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Mulheres e o saber sobre peixes

Nossos peixes são os mais diversificados e gostosos do planeta e quem é amazônida de raiz jamais os trocaria por qualquer outro peixe. Bem preparados, então, são irresistíveis ainda mais quando quem os trata na cozinha são mulheres, e mulheres que vieram do interior, ou herdaram de seus pais e avós do interior, a tradição de saber os cortes, os temperos e a forma correta de assá-los, cozinhá-los, fritá-los, ou colocá-los numa caldeirada. Nayara, Soraya e Débora são três exemplos dessas mulheres e para provar que dominam o trato de peixes, as três estão à frente de peixarias.

Capitão ou soldadinho?

O pai de Nayara Marinho nasceu em Eirunepé (foi amigo de infância de Amazonino Mendes) e, em Manaus, a levava para a feira, ensinando como escolher os melhores peixes.

“Em 28 de junho de 2020, em plena pandemia, resolvi abrir a Taboa Peixaria. Taboa é uma planta aquática. Me considero uma especialista em peixes porque aprendi muito com meu pai José Maurício. Na casa de minha avó Lucinda, em Eirunepé, a família se reunia em torno de uma mesa para comer peixes. Eu sentia muita falta disso, por isso um dos itens de nosso cardápio é a caldeirada com receita da minha avó”, avisou.

Cada ano Nayara denomina seu cardápio como uma fase. A primeira foi ‘Pai’, com os ensinamentos que recebeu dele; a segunda foi ‘É dela’, relacionada aos ensinamentos recebidos da mãe, que nasceu em Óbidos/PA; a terceira foi ‘Caboquinhas da terra’ em homenagem às mulheres que trabalham na Taboa, todas do interior, e que dão idéias para o cardápio. Paula é a peixeira que fornece, diariamente, os peixes para o restaurante; e a quarta fase é ‘Raízes’, as quais devem ser motivo de orgulho.

“E cada ano, um novo cardápio, para que conheçamos os variados sabores amazônicos”, explicou.

Em outubro, Nayara ficou em segundo lugar no concurso ‘Bar Em Bar’ com o petisco ‘Capitão de batata doce’.

“É aquele montinho de peixe, que nossas mães faziam com as mãos, para nos alimentar quando crianças. Em alguns lugares é conhecido como soldadinho. Em breve vou lançar um prato com o palmito da taboa”, informou.

A Taboa Peixaria tem dois ambientes: o Salão Floresta, refrigerado; e o Salão Rio Negro, com uma bela vista para o majestoso rio.

Parintinenses querem bodós

A parintinense Soraya Cohen é culinarista desde os 15 anos quando fez o curso de ‘arte culinária’.

“Mas fazer comidas é herança familiar, principalmente peixes”, falou.

Soraya está à frente da cozinha da Peixaria Japurá, de propriedade de seu irmão Sirlan e da cunhada Elizabeth, movimentando os finais de semana a partir das 17h. A peixaria existe há oito anos, mas agora Soraya lançou um cardápio bem parintinense.

“Tem o ‘pavulagem de bodó’; a ‘mania de sinhazinha’ (almôndegas de peixe); o cuscuz do pajé (filetes de pirarucu no cuscuz); a ‘mania de arraial’ (pirarucu desfiado); e o ‘escondidinho em saias de sinhazinha’ (picadinho de tambaqui), apenas para citar alguns”, disse.

“Teve uma época, no auge do boi bumbá, em Parintins, cheguei a vender cerca de 1.500 bodós em quatro dias, e aqui não tem sido diferente. Os parintinenses vêm em peso à peixaria e pedem bodós”, revelou.

Soraya prepara ainda a ‘moqueca amazônica’, o ‘escabeche a japurá’, a ‘caldeirada à moda’, com tambaqui e tucunaré, e o ‘peixe na brasa’.

“Nossa caldeirada é engrossada com o cuí da farinha. O cuí é o pó da farinha, que muita gente joga fora, mas é excelente na caldeirada. E não pode faltar o famoso e genuíno tacacá de Parintins”, adiantou.

Outro detalhe nos pratos de Soraya são os temperos à base de ervas amazônicas, “mas também uso ervas marroquinas, como a canela, o cravinho e o louro”, contou.

“E ainda lançamos um prato panc: massa parafuso de arroz ao molho pesto de melancia, jambu, folhas de urtiga e orégano”, completou.

Tambaqui é o preferido

Débora Renata nasceu no Careiro. É da primeira turma de gastronomia, de 2013, da Fametro, em Manaus. Desde que se formou, nunca mais parou de trabalhar em restaurantes. Seus primeiros passos na culinária foram dados com a ajuda da mãe, Magali, a dona Biga, nascida em Eirunepé, às margens do rio Juruá, coincidentemente o mesmo nome da peixaria que Débora e seu marido José Hélio reabriram em outubro. Porém, os dotes de dona Biga não iam muito além do cozidão de peixe. Débora aprendeu porque sempre busca o novo.

“A Peixaria Juruá existe há uns 20 anos, mas por problemas familiares, estava fechada, então deixamos nosso restaurante Point Gourmet, no Careiro, e assumimos aqui”, afirmou.

Débora trouxe itens do cardápio do Point Gourmet, como as carnes vermelhas: carne de sol na pedra e picanha, mas manteve todo o cardápio da Peixaria Juruá atendendo aos clientes que já estavam fidelizados com o lugar.

“O que mais pedem é a banda assada de tambaqui, mas esse peixe também pode ser encontrado na caldeirada, com o filé ou com a costela; no grelhado; e no tambaqui com creme de camarão. O segundo peixe mais solicitado é o matrinchã, que iremos lançar em breve”, garantiu.

“Aqui na peixaria servimos peixes fritos, assados e caldeiradas. Os que saem fritos são tradicionalmente o pacu, a sardinha e o jaraqui. Por enquanto ainda não temos pirarucu no cardápio. Depende da vontade dos clientes. Se eles pedem, nós atendemos. Vamos testando de acordo com as preferências”, concluiu.       

Para conhecer

Taboa Peixaria, Educandos – fone: 9 9197-2112

Peixaria Japurá, Centro – fone: 9 9145-6654

Peixaria Juruá, Cidade Nova – fone: 9 9139-9071

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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