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Linguística na formação do alfabetizador

Já faz algum tempo que os pensadores das questões educacionais vêm discutindo que conhecimentos são imprescindíveis na formação do educador alfabetizador. Este necessita, para muitos estudiosos da alfabetização, dominar a organização do sistema oral e gráfico da Língua Portuguesa, cujo objetivo é compreender as dificuldades linguísticas de seus alunos e auxiliá-los na superação das mesmas de maneira competente. A maneira como a escola vem tratando as questões relacionadas à fala, à escrita e à leitura na alfabetização é, sem dúvida alguma, superficial. Segundo Luis Carlos Cagliari, a escola precisa de docentes com formação acadêmica consistente. Para o citado autor, há uma enorme preocupação com as questões de ordem pedagógica, metodológica e psicológica e muito pouco com as de ordem linguística.
Ainda para o mesmo autor, “ […] a linguística moderna tem uma contribuição muita valiosa e indispensável ao ensino do português, inclusive da alfabetização”. Concordamos com a assertiva do Professor Cagliari, considerando que o educador alfabetizador, com formação lingüística, leva certa vantagem sobre o alfabetizador tradicional no sentido de produzir um ensino de qualidade e mais adequado na aquisição das habilidades da leitura e da escrita. O alfabetizador é um professor que ensina uma língua. “Como pode-se ensinar uma língua sem conhecer sua estrutura e o seu funcionamento, bem como os mecanismos que permitem sua aquisição” (ROULET apud JOSÉ POERSCH).
Entendemos que o alfabetizador não precisa ser um especialista em linguística, mas deve dominar conhecimentos linguísticos, teóricos e práticos, a fim de que ele possa realizar um trabalho de qualidade em classes de alfabetização e não adote critérios como o “certo” e o “errado” para os diferentes dialetos apresentados por seus alfabetizandos. De acordo com Luis Carlos Cagliari “ o ‘certo’ e o ‘errado’ são conceitos pouco honestos que a sociedade usa para marcar os indivíduos e classes sociais pelo modo de falar […]. Essa atitude da sociedade revela seus preconceitos, pois marca as diferenças linguísticas com marcas de prestígio e estigmas”.
Não se quer dizer que, com os conhecimentos linguísticos incorporados pelo alfabetizador na sua formação, teremos respostas para os problemas da alfabetização e suas respostas não são algo definitivo. O alfabetizador que tem formação não só na área de linguística, mas também na psicolinguística e sociolinguística, pode fazer uso inteligente dessas três facetas do processo de alfabetização objetivando aperfeiçoar o seu trabalho. Para José Poersch “muitas dificuldades de leitura e escrita que atrapalha o aluno ao longo de todo o ensino fundamental e, às vezes mais adiante, podem ser dirimidas por um professor linguisticamente preparado”.
Se a alfabetização lida com a linguagem, conseqüentemente, vai exigir do educador alfabetizador, além dos conhecimentos didáticos, psicológicos e sociológicos, um conjunto de conhecimentos sobre a linguagem, a formação linguística do alfabetizador, devendo incluir no planejamento da alfabetização conhecimentos que abranjam: o estatuto da comunicação linguística (estrutura e funcionamento da linguagem); o perfil da língua básica (descrição da língua na qual a alfabetização será implantada); o quadro constrativo do código oral versus o escrito, entre outros (JOSÉ POERSCH). No entendimento de Suzana Alice Cardoso, o grande problema da alfabetização está relacionado à formação do professor. Segundo a autora, é preciso dar ao professor uma formação mais ampla que lhe permita visualizar a língua não apenas como um conjunto de regras postas nas gramáticas normativas, mas que se lhe dê a noção clara do papel social de uma língua, da flexibilidade de sua estrutura e da variação de formas que nela se pode registrar.
Para finalizar, podemos afirmar que o educador alfabetizador é um profissional da língua, e, exatamente por isso, além de conhecer as técnicas pedagógicas, deve ter conhecimentos básicos da linguística para melhor trabalhar com as variedades dialetais de seus alunos. Se o alfabetizador esta munido da linguística, com toda a certeza, sobrepõe-se ao alfabetizador tradicional.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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