Pesquisar
Close this search box.

Gastos com turismo desabam 53,87% no Amazonas, em 2021, segundo IBGE

Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori

O turismo encolheu em todo o país, no segundo ano da pandemia. Mas, o tombo foi ainda maior no Amazonas. Os gastos totais dos brasileiros em viagens domésticas com pernoite somaram R$ 9,8 bilhões em 2021, ficando 10,91% abaixo da marca de 2020 (R$ 11 bilhões) – o ano inicial da crise sanitária. Os dispêndios dos turistas desabaram 53,87% no Estado, pontuando R$ 69,06 milhões (2021) contra R$ 149,70 milhões (2020). 

A quantidade de viagens com destino ao Estado despencou 55,20% na comparação com o ano pré-pandemia de 2019, passando de 230 mil para 103 mil. O tropeço em relação a 2020 (135 mil) foi menor, mas também significativo (-23,70%). O desempenho do Amazonas seguiu abaixo das médias registradas pelo Brasil (12,337 milhões) e região Norte (815 mil), que amargaram decréscimos de 9,14% e 17,51% respectivamente, na variação anual.

A boa notícia é que a média de dias de permanência dos turistas no Estado subiu de 9,7 (2020) para 11,8 (2021), superando a média nacional (7,2) do ano passado. Os dados são da PNAD (Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar) Contínua – Turismo, realizada pelo IBGE. O levantamento ocorreu em parceria com o Ministério do Turismo. O órgão federal informa que a coleta de dados ocorreu no terceiro trimestre do ano passado, captando viagens ocorridas nos três meses anteriores.

O desempenho negativo do Estado reduziu sua participação nacional dos gastos com turismo, de 1,4% para 0,7%, entre 2020 e 2021. Com isso, o Amazonas apareceu na 24ª posição do ranking nacional, à frente apenas de Rondônia (0,5%), Acre, Amapá (ambos com 0,2%) e Roraima (menos de 0,1%). O Pará (3,4%), por outro lado, teve uma fatia quase cinco vezes maior. Os maiores registros vieram de São Paulo (R$ 1,80 bilhão), Bahia (R$ 1,10 bilhão) e Rio de Janeiro (R$ 1 bilhão). O Estado paulista ficou com 18,2% de todos os dispêndios registados pela atividade, no ano passado.

Em termos de regiões, os gastos dos turistas se concentraram principalmente no Sudeste (37,3%), no Nordeste (30,5%), e até no Sul (20,5%), em detrimento do Centro-Oeste (7%) e do Norte (4,8%). A média brasileira de dispêndios diários per capta foi de R$ 204. Na Região Norte, o valor mais elevado veio do Amapá (R$ 204), seguido por Rondônia (R$ 187) e Amazonas (R$ 156). O número mais baixo ficou em Roraima (R$ 57).

Em ano de pandemia e de piora no cenário econômico, 66,7% das viagens realizadas com parada final no Amazonas, o principal local de hospedagem foi casa de amigo ou parente. Em 19,4% a opção poderia ser albergue, hostel ou camping. A lista se completa com hotéis, resorts ou flats (6,2%), pousadas (3,5%) e imóveis de temporada (1,3%).

Saúde e dinheiro

A pesquisa apontou também queda mais acentuada nas viagens com partidas no Estado, ante a média nacional, além de fatia significativamente menor. A proporção de domicílios brasileiros em que algum morador viajou caiu de 21,8% para 13,9% entre 2019 e 2020, ficando ainda menor em 2021 (12,7%), em um universo de 71,5 milhões de lares. Os respectivos percentuais de viajantes amazonenses, em um total de 1,103 milhão de residências, também foram progressivamente menores (17%, 13,9% e 7,8%). 

Nos 1,107 milhão de domicílios amazonenses onde não ocorreu nenhuma viagem no ano passado, o principal motivo apontado para evitar aeroportos, rodoviárias, hotéis e pontos turísticos foi a “ausência de necessidade” (37%), especialmente em período de pandemia. A “falta de dinheiro” (30,4%), em um momento de piora nos indicadores econômicos, também aparece como um motivo forte para abortar planos de sair do Amazonas – e em primeiro lugar, em âmbito nacional. Completam a lista a “falta de interesse” (10,8%) a “falta de prioridade” (10,4%) e “problemas de saúde” (2%).

]A maioria esmagadora das viagens (83%) ocorreu por “finalidade pessoal” e só 17% por “motivo profissional”. Entre as razões pessoais para viajar, despontam principalmente “outros motivos” (32,8%), como compras pessoais, cursos, estudos ou congressos, religião ou peregrinação e bem-estar, por exemplo. Na sequência, estão as visitas ou eventos de familiares ou amigos (31,8%), tratamento de saúde ou consulta médica (25,2%) e lazer (10,2%). Os translados em virtude de saúde foram os que mais aumentaram (+16,5%).

A própria região Norte foi o destino de 83% das viagens nos Estados nortistas. O Nordeste (6,9%) aparece em uma distante segunda posição, seguido por Centro-Oeste (5,4%), Sudeste (2,7%) e Sul (1,4%). Em sintonia, das 103 mil viagens saindo do Amazonas, 63,7% (66 mil) utilizaram principalmente a opção de “outro” meio de transporte, que poderia ser embarcação ou carro alugado. Apenas 18,5% (19 mil) focaram no transporte aéreo e os 6,38% (11 mil) utilizaram carro particular ou de empresa como principal meio de transporte.

Fator pandemia

O IBGE-AM ressalta, no texto distribuído à imprensa, que a pandemia, que marcou os anos de 2020 e 2021, “pode ter influenciado” nos resultados, dada a mudança de comportamento, em decorrência das restrições de distanciamento e isolamento social – especialmente nas duas ondas de covid-19. “É igualmente relevante apontar que cada domicílio pode relatar no máximo cinco viagens e que, dentre estas, apenas três foram investigadas em todas as suas características”, complementou.

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, ressaltou à reportagem do Jornal do Commercio que a crise da covid-19 piorou o desempenho local do setor, que já não era satisfatório. “Tradicionalmente, não somos um dos destinos mais procurados pelo turista. Mas, a ocorrência da pandemia, agregada a custo dos modais de transporte, afastaram ainda mais os viajantes”, lamentou.

Indagado sobre os diferenciais do Estado em relação a outros destinos nacionais, o pesquisador enfatiza que a pandemia, assim como as distâncias e os custos mais elevados não são os únicos responsáveis, mas têm destaque. “Note que, para chegar a Manaus, um turista necessita ficar em um avião por algumas horas. Além do preço da passagem, há a questão do ambiente fechado do avião. Ao passo que, para chegar às cidades litorâneas, muitas vezes é necessário apenas o seu veículo particular. Também fica nas pessoas a questão psicológica de manter o distanciamento em viagens”, analisou.

“Números preocupantes”

O presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado do Amazonas, e vice-presidente da Fecomércio-AM, Paulo Tadros, considerou os números preocupantes. Ele destaca que a preferência por hospedagem em casas de amigos e parentes é um sinal de alerta para os hotéis. Outro dado que merece consideração, conforme o dirigente, é que a população viajou “pouco” para fora da região, em função do medo da pandemia, da reorganização das finanças e do “preço proibitivo” das passagens.

“Manaus foi diretamente impactada pelo seu distanciamento do resto do país. Vale destacar a falta de estradas associada à escassez de voos, que foram cortados durante a pandemia. Nesse período, o transporte aéreo com destino à cidade trazia mercadorias e insumos de saúde. Praticamente, nenhum comercial. Até hoje, as viagens não voltaram ao normal. Os voos internacionais sumiram”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar