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Liberdade sem igualdade é golpe na fraternidade

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A História não registra consenso sobre as origens da expressão Liberté, Egalité, Fraternité (Liberdade, igualdade, fraternidade), lema da Revolução Francesa. O fato é que essa bandeira permeia todos os movimentos que se insurgem contra o autoritarismo, o governo dos canhões. Dois personagens e suas épocas contribuíram para consolidar esse patamar cívico, a saber, Santo Agostinho, Século IV, em sua obra sobre a Moral da Igreja Católica, e Éttiene de La Boétie, filósofo francês que escreveu, no século XVI, o Discurso da Servidão Voluntária.

Para Agostinho, os fiéis “vivem na caridade, na santidade e na liberdade cristã”.  Por sua vez, La Boétie, precursor da filosofia política, como Maquiavel, seguiu a metodologia irônica dos pensadores renascentistas, que organizaram ferramentas filosóficas para neutralizar o autoritarismo católico da Igreja medieval e de todas as instâncias posteriores do poder abusivo. E se Maquiavel detalhou os instrumentos de conquista e manutenção do poder do Príncipe, La Boétie, sem saber, tratou de ajudar a derrubá-lo, razão pela qual, dois séculos depois, virou manual de conduta para derrubar o Rei e instalar a Revolução Francesa. 

No Discurso da Servidão Voluntária, ele descreve que toda tirania deve necessariamente basear-se numa aceitação popular.  A rigor, a maior parte do povo, por qualquer razão que seja, está de acordo com a própria subjugação. Para ele, o tirano não se estabelece se a maioria dos súditos não consentisse com esta obediência. Essa servidão voluntária se manifesta não apenas na manipulação totalitária de uma publicidade sutilmente opressiva na manipulação de valores, favores e pendores de uma agremiação, um grupo, ou de um guru, mascarado com vestes e poderes messiânicos que vão retirar os oprimidos da exclusão, da corrupção, para o banquete do consumo ilusório que os tornará membro do mundo igualitário.

Nos meados do Século XX, com Theódor Adorno, a Teoria Crítica avança com nuances mais sofisticadas com hierarquias de submissão em relação ao Messias de plantão,  e de autoritarismo que evolui com o servilismo. Adorno, um dos fundadores da Escola de Frankfurt, que fez a releitura do Marxismo e da Psicanálise, perseguido pelo Nazismo, veio para a América, onde escreveu a “Personalidade Autoritária”, publicada em 1950, um texto obrigatório para quem quiser conhecer a tirania na sociedade industrial.

Em contraste com o despotismo clássico, Adorno descreve a tirania na combinação de ideias e habilidades típicas da sociedade de consumo, ou do espetáculo, combinando crenças irracionais ou antirracionais. “O tirano ( a personalidade autoritária) é ao mesmo tempo esclarecido e supersticioso, orgulhoso de ser um individualista e sempre temeroso de não ser igual aos outros, ciumento de sua independência e inclinado a se submeter cegamente ao poder e à autoridade”. A estrutura de caráter que abarca essas tendências conflitantes já atraiu a atenção dos pensadores políticos e filósofos modernos, atentos aos riscos da desumanização da dinâmica psicossocial e implicações políticas no exercício do poder.

Com uma composição política eivada de atores noviços e de raposas movediças – estágio natural da mudança que se consolidará no amadurecimento da consciência política do eleitor brasileiro – contamos, ainda bem, com olhares de setores da mídia com independência critica, tanto para desmontar a oposição raivosa, que se mantém na trincheira, como para questionar a servidão voluntária do ativismo adesista, que confunde a opção liberal que zomba da igualdade e confunde fraternidade com esquerdismo da fisiologia e demagogia do nós contra eles, implodindo a comunhão verdadeiramente fraterna  e a partilha solidária em todos os níveis de que precisamos para mudar. Quem topa encarar?

* Alfredo Lopes é filósofo e ensaísta 

 

Alfredo Lopes

Escritor, consultor do CIEAM e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora
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