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Documentário ‘Sete notas’ narra trajetória da família Ramos, em Manaus

Documentário ‘Sete notas’ narra trajetória da família Ramos, em Manaus

Eles vieram, viram, venceram… e foram embora de Manaus. Essa é a história do português Lourenço Ramos, que veio para a capital amazonense com sua esposa Carlota, brasileira, em 1877, aqui fez sua vida e formou família. Os ‘Ramos’ viveram uma vida de alegrias e tragédias até que o último dos filhos morreu, em 1940, e esse ramo da família deixou de existir na cidade. Mas, o que levou o artista visual Tácio Ramos a se interessar pela história da família e filmar o documentário ‘Sete notas’? ‘Sete notas’ representam Lourenço, a esposa e os cinco filhos, em especial, a mais nova, Ária Ramos, que a cada Carnaval, ressurge em Manaus.

“Desde o momento em que descobri a história de Ária Ramos, em 2012, fotografando o cemitério da cidade, venho pesquisando sobre essa adolescente, morta de forma trágica em 1915. Depois desse momento tive um grande interesse de produzir um curta de ficção intitulado ‘A última valsa’, onde narro a história da violinista Ária Ramos. Naqueles anos estava sendo bem complicado produzir algo no cinema, assim como até os dias de hoje, e por isso o projeto tem se mantido na gaveta”, contou Tácio.

Tácio Melo: “essa adolescente foi morta de forma trágica em 1915”

Em 2015, o artista visual lançou o projeto ‘A última canção’, com fotografias de um ensaio com a modelo Gabriela Nunes, produção que foi para exposição aberta em 15 de fevereiro de 2016, em homenagem à adolescente.

“A partir daí, tive um contato mais próximo com a família Ramos, que para mim e para muitos nem sequer existia. Passei a conhecer melhor sobre a história deles, do período áureo da borracha em que viveram, e me encantei, pois a história parece ser uma linda ficção criada por um talentoso autor. A família passou por aventuras e dramas incríveis, o maior deles, acredito, a morte até hoje misteriosa de Ária Ramos numa noite de Carnaval”, lembrou.

Subindo ao Céu

Ária Paraense Ramos nasceu em 12 de agosto de 1896 e, segundo relatos da época, era uma jovem que gostava de se divertir, tanto que o trágico ocorrido que tirou sua vida, aconteceu num baile de Carnaval, no dia 17 de fevereiro de 1915.

O baile se desenrolava numa terça-feira gorda, no Ideal Clube, então localizado nos altos de um prédio na av. Eduardo Ribeiro com Henrique Martins. É provável que, pela Eduardo Ribeiro estivesse acontecendo o corso, desfile de carros de capota conversível no qual os passageiros jogavam confetes, serpentinas e espirravam lança-perfume uns nos outros e em quem assistia ao cortejo. Enquanto isso, no Ideal, nada de samba ou marchinhas, mas maxixes, mazurcas e valsas, isso mesmo, valsas, por isso, quando foi atingida por uma bala, Ária Ramos, que era violinista, executava a valsa ‘Subindo ao Céu’.

Ferida, a jovem foi carregada por alguns integrantes do grupo carnavalesco ‘Paladinos da Galhofa’, pelas ruas pouco iluminadas de Manaus, na direção da Santa Casa de Misericórdia, mas não resistiu ao tiro, e morreu.

A cidade, em franca decadência econômica pós-período áureo da borracha, e com uma população de menos de 100 mil habitantes, foi abalada, afinal, Ária Ramos pertencia à elite local e era bastante conhecida por todos.

“Ária Ramos de fato é um símbolo na família, até porque, é sua lápide, no cemitério São João Batista, o único rastro de sua família na capital amazonense. Mas destaque grande também teve sua irmã Celeste Ramos (primeira pianista do Amazonas), e Pátria Ramos, que alavancou bons projetos no Amazonas e em Portugal. Quando se conhece a história da família até se esquece um pouco sobre Ária Ramos, ela passa a ser um elemento simbólico, mas todos eles tiveram lindas histórias e muito marcantes no tempo em que viveram em Manaus”, revelou.

O último neto

No documentário, alguns entrevistados narram os motivos que fizeram tantos portugueses virem para a região do Amazonas naquele tempo. Esse é o gancho que explica a vinda de Lourenço e sua esposa Carlota para vir morar em Manaus.

Lourenço Ramos, além de ter atuado na área comercial, também foi braço direito de políticos influentes, e empresário das filhas musicistas.

O português conseguiu se sobressair financeiramente na capital amazonense, tanto que mandou seus filhos estudarem na Europa, privilégio dos abastados da cidade. A família vivia envolta num mundo de alegria, cultura e arte, inseridos na primeira classe social da época, por isso eram admirados e estavam sempre cercados por amigos e de pessoas da alta sociedade.

O documentário mostra a vida da família em Manaus por 63 anos, de 1877 até 1940 quando, da mesma forma como começou, encerrou.

“1940 é quando morre o irmão mais velho de Ária Ramos. Sua mulher e filhos vão embora de Manaus. Os pais e as outras irmãs Ramos já haviam morrido”, disse.

‘Sete notas’ encerra mostrando os descendentes dos Ramos, que hoje residem em Portugal ainda preservando documentos históricos de quando a família viveu em Manaus e entrevista o último neto vivo de Lourenço Ramos, Fernando, 93 anos, falando com muita emoção de seu pai e recordando da vida que teve em Manaus até 1940, então com 13 anos.

Fernando Ramos, o último neto

Devido à pandemia, ‘Sete notas’ ainda não tem data prevista para estrear.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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