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Futebol por toda a cidade

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O futebol é antigo em Manaus, trazido por ninguém menos que os próprios inventores do esporte, os ingleses, trabalhadores das diversas empresas britânicas que, na capital amazonense, se beneficiavam com a pujante economia proporcionada pelo comércio da borracha, entre 1890 e 1910.

1906 pode-se datar como o primeiro ano que oficialmente houve detalhes de partidas entre os britânicos publicadas exatamente no Jornal do Commercio. Desde então, o futebol, ainda que nunca tenha se profissionalizado, também nunca mais deixou de existir por toda a cidade.

No bairro da Praça 14 de Janeiro um grupo de moradores se reuniu em 2015 e, da mesma forma como os ingleses organizaram os primeiros torneios em Manaus, também criaram um torneio, o Stars Futsal (sem saber, colocaram um nome em inglês, como há mais de cem anos) sendo que, de acordo com o ano, os times vão mudando de nome. “De 2015 a 2017 foi o Campeonato Amazonense, com os times usando os nomes dos times locais. Este ano, lógico, os nomes são os dos países da Copa na Rússia e para o ano serão os times do Champions League, da Europa”, explicou Paulo Costa, um dos organizadores do evento.
Os jogos acontecem na quadra da Praça 14, ao lado do barracão da escola de samba Vitória Régia, todas as terças-feiras, às 19h30, quatro partidas por noite. “A quadra estava abandonada, toda depredada, sem iluminação. Reunimos o grupo e nós mesmos restauramos o local, ajeitamos o piso, colocamos iluminação. Hoje, além de reunir os moradores para uma atividade saudável, vários barraqueiros vêm vender seus produtos aqui e acabou se tornando uma renda extra para eles”, ressaltou.

Outra característica dos jogadores do Stars Futsal é a idade. “Reunimos moradores e ex-moradores do bairro, os peladeiros. A faixa etária é 30 anos, mas vários deles têm mais de 50 anos: o Jacob Silva, 55, da Argentina; o Mesac Mendonça, 57, e o João Carlos, 55, da Alemanha; o Carlos Lopes, 54, e o Fernando Marques, 58, da Inglaterra”, falou Paulo. “O meu time, a Inglaterra, é o que tem os jogadores mais velhos. Já somei a idade dos sete jogadores. Dá 336 anos. O Fernando Marques é o mais velho”, riu.
O Stars Futsal começou em janeiro e segue até julho, acabando próximo à final da Copa da Rússia. Reúne nove times e o time do Brasil já não tem mais chances de ganhar. “Mas o que vale é a diversão. No próximo ano estaremos aqui novamente, em outros times, porque os jogadores são sorteados e tem que ficar o torneio inteiro no mesmo time, fortalecendo a amizade e a união em torno do bairro. Isso é o que importa”, finalizou.

Negros brasileiros são melhores

Vanderlan Santos Mota é doutor em educação física e coordenador pedagógico do curso de licenciatura em educação física da UEA. Coincidentemente nasceu na Praça 14 e seu pai, Vinícius, foi um dos peladeiros do bairro na década de 1950. “Ele jogou a vida toda no Fluminense da Praça 14, que realizava torneios com o Labor, do Educandos, e o Ipiranga, da Cachoeirinha. Vi meu pai jogar até os 70 anos. Ele morreu com 100”, lembrou.

“O futebol é um esporte aeróbico. Tem a ver com a oxigenação. Trabalha o sistema cardiovascular e pulmonar. Dependendo do condicionamento físico e nutricional, o atleta vai render bem. Nos dias de hoje é um esporte que reúne vários profissionais em torno do atleta. Esse é um dos poréns, para que o futebol amazonense não deslanche. O esporte não se modernizou em Manaus. Não acompanhou a evolução, sem falar da crônica má administração. Culparia até o Peladão. O garoto joga no torneio, ganha 100, R$ 200, depois tem cerveja à vontade, mulheres, e acha que é o ‘tal’, mas não passa de um peladeiro”, disse.
No Brasil o futebol é um esporte que se desenvolve na periferia, aí o garoto se empolga quando faz sucesso com a bola e começa a ganhar muito dinheiro. Se não tiver estrutura, alguém que o aconselhe, a carreira de sucesso se acaba em pouco tempo”, advertiu.

“Outra coisa. A idade ideal para o garoto começar a jogar futebol é depois dos 12 anos. No Brasil vemos os pais levando crianças de 7 anos para as escolinhas e forçando os filhos a se destacar. A criança não tem nem estrutura física, nem mental, para esse tipo de cobrança, e a ‘carreira de jogador’ pode acabar ali mesmo”, revelou.

“Sem falar que a carreira futebolística é curta. Demora dos 20 aos 33 anos, no máximo. Por que o Brasil sempre se destacou no futebol? No livro ‘O negro no futebol brasileiro’, do Mário Filho, ele explica que a miscigenação de vários povos com os negros, no Brasil, criou um tipo de raça com uma musculatura específica, que ajuda nessa facilidade com a bola. Isso é uma realidade. O futebol é uma dança. Veja que os negros da África jogam diferente dos negros do Brasil, e os jogadores brasileiros negros sempre se destacaram com a bola”, afirmou.

“O jogador profissional para de jogar logo depois dos 30 anos, mas o peladeiro, se se cuidar e tiver saúde, pode chegar a idades bem avançadas, como o meu pai, que era negro”, garantiu.

Futebol e futsal por toda a cidade

Independente dos torneios organizados nos bairros da cidade, pelos próprios moradores, a Semjel (Secretaria Municipal de Juventude, Esporte e Lazer) desenvolve diversas atividades de futsal e futebol. “Atualmente a Secretaria realiza atividades variadas em 17 CEL’s (Centros de Esporte e Lazer). O futsal é realizado, em sua grande maioria, em 10 centros, totalizando 989 alunos de futsal e 65 de futebol”, falou Alexsandre Barbosa, diretor de Esportes da Semjel.

A seguir, a lista dos CEL’s: oferecem apenas futsal: CEL Alvorada: com 54 alunos; CEL Cidade de Deus: com 13 alunos; CEL Dom Jackson (Compensa): com 179 alunos e 13 alunas; CEL Japiim: com 45 alunos; Minivila Olímpica do Coroado: com 75 alunos e 3 alunas; Ninimberg Guerra: com 101 alunos e 32 alunas; CEL Santa Etelvina: com 127 alunos e 16 alunas; CEL Santa Luzia: com 10 alunos e 1 aluna; CEL Zezão (São José): com 256 alunos e 8 alunas. Oferece apenas futebol: CEL Rouxinol (Cidade Nova): com 43 alunos e 4 alunas. Oferece futsal e futebol: CEL Redenção: com 40 alunos e 15 alunas de futsal; e 12 alunos e 6 alunas de futsal.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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