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Empreendedores da floresta

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      Yuri Magno, ou Rairú (seu nome indígena que significa raio, força da natureza, em aruaque) é da etnia sateré-mawé, mas desde muito pequeno foi criado pelos apurinã, povo que habita o vale do rio Purus. Daquela época ele lembra que os apurinã já comercializavam produtos extraídos da floresta com empresas sediadas em Manaus.

        “Lembro de um regatão, da Ciex (empresa voltada para o comércio de produtos amazônicos desde 1944) chegando à aldeia e negociando com os adultos: copaíba, andiroba e outras especiarias da floresta”, recordou.

        No final da década de 1980 os apurinã da aldeia de Rairú, localizada no município de Tapauá, resolveram que chegara a hora de acabar com o atravessador e vender seus produtos diretamente para o consumidor. “Foi quando começamos a trazer cascas, folhas, óleos e essências para vender em Manaus. Mas não era nada organizado. Não tínhamos disponibilidade de sacos plásticos, garrafas de plástico e vidro, então colocávamos os produtos no que tivéssemos lá”, disse.

        “Vendíamos na Manaus Moderna, junto do barco no qual viajávamos. Quando ele voltasse para Tapauá, íamos de novo. É uma viagem de quatro dias, tanto pra ir quanto pra vir”, explicou. “Não demorou para começar a aparecer a clientela, ainda mais quando viam que éramos indígenas e nossos produtos eram 100% naturais, sem mistura ou adulterações, e ainda explicávamos como eles agiam, seguindo as instruções dos pajés, que às vezes vinham também na viagem”, contou.

        Empresa no meio da floresta

        Como os indígenas dos tempos modernos, Yuri não se limitou a ficar na sua aldeia. Veio para Manaus, estudar. Se formou em jornalismo. “Meu sonho era aparecer na televisão apresentando reportagens, mas não deu. Às vezes atuo como repórter na Rádio Tribos do Norte, que funciona aqui em Manaus”, contou. “Mas minha dedicação maior é para os produtos da floresta. Já fui a Cuba, estudar medicina natural, e depois viajei até a Carolina do Norte, nos Estados Unidos, para conhecer uma fazenda onde eles possuem uma estufa só com plantas amazônicas para produzir remédios. Lá eles me ensinaram a como colocar nossos produtos em cápsulas”, revelou.

        “Em 2000 conheci uma americana, a Nicole. Ela mora nos Estados Unidos, mas sempre vem a Manaus. Foi ela quem ajudou a nos organizarmos como empresa, então abrimos a Produtos Naturais Macaya (macaya significa bom, na língua aruaque). Criamos a nossa logomarca, imprimimos rótulos, adquirimos os recipientes para colocar os produtos e nos organizamos na aldeia”, detalhou.

        “Nossa aldeia tem 80 famílias e a produção é dividida em três segmentos: medicina indígena, artesanato e cosméticos. A medicina indígena é milenar, aprendida com nossos antepassados. São os remédios utilizados para curar os mais diferentes males, preparados a partir de folhas, sementes, cascas e óleos; o artesanato também é milenar. Mostra a nossa cultura e a nossa arte; os cosméticos são mais recentes, aprendidos com os brancos. São cremes, pomadas, pastas, perfumes, esfoliantes, sabonetes, todos feitos a partir de produtos da floresta”, listou.

        “Temos, atualmente, no nosso catálogo de produtos, mais de 20 itens. Os da medicina indígena são todos preparados pelos pajés apurinã, porque resultam da mistura de várias plantas que só eles conhecem os segredos, como o ‘atração da bota’, um estimulante sexual feminino, o mais vendido que, apesar do nome não leva nada da bota; a ‘jibóia branca’, pra acalmar as mulheres; o ‘cabocla saudável’, uma mistura de sete plantas, que serve para limpar o útero; e os naturais como a unha de gato; a miraruíra; o leite de súcuba; copaíba; andiroba; além dos cosméticos: creme e sabonete de mulateiro, entre outros, utilizados para tratar os mais diversos males”, garantiu.

        “Hoje somos doze apurinã que vêm a Manaus vender nossos produtos. Estamos no Centro de Medicina Indígena, na feira da Sepror e na AgroUfam. Somos os primeiros indígenas a participar da AgroUfam, o que para nós é muito importante porque estar dentro de uma Universidade, demonstra a credibilidade que nossa empresa adquiriu”, comemorou. Contatos com Yuri podem ser feitos através do 9 9282-3978.

        Por dentro

        Dispersos em locais próximos às margens do Purus, os apurinã compartilham um rico complexo cosmológico e ritual. Sua história é fortemente marcada pela violência dos dois ciclos da borracha na região amazônica. Hoje lutam pelos direitos a algumas de suas terras que ainda não foram reconhecidas e que são recorrentemente invadidas por madeireiros.

        O território habitado pelos apurinã, no século 19, era o médio rio Purus – do rio Sepatini ou do rio Paciá ao Laco. Mas os apurinã são um povo tradicionalmente migrante e, hoje, seu território se estende ao baixo rio Purus, até Rondônia. Há áreas apurinã nos municípios de Boca do Acre, Pauini, Lábrea, Tapauá, Manacapuru, Beruri, Manaquiri e Manicoré.                 
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Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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