
Para o Brasil, portanto, trata-se de uma onda a ser surfada, persistindo-se em políticas de combate à crise que estão dando certo: corte de juros (amanhã é dia disso), expansão do crédito, desoneração de produção, estímulo geral à atividade produtiva e investimento público em infraestrutura e habitação.

Artigo fornecido pela agência Folhapress

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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