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Gerente de contabilidade

A função do gerente de contabilidade é, quase sempre, subtulizada nas organizações de ciência e tecnologia. Nas organizações privadas, ela é quase sempre utilizada apenas para manter os registros dos atos e fatos contábeis para dar conta das exigências legais; nas públicas, é praticamente desconhecida. As organizações públicas desconhecem o fato de que os registros não servem apenas para demonstrar o caráter e a dignidade de seus dirigentes em relação à governança de suas organizações, mas fundamentalmente para que possam utilizar essa ferramenta técnica gerencial como essencial para o processo decisório. Dito de outra forma, quem não sabe utilizar o poder que a contabilidade tem para a precisão da realidade organizacional muito provavelmente não toma as decisões mais satisfatórias. Este artigo tem como objetivo descrever a função do gerente de contabilidade nas organizações de ciência e tecnologia.

A contabilidade é uma importante ferramenta no arsenal de técnicas, procedimentos e tecnologias gerenciais, cuja finalidade é tornar o mais preciso possível a compreensão da realidade organizacional e de seu ambiente. Essa necessidade quase enlouquecida por precisão tem como objetivo maior a redução do grau de incerteza acerca dos ambientes externo e interno, de maneira que ameaças e oportunidades, assim como os pontos fortes e fracos da organização fiquem mais nítidos. A nitidez reduz a ambiguidade e, consequentemente, os riscos dos desdobramentos das decisões tomadas.

Isso quer dizer que a contabilidade é uma ferramenta do conhecimento organizacional. Fazer contabilidade de forma adequada é gerenciar com mais adequação, também, o conhecimento que a organização tem de si, do que faz e do que poderá vir a fazer. Sem a contabilidade, portanto, qualquer tomada de decisão é, de certa forma, um tiro no escuro. Exemplo? Como fazer os cálculos financeiros, sem que haja precisão nos registos de atos e fatos organizacionais? Fazer contabilidade é ir além de meras anotações para prestar contas com o governo. Não fosse assim, que motivos teriam as organizações altamente profissionalizadas, que desenvolvem e mantêm registros com o uso intensivo e aprimorado de tecnologias para aumentar o grau de precisão de seus cálculos para efeito de tomada de decisão?

Muitas organizações de ciência e tecnologia brasileiras agem de duas formas em relação à contabilidade. Algumas terceirizam o serviço, com a firme convicção de que essa é apenas uma obrigação para manter corretamente os registros, voltados para a prestação de contas com o governo. Outras mantêm internamente um grupo de profissionais desse setor gerencial com a determinação de encontrar artifícios e arranjos legais para reduzir a elevadíssima carga de obrigações que mantêm para com os ensandecidos sistemas tributários e fiscais nacionais. Ambas, portanto, não têm a preocupação de usar a ferramenta para melhorar os resultados organizacionais, tanto na detectação de ineficiência de processos quanto no uso de seus recursos.

No entanto, umas poucas organizações têm obtido sucesso extraordinário com o uso da contabilidade. E isso tem feito toda a diferença por parte desses gerentes. Certa organização nordestina privada aperfeiçoou seus sistemas de registros de uma forma tal que, no início de cada mês, todos os seus campi têm os balanços patrimoniais e demonstração de resultado do exercício. E não é só isso. Todos os seus diretores gerais, assim como os diretores acadêmicos e de administração, sabem ler esses documentos. Além de saberem ler, todos os dirigentes sabem fazer os devidos cálculos financeiros e econômicos que esses documentos permitem fazer. Noutras palavras, com a contabilidade têm aperfeiçoado o gerenciamento organizacional e contribuído para alcançar sucesso onde a maioria das organizações só coleciona fracassos.

Um diretor de universidade pública que atua na região sudeste, ao assumir a direção de um campus do interior, resolveu usar a contabilidade como deve ser usada: para demonstrar a transparência de sua gestão e para melhorar os resultados da organização. Vencida a desconfiança e a reprovação de quase todo mundo, os gerentes que o diretor treinou pessoalmente e os nomeou depois passaram a usar a ferramenta com adequação. Em pouco tempo (menos de um ano), os resultados começaram a aparecer e a chamar a atenção de todos, principalmente dos incrédulos e pessimistas. Compreendendo a simplicidade e a precisão da ferramenta, hoje reconhecem que a introdução de seu uso naquela organização iniciou os procedimentos de profissionalização da gestão.

A contabilidade, por desconhecimento dos dirigentes estratégicos e táticos das organizações de ciência e tecnologia, tem sido relegada a papel esdrúxulo, que foge completamente ao seu objetivo. Nada é inventado nas organizações com o fim único de dar trabalho e aumentar custos. Todas as invenções estão voltadas ou para a melhoria do processo de produção ou para o aperfeiçoamento do resultado a ser entregue para o cliente. Como é uma ferramenta desconhecida principalmente por parte de quem não tem formação gerencial, a contabilidade é vista como despesa desnecessária, cuja existência é apenas para dar conta das exigências dos órgãos de controle.

O que os dirigentes não sabem é que não há seriedade gerencial sem que a contabilidade esteja ali, de pronto, para atestar ou refutar tanto premissas quanto argumentos. E, mais do que isso, essa ferramenta tem o poder, em si, de detectar ineficiências e desonestidades, razões pelas quais são objeto de análise de todo auditor e investigador. Sem contabilidade, o processo de autodesenvolvimento e autoaperfeiçoamento organizacional fica comprometido, se não completamente inviabilizado. Como consequência, sem contabilidade não há aprendizado da organização e sua capacidade de vencer ou superar desafios fica tolhida ou, pelo menos, extremamente enfraquecida.

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
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