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Hermanitos, por uma nova vida

Fugindo da crise econômica que assola seu país, desde 2015 venezuelanos fogem da Venezuela e muitos buscam apoio em Manaus

Eles são tantos, chegando quase diariamente a Manaus, que apenas se estima a quantidade de homens, mulheres e crianças venezuelanos fugidos do regime ditatorial de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela. Dados da ACNUR (Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) estimam que mais de 200 mil venezuelanos estão em Manaus, hoje.

Em 2014, a Venezuela entrou em recessão econômica e, em 2015, a taxa de inflação havia atingido o valor mais elevado da história do país. Começou aí o êxodo do povo venezuelano, principalmente para o Brasil, via Roraima, depois Amazonas e o resto do país, aumentando o número de refugiados à medida que a situação do país vizinho piorava.

Em 2019 os amigos Túlio Duarte, Patrícia Pilatti e Anderson Mattos fundaram a Hermanitos, OSC (Organização da Sociedade Civil) cujo objetivo era oferecer acolhimento e contribuir na inserção de refugiados e migrantes venezuelanos no mercado de trabalho em Manaus.

“O Hermanitos já impactou mais de 15 mil pessoas em seus três anos de existência. Atualmente possui mais de 20 colaboradores diretos, brasileiros e venezuelanos, que formam uma equipe multicultural e multidisciplinar, assim como dezenas de voluntários. Possui quatro pilares: Inserção laboral, Apoio ao empreendedorismo, Qualificação, e Proteção”, falou Túlio, cofundador e diretor-presidente da Hermanitos com mais de 15 anos de experiência em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) de soluções tecnológicas avançadas.

O início da Hermanitos se deu a partir de visitas a abrigos em 2018. Buscando se aproximar e acolher os refugiados venezuelanos, inicialmente levando alimentos, os amigos ouviram suas histórias.

“Quando indagados sobre o que mais tinham necessidade, eram uníssonos em apontar a oportunidade de um trabalho para recomeçarem suas vidas. Assim as ações iniciaram com a elaboração de currículos e busca de oportunidades para inserção no mercado de trabalho”, lembrou.

História de vida

Três anos depois, entre as ações realizadas, destaque para os cursos de idiomas, sessões psicossociais, preparação para entrevistas de emprego, oficinas e jornadas de desenvolvimento profissional, captação de vagas, projetos de integração comunitária e de saúde e de incentivo ao empreendedorismo.

Ao todo, a Hermanitos já fez contato com mais de 200 empresas e instituições para sensibilizar sobre a importância da contratação de venezuelanos, indicando profissionais do seu banco de talentos e auxiliando jovens para o primeiro emprego ou estágio. Também possui uma plataforma que incentiva atividades nesse sentido: www.hermanitos.org.br.

A Hermanitos apoia 55 empreendedores venezuelanos que atuam nas áreas de beleza, gastronomia, confecções e eventos. Esses empreendedores receberam cursos de qualificação e assessoria para fortalecimento do negócio e dos processos produtivos, com diversas ações e até doações de equipamentos para o incentivo e melhoria do empreendimento.

“Destaco a história de Jennifer Olaizola Varela, empresária bem sucedida, proprietária de um estúdio de beleza, na Venezuela. Vivendo na pele a crise pela qual o país atravessa, decidiu deixá-lo com sua família para recomeçar em Manaus. Através da Hermanitos, teve oportunidade de atuar como professora na área de beleza e estética no Cetam (Centro de Educação Tecnológica do Amazonas), em seguida empreendeu na área de unhas e hoje é uma referência na cidade. É parceira da Hermanitos, oferecendo por meio de sua empresa, cursos de qualificação”, contou.

Profissionais qualificados

A Hermanitos possui um cadastro de mais de quatro mil famílias de venezuelanos e também realiza ações de proteção visando atender pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade, como doações de cestas básicas, até agora aproximadamente nove mil, apoio ao acesso à rede pública de saúde e também mutirões de saúde em sua sede com vacinação, consultas e palestras de orientação. Apoia ainda na realização de matrículas em escolas, orienta e dá suporte para retirada de documentos.

“A Hermanitos foi criada a partir do olhar de seus fundadores para a situação dos refugiados venezuelanos que chegavam a Manaus, então são o nosso público prioritário, mas já tivemos oportunidade de apoiar cubanos e colombianos”, explicou.

Sobre as pessoas falarem que os haitianos que chegam a Manaus, logo estão trabalhando, vendendo qualquer produto nas ruas, enquanto os venezuelanos só sabem pedir ajuda, Túlio explicou.

“Em 2018, uma população não indígena começou a chamar atenção pelo aumento repentino de sua presença nos semáforos, com placas de papelão buscando um trabalho e apresentando suas qualificações, pedindo uma oportunidade de trabalho. Aproximando-se dessas pessoas, percebemos entre elas: médicos, advogados, engenheiros, professores, dentre outros”, informou.

“Também são muitos os venezuelanos que buscam alternativas para geração de renda com a venda de água, banana frita, bolos, trufas e outros produtos. Assim como outros estrangeiros que contribuíram com o desenvolvimento da cidade como portugueses, sírio-libaneses, japoneses, que atuaram significamente para o desenvolvimento de Manaus, agora são os venezuelanos que estão ajudando a escrever a nossa história”, finalizou.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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