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Muiraquitãs, os amuletos amazônicos

 

Evaldo Ferreira: @evaldo.am

Muiraquitãs são pequenos amuletos esculpidos por indígenas em algum tipo de rocha. Há muito conta-se a lenda das guerreiras icamiabas que subiam até o Espelho da Lua, um lago existente no cume de um morro localizado no município de Nhamundá. As guerreiras, então, nadavam até o fundo do lago e lá coletavam pequenas pedras esverdeadas nas quais esculpiam os muiraquitãs depois dados a guerreiros de outras tribos atacadas por elas. Esses guerreiros deveriam ser os pais de suas futuras filhas, que ficariam com elas após o nascimento enquanto se nascessem meninos, estes eram entregues ao pai. Verdade, ou não, o rio que banha as terras do entorno do morro onde está o Espelho da Lua é o Nhamundá, o mesmo em cuja foz, em 1542, o cronista da viagem de Francisco de Orellana, o frei Gaspar de Carvajal diz ter visto mulheres, as icamiabas confundidas por ele com as guerreiras gregas amazonas, lutando como homens. As icamiabas viviam em tribos isoladas formadas somente por mulheres.

Os séculos passaram e os muiraquitãs chegaram até os dias de hoje mantendo a aura de que são poderosos amuletos e, ainda que não sejam, podem ser considerados mais um dos símbolos amazônicos, pendurados em colares. Foi pensando nesse atrativo dos muiraquitãs que o artista plástico Jessé Araújo, além dos quadros que pinta, resolveu esculpi-los em diversos tipos de pedra. Para ele as pequenas peças, geralmente no formato de sapos, os mais característicos, nunca deixaram de lhe trazer sorte, pois compradores não faltam.

“Os compradores fazem a propaganda boca a boca e assim as vendas existem desde 2005, quando comecei a esculpir os muiraquitãs”, informou.

Mais e menos duras

Jessé esculpe seus muiraquitãs em diversos tipos de rochas adquiridas em sites, de acordo com a escolha do cliente.

“São várias as rochas, cada uma com características específicas, umas mais fáceis, outras mais difíceis de serem trabalhadas, mas todas acabam ganhando a forma que eu desejo”, disse.

A pedra-sabão, por exemplo, de acordo com Jessé, é uma das mais fáceis de ser trabalhada por conter grande quantidade de talco em sua composição, por isso também é denominada de pedra de talco. Seu nome científico é esteatita e é popularmente chamada de pedra sabão por parecer oleosa.

“A pedra pomes é menos dura, ainda, do que a pedra-sabão. Tão leve que chega a flutuar na água. De origem vulcânica, ela resulta de uma espuma de rocha em fusão, que depois solidifica”, ensinou.

Outros minerais utilizados por Jessé são quartzo rosa, jade, basalto, arenito, limestone, e amazonita.

“O quartzo rosa é difícil de trabalhar porque, geralmente, apresenta muitas falhas, mas dá para esculpir os muiraquitãs. As mulheres gostam muito de peças com essa pedra porque, por causa de sua cor rosa, é considerada o símbolo do amor. O quartzo rosa é a variedade mais valiosa entre os quartzos translúcidos”, explicou.

“Já a dificuldade em trabalhar o jade é devido à sua dureza. Chega a ser mais resistente do que o aço, ainda assim, civilizações antigas conseguiam transformar esse mineral em machados, facas e armas. Também era utilizada como ornamento religioso. É uma pedra valiosa, principalmente a verde-esmeralda”, acrescentou.

Amazonita, homenagem ao rio Amazonas

O basalto, de cor escura, também é um mineral bastante duro e um dos mais abundantes na crosta terrestre. Devido à sua dureza, é bem utilizado na construção civil. O arenito, como o nome já diz, é resultado de uma compactação de areias, inclusive quartzo. Sua cor mais comum é a avermelhada como resultado da concentração de óxidos de ferro em sua composição. O limestone é um nome ainda pouco conhecido, mas que vem ganhando destaque na construção civil por causa das suas tonalidades que vão do bege ao cinza.

Agora quem quer ter mesmo um amuleto com as máximas características amazônicas dos amuletos utilizados pelas icamiabas e indígenas do baixo Amazonas, deve usar no colar um sapinho esculpido numa amazonita, a pedra esverdeada resultante da mistura de silício, oxigênio e cobre em sua composição.

Apesar dessa rocha ser encontrada em vários países, a amazonita recebeu esse nome em homenagem ao rio Amazonas, pois era a pedra utilizada, em séculos passados, pelos indígenas do baixo Amazonas para esculpir os famosos, e hoje raros (originais), muiraquitãs em formato de sapinhos.

Tão famoso era o poder dos muiraquitãs que, no século 19, pesquisadores que andavam entre os indígenas, os transformavam em pó para tomar no chá a fim de curar doenças.

Durante a construção da hidrelétrica de Balbina (1985/1989) um muiraquitã de poucos centímetros foi achado por arqueólogos que trabalhavam na área a ser alagada. O pequeno sapinho estava quase sob as rodas de um trator que passou raspando em um de seus pés. Misteriosamente o amuleto sumiu de dentro de uma gaveta numa sala onde só entravam arqueólogos, e até hoje nunca mais foi visto.

Enquanto isso, quem corre atrás da sorte é Jessé que fatura uma ‘grana’ com os amuletos que vende.

Informações: 9 9393-9341.         

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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