Pesquisar
Close this search box.

Gerente de apoio ao estudante

https://www.jcam.com.br/Daniel Nascimento.jpg

O gerente de apoio ao estudante é um profissional que, nas organizações brasileiras, tem o desafio de equilibrar as diferenças entre os membros das diversas classes sociais que adentram as instituições de ciência e tecnologia. Sua missão, ao final e ao cabo, é fazer internamente a isonomia entre o corpo discente, de maneira que todos tenham as condições materiais e imateriais necessárias para que alcancem o sucesso pretendido. É dentro desse contexto que este profissional terá que agir, para que desempenhe a contento o seu papel e permita que não haja diferenças marcantes entre os egressos, assim como, talvez o maior desafio, impeça que haja evasão discente ao longo do tempo em que permanecerão no sistema organizacional. Assim, este artigo tem como objetivo descrever a função do gerente de apoio ao estudante nas organizações de ciência e tecnologia.

A existência da gerência de apoio ao estudante nas organizações brasileiras de ciência e tecnologia é decorrente, grosso modo, das enormes desigualdades que marcam a sociedade. Adentram os sistemas organizacionais discentes com grande quantidade de recursos materiais e financeiros, da mesma forma que aqueles que são praticamente carentes de tudo, inclusive de afeto. Essas diferenças materiais, se não gerenciadas, promovem agravamento profundo na aquisição de competências, na melhor hipótese, uma vez que a consequência quase que natural é o abandono e evasão dos alunos carentes da instituição.

Dessa forma, o alvo da atenção primeira do gerente de apoio ao estudante são todos os ingressantes que tenham alguma dificuldade material; sem seguida, em segunda instância, as necessidades de ordem afetivo-cognitiva. As dificuldades materiais são inúmeras e diversas, de acordo com a experiência das instituições brasileiras, como habitação, transporte, alimentação, lazer, material didático, dentre outras. As dificuldades afetivo-cognitiva mais comuns são a dificuldade de aprender, síndromes psicológicas diversas (como pânico, estresse, fobias etc.), descontrole emocional, necessidade de afeto, necessidade de estima e necessidade social, dentre várias outras.

Para as dificuldades materiais, o desafio deste gerente é supri-las. É assim que as instituições constroem ou disponibilizam habitações escolares, viabilizam o transporte e alimentação, além de fornecer determinado subsídio em dinheiro para o suprimento das demais necessidades. É interessante notar que as instituições mais bem sucedidas no suprimento dessas necessidades fornecem, em dinheiro, o montante necessário para todas essas necessidades, mas não de qualquer forma. Essas instituições aproveitam a oportunidade para ensinar esses alunos a gerenciar adequadamente os recursos, competência fundamental não apenas para os futuros profissionais que formará, mas essencialmente para a formação do cidadão. Tudo isso é feito de forma monitorada, mensalmente.

As diversas experiências nacionais têm mostrado, contudo, que o sucesso ainda é extremamente raro. Infelizmente, os indivíduos que ocupam essa posição nas organizações nacionais de ciência e tecnologia não têm clara a sua missão e, consequentemente, não conseguem elaborar estratégias que lhes permitam o sucesso. Quase sempre o desafio integral é desconhecido, o que faz com que se atenham apenas a uma pequena parte do esforço de suprimento dessas necessidades, através da disponibilização de dinheiro em quantidade ridícula, que na maioria das vezes não é suficiente para o transporte ou a alimentação.

O suprimento das necessidades afetivo-cognitivas é a parte mais visível do apoio ao estudante praticado pelas instituições brasileiras. Via de regra, é concentrado para cobrir o espectro exigido legalmente, que são a atenção aos portadores de necessidades especiais, com destaque para os portadores de autismo. É por isso que se vêem, por exemplo, quase todas as instituições com rampas de acesso ou elevadores para uso limitado, sinalizações horizontais e verticais nas instalações físicas, equipamento para leitura para cegos e assim por diante. Esse esforço, como se pode perceber, é feito apenas para cumprir as exigências legais, não estando, portanto, focados no alcance do objetivo final da instituição.

O gerente de apoio ao estudante (e todo o corpo gerencial das atividades-fim da instituição) sabe que as necessidades materiais e de ordem afetivo-cognitivo afetam fatalmente o rendimento de qualquer indivíduo. Quem está abalado ou apresenta qualquer dificuldade de ordem fisiológica não consegue render tão bem quanto o indivíduo normal que está isento dessas dificuldades. O trabalhador, por exemplo, que tem filhos passando fome não consegue trabalhar direito porque está com a mente e o espírito focados na situação entristecedora dos seus afetos. O mesmo acontece com os estudantes.
O que o gerente de apoio ao estudante tem como desafio é deixar a todos com as mesmas condições materiais e imateriais supridas, para que deem tudo de si para o desafio maior, que é aprender ou produzir ciência e tecnologia. E como é desafio, sua competência não se restringe apenas a conceder bolsas miseráveis que a instituição tem para repassar aos alunos. Ele sabe que as bolsas são necessárias, mas sabe também que não são suficientes. Há inúmeros casos em que o gerente de apoio estudante conseguiu habitação com organizações privadas, transporte com as empresas de ônibus locais, alimentação e tudo o mais sem gastar um único centavo do dinheiro da instituição pública, apenas com sua capacidade de suprir necessidades e deixar equilibrado, em condições iguais de aprendizado, o seu corpo discente.

Infelizmente, o que se vê em quase todas as instituições nacionais é que apenas há um indivíduo que, por alguma razão, está ocupando interinamente aquela posição, que é lidar com o apoio a estudante. Quase sempre esse indivíduo não sabe qual é o desafio daquela posição e tampouco sabe que precisa desenhar caminhos que levem à superação daquele desafio. Como desconhece esse esquema lógico, o máximo que consegue fazer é monitorar alunos que vão receber algum dinheiro em determinado momento. Não sabe, esse gerente e seus colegas, que assim estão produzindo o resultado mais tenebroso da sua instituição, que é a perpetuação das enormes diferenças entre os cidadãos, isso se os menos favorecidos não abandonarem a instituição.

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar