Pesquisar
Close this search box.

Farinha do Uarini, patrimônio do Amazonas

Estou para ver um amazonense que não goste de farinha. E aposto que sentem saudade dela quando viajam para outro lugar onde as pessoas não têm o costume de consumi-la. Pois não é que, agora, a farinha do Uarini, que nos últimos anos se tornou a queridinha nos nossos pratos, se tornou Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Amazonas. E o que isso significa?

“Significa reconhecer no processo de fabricação da farinha de Uarini os conhecimentos repassados de geração para geração, a integração entre a produção e o meio ambiente. Significa, ainda, promover o respeito ao sentimento de identidade à criatividade da população local ao conseguir produzir algo diferenciado na apresentação, sabor e produção”, explicou Luiz Herval, gerente de Produção Vegetal do Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas).  

O reconhecimento foi feito através da Lei nº 6.794, sancionada em 21/01/24, de autoria do deputado estadual Cristiano D’Ângelo.   

A produção da farinha do Uarini é incentivada pelo Idam, por meio das atividades de Assistência Técnica e Extensão Rural. Atualmente, segundo o Idam, o Amazonas conta com mais de 70 mil agricultores familiares e produtores rurais que, entre outras culturas, se dedicam à produção do alimento para subsistência e comercialização. A produção do item no Estado é de 154,1 mil toneladas de farinha das categorias d’água, seca e do Uarini, números de 2023.

Quem viveu há 40 anos, ou mais, lembra bem que antes praticamente só existia um tipo de farinha, a famosa ‘baguda’. Quem quisesse afiná-la precisava passar no moedor de carne. Agora a farinha ficou chique e é dividida em categorias, de acordo com o bolso do comprador: seca, d’água, amarela, branca, ova, ovinha e saborizada. E a ‘baguda’ continua, excelente no açaí.

Famosa farinha  

“O destaque dado ao nosso ‘caviar amazônico’, a farinha do Uarini, é compreensível e merecido”

Às margens do rio Uarini, um afluente do médio Solimões, o município do Uarini foi criado há apenas 42 anos e a famosa farinha produzida naquela região fez seu nome se tornar conhecido entre os amazonenses.

“A origem da denominação da farinha se dá no município de Uarini, apesar de municípios como Maraã, Alvarães e Tefé, limítrofes de Uarini, nas proximidades dos rios Jutaí e Juruá, também serem grandes produtores”, informou. 

A farinha tem como matéria-prima a mandioca, cuja produção também é incentivada pelo Idam e que, em 2023, somou 168,4 mil toneladas. Entre os municípios de destaque na produção da raiz, segundo o Relatório de Atividade, estão Manacapuru (14,4 mil toneladas), Tefé (14 mil toneladas) e Manicoré (7,2 mil toneladas). A cultura também é beneficiada com o Projeto Prioritário, que atende aproximadamente três mil produtores rurais.

Mas como é que a farinha do Uarini fica com os bagos redondinhos sendo por isso denominada de ova e ovinha?

“Alguém, com uma visão mais adiante, um dia resolveu inventar um equipamento pelo qual ao passar a massa da mandioca, ainda úmida, ela fica com o formato de pequenas bolinhas, isso antes de ser torrada. O equipamento recebeu o nome de ‘embolador’. Como os demais produtores viram que aquele novo formato da farinha estava fazendo sucesso nas vendas, passaram também a utilizar o ‘embolador’. Tradicionalmente, esse equipamento é manual, porém, já existem serralheiros que o fazem funcionar por meio de motor elétrico”, falou.

Caviar amazônico 

Hoje vemos no mercado uma mistura de farinha com pequenos bagos e ovinha, e outras com pó e ovinha mas, segundo Herval, isso não se trata de má fé. 

“A farinha tem classificação conforme sua qualidade de produção. Quando a farinha apresenta nó e desuniformidade nos grãos a sua classificação é mais baixa, mas não é questão de ludibriar o consumidor. Farinhas com essa situação são mais baratas em relação a uma farinha uniforme em grãos e sem pó”, garantiu.  

E quem já não viu, em filmes, o processo rudimentar de fabricação de farinha, com o farinheiro diante de um tacho aquecido por fogo de lenha, mexendo e remexendo a farinha para torrá-la. Pois essa forma secular de trabalho, continua.  

“Mas hoje já existem muitos avanços tecnológicos, tanto no plantio da mandioca quanto na produção da farinha. Muitas empresas e agroindústrias possuem equipamentos modernos”, revelou.  

Sobre a maioria dos produtores não dar nome ao seu produto, Luiz lembrou que “a farinha produzida no Amazonas é quase que uma exclusividade da agricultura familiar. As cerca de 70 mil famílias que participam do processo de plantio até a produção possuem pequenas roças e produção. Fazer uma marca para essas famílias não cabe nos seus custos, porém, grupos de agricultores em associações ou cooperativas já possuem suas marcas, além dos empresários”, disse.  

Para o diretor-presidente do Idam, Vanderlei Alvino, “o destaque dado ao nosso ‘caviar amazônico’, a farinha do Uarini, é compreensível e merecido, pois além de ser uma ‘queridinha’ na cesta básica do amazonense, é fonte de emprego e renda para milhares de agricultores familiares, ou seja, alimenta a população e é um dos carros-chefes do setor-primário amazonense”, finalizou.

***

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar