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Governo é inábil com Congresso e maior inimigo da Previdência, diz Marcelo

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O deputado federal Marcelo Ramos (PP-AM), presidente da comissão especial na Câmara que analisa a reforma da Previdência, disse na sexta-feira (10) que a decisão de outra comissão do Congresso de devolver o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para o Ministério da Economia atrapalha a articulação nos debates sobre mudanças na aposentadoria.

Segundo ele, a decisão da véspera não se trata de derrota do governo, porque legitimamente o Congresso tomou uma atitude baseada em padrões internacionais.

"Agora, a confusão que decorreu disso faz dar passos atrás [no debate da Previdência], porque criou conflitos internos dentro de partidos que têm simpatia pela reforma, criou conflitos com o presidente da Câmara [Rodrigo Maia], descumpriu um acordo construído anteriormente e, acima de tudo, bagunçou a pauta da Casa, porque agora temos cinco medidas provisórias trancando a pauta", afirmou Ramos após evento na FGV em São Paulo.

"O governo é muito inábil nesse trato com o Congresso. Hoje, o maior inimigo da reforma da Previdência é o governo", acrescentou.

O presidente Jair Bolsonaro havia aceitado recriar dois ministérios, o das Cidades e o da Integração Nacional, como moeda de troca para manter o Coaf sob o Ministério da Justiça de Sergio Moro.

Na quinta-feira (9), porém, a comissão especial do Congresso que analisa a medida provisória da reforma administrativa decidiu devolver o conselho para a pasta da Economia de Paulo Guedes, apesar do discurso do governo de que a permanência do órgão na Justiça era fundamental para o combate à corrupção.

"Sabe aqueles jogos de tabuleiro em que você joga o dado? O governo joga o dado e tira seis, só que cai em 'volte sete casas', ele sempre consegue isso", brincou Ramos.

Ele confirmou o calendário da comissão especial que trata da PEC (Proposta de Emenda à Constituição), com audiências públicas até o fim de maio e previsão de discussão da matéria ao longo de junho.

"Do fim da audiência pública em diante, o tempo não é mais o meu, é o da política, da capacidade de o governo e dos líderes políticos articularem os votos necessários para a matéria. Não adianta eu concluir o trabalho da comissão para levar para o plenário e perder", disse.

O deputado também reafirmou que mudanças no BCP (Benefício de Prestação Continuada) para idosos em situação de miséria e nas aposentadorias rurais e de professores não devem passar na comissão especial conforme o proposto pelo governo.

Ainda assim, segundo ele, seria possível assegurar, com alterações nesses itens, uma economia de R$ 1,1 trilhão, já que o governo elevou a estimativa de poupança total em dez anos para R$ 1,23 trilhão com a aprovação integral do texto.

"O tamanho da reforma vai depender da capacidade de parlamentares de resistir à pressão de organizações de servidores. Essas pressões inexistiam na CCJ [Comissão de Constituição e Justiça], mas hoje estão fortes no Congresso. Politicamente, não dá para ter um grande desgaste com uma pequena reforma", afirmou.

Ele disse ainda que cresce entre os partidos a ideia de que estados e municípios sejam retirados do texto, sugestão que Ramos apoia pessoalmente, embora afirme que não vá encampar. Para ele, a proposta é inconstitucional e cada ente federativo deve ter a opção de embarcar ou desembarcar da reforma, como propunha o ex-presidente Michel Temer.

"É preciso uma articulação política do governo e dos governadores e prefeitos se eles realmente quiserem que a reforma tenha impacto nos seus regimes próprios. O governador [de São Paulo, João] Doria tem sido muito firme na defesa da reforma, mas só ele. Os outros ficam calados, pedindo nos bastidores que a reforma seja aprovada, mas fazendo discursos públicos contra, como muitos governadores do nordeste", disse.

Outra proposta que deve gerar embate na comissão, segundo Ramos, é a restrição do abono salarial para quem ganha até um salário mínimo, e não mais dois.

"Isso vai ser objeto de tensão. Há grande pressão para retirar, mas o impacto fiscal seria significativo, quase 17% do que o governo espera de economia com a reforma", afirmou Ramos.

"Hoje, tem mais chance de a proposta permanecer, mas é tudo ou nada, não vejo um caminho alternativo. Vai depender da capacidade de diálogo do governo com os líderes da Casa."

Inverdades Para o deputado, falta transparência por parte da oposição que afirma não haver déficit no sistema previdenciário, mas também o governo precisa corrigir narrativas.

"Não é verdade que a reforma é só para combater privilégios, ela é também para fazer ajuste fiscal e pede sacrifício de pessoas de renda média e até algumas de renda baixa. Mas é necessária para gerar emprego para quem não tem renda nenhuma", disse.

Ramos afirmou ainda que a aprovação das mudanças na aposentadoria neste ano não desafoga a perspectiva de um crescimento econômico fraco para o Brasil em 2019.

"Do ponto de vista econômico, o ano de 2019 é um ano perdido, com ou sem reforma. O crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] será pequeno, a retomada do emprego será pequena", disse.

"A reforma da Previdência não vai resolver todos os nossos problemas e, no dia seguinte, viveremos em um mundo de prosperidade", afirmou. "Agora, sem a reforma, o futuro é o caos absoluto."

Ramos disse que a reforma "é o Plano Real da nossa geração". "Não é a solução definitiva, mas é o passo inicial para que o caos não chegue."

CAPITALIZAÇÃO

Em relação ao sistema de capitalização, em que cada trabalhador faz sua própria poupança para quando se aposentar, Ramos disse que o governo não tem sido capaz de explicar quem vai pagar o estoque de aposentadorias que permanecerem no sistema atual, de repartição, em que a população na ativa ajuda a bancar os ganhos dos aposentados.

"O governo não apresentou quanto é esse estoque e quem vai pagar, porque talvez seja maior do que a economia prevista. Não vai mais ter contribuição no regime anterior, não vai ter contribuição patronal", disse Ramos.

Segundo o deputado, não há segurança do país e do parlamento para votar a proposta. "Se não houver nada extraordinário, uma explicação clara do governo, acho difícil prosperar um sistema de capitalização puro."

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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