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Livro mostra a saga de defesa dos povos locais do Amazonas

Manaus se formou a partir de várias etnias que se agruparam no entorno do forte de São José da Barra, a partir de 1669. Até hoje, 352 anos depois, os indígenas continuam a sair de suas aldeias e comunidades, no interior do Estado, para vir morar na capital em busca de situações melhores de sobrevivência. São essas questões que o professor Amilcar Aroucha Jimenes põe em evidência no livro ‘Sobre flechas e canetas – faces da política indígena em Manaus (1980-2019)’, que será lançado pela Editora Valer, no sábado, 23, Nessa entrevista ao Jornal do Commercio, Amilcar fala um pouco do conteúdo do livro e de sua experiência de dez anos junto aos indígenas urbanos.

O lançamento acontecerá durante a Manhã Cultural, promovida aos sábados pela Valer, das 8h às 11h, no Parque do Mindu.    

Jornal do Commercio: Qual o objetivo do seu livro ‘Sobre flechas e canetas – faces da política indígena em Manaus (1980-2019)’?

Amilcar Aroucha Jimenes: Em primeiro lugar o objetivo é somar esforços com outros trabalhos já publicados sobre o tema. Em segundo lugar, pelo entendimento de que a política indígena é um fenômeno importante para a história recente. Do mesmo modo, a presença indígena em grandes centros urbanos é uma realidade cada vez mais visível. Em Manaus, especificamente, observo a existência de uma contradição muito clara: a celebração de aspectos da herança indígena em sua história e, ao mesmo tempo, a impossibilidade de entender os indígenas como efetivos participantes desta grande ‘aldeia urbana’. Nesse sentido, trata-se de mais uma tentativa de adensar o debate público, que por sinal tem sido, na medida do possível, magistralmente colocado pelas próprias organizações indígenas hoje atuantes na capital amazonense.

JC: Como você conseguiu informações sobre os vários povos indígenas citados no livro? Isso demonstra que cada vez mais indivíduos desses povos estão vindo para a cidade.

AA: Tive a oportunidade de conhecer muitos dos núcleos comunitários indígenas hoje existentes em Manaus, graças à rede de interlocutores (indígenas) que me levaram a esse campo ao longo da pesquisa. Inicialmente as atividades se realizaram na comunidade Tikuna, no bairro Cidade de Deus. Com o passar dos anos fui conhecendo indivíduos de outras comunidades, o que me proporcionou construir a base documental que resultou no livro.

JC: Como está a convivência dos povos indígenas que vivem em Manaus pois, como no passado, eles sempre buscam essa convivência com os brancos?

AA: A situação é muito diversa. Podemos falar, portanto, em situações. Existem desde grupos que hoje vivem em centros urbanos, como em Manaus, a grupos majoritariamente localizados em aldeias, dos mais diversos tipos, no interior do Estado. O que muitas vezes chamamos de ‘busca por convivência’, nada mais é que o desdobramento do próprio processo colonial. Ao mesmo tempo, não vejo qualquer contradição no fato de o indígena residir em um centro urbano, e continuar se afirmando como tal. A experiência dos coletivos em Manaus têm provado isso.

JC: Indígenas nus, no meio das matas, é coisa do passado?

AA: De modo algum. Sabemos que existem alguns grupos ‘isolados’, em diversos pontos da região amazônica, por exemplo. Se estão nus, ou não, talvez não seja a questão mais importante.

JC: Já passou da hora de torná-los independentes do Estado?

AA: Depende do que entendemos como independência. Se estivermos falando do aspecto socioeconômico, produtivo e territorial, as próprias sociedades indígenas têm, historicamente, manifestado profundo interesse em se tornar cada vez mais autônomas. E já temos alguns exemplos exitosos nesse caminho. Sabemos, no entanto, que o processo colonial ocasionou em desarranjos sociais e territoriais que precisam ser resolvidos. O Estado brasileiro tem esse desafio histórico de propor soluções em favor de uma coexistência harmoniosa com os diversos segmentos minoritários atualmente existentes no país. Isso depende da mobilização dos próprios interessados, o que tem sido feito de maneira intensa nas últimas décadas, investimento, tempo e, acima de tudo, abertura ao diálogo. Toda essa discussão também está sendo desenvolvida no âmbito das comunidades indígenas urbanas.

JC: Seu livro é indicado para que tipo de leitor?

AA: O livro foi concebido tanto para especialistas quanto para o público em geral. De modo mais amplo, para todos aqueles que tenham interesse em compreender aspectos da política indígena, e de como esta vem superando, com todos os seus dilemas, os desafios de se afirmar em um espaço urbano.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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