Pesquisar
Close this search box.

Dívidas das famílias de Manaus crescem em outubro

A proporção de consumidores de Manaus endividados com cartões e carnês e outros meios de pagamento acelerou pelo quinto mês seguido, em outubro, coincidindo com a trajetória da média nacional. O percentual de inadimplentes, contudo, foi na direção contrária do dado brasileiro e voltou a aumentar, principalmente entre as famílias com menor renda. É o que revelam os dados da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), realizada e divulgada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). 

Na sondagem, 72% das famílias manauenses (461.108) se dizem endividadas, número acima do apresentado em setembro de 2021 (71,6% e 457.281), e já praticamente empatado com o dado de 12 meses atrás (72,5% e 457.694). O índice de inadimplência também cresceu entre o nono (23,7% e 151.851) e o décimo (24,2% e 155.173) mês de 2021, embora ainda esteja aquém da marca de outubro de 2020 (25,9% e 163.353). Ao menos 13,5% (86.666) declararam já não ter condições de quitar dívidas em atraso, mesmo percentual do mês anterior, e número também próximo ao do ano passado (13,8% e 86.865).

Em âmbito nacional, 74,6% das famílias já se assumem endividadas, renovando o recorde de setembro (74%), no maior percentual desde 2010. O valor corresponde à 11ª elevação mensal seguida e a uma alta significativa ante o mesmo mês de 2020 (66,5%). O percentual de inadimplentes ficou praticamente igual entre um mês (25,5%) e outro (25,6%), mas ficou acima de outubro do ano passado (26,1%). Já a parcela dos brasileiros sem condições de pagar contas ou dívidas andou para trás, entre o nono (10,3%) e décimo (10,1%) mês de 2021, além de encolher em relação a 12 meses atrás (11,9%).

Houve uma piora relativa e qualitativa no nível de endividamento dos manauenses. Assim como ocorrido em setembro, a maioria ainda se diz “pouco endividada” (26,8%), mas estes passaram a ser seguidos primeiro pelos “muito endividados” (24,9%) e apenas depois pelos “mais ou menos endividados” (20,3%). No mês anterior, os respectivos números haviam sido 27,5%, 21% e 22,9%. Consumidores com renda total superior a dez salários mínimos (75%) voltaram a superar a média do indicador (72%) –puxados, pelo quarto mês seguido, pelo grupo dos “muito endividados” (40,5%).

Cartão e carnês

Assim como na média brasileira, o cartão de crédito foi o principal vilão do endividamento em Manaus, respondendo por 76,9% do bolo das dívidas, embora em nível abaixo do anterior (82,4%) e com novo predomínio das famílias mais ricas (85,7%). Os carnês (34,1%) voltaram à segunda posição, sendo impulsionados pelos que recebem menos (31,3%). Foram seguidos por crédito consignado (29,8%) e financiamento de carro (20,3%) –que despencou do segundo para o quarto lugar. Na sequência estão crédito pessoal (12,2%), cheque especial (6,3%) e financiamento residencial (1,6%). O cheque pré-datado não pontuou e 0,8% dos entrevistados relataram “outras dívidas”.

Já entre os 23,7% de consumidores manauenses com compromissos financeiros em atraso, diminuiu a diferença entre os que ganham menos (24,3%) e mais (23,8%). Apenas 18,4% garantem que conseguirão pagar a dívida integralmente e 25,8% estimam que conseguirão quitar o compromisso apenas parcialmente. Pelo menos 24,4% devem há mais de 90 dias – especialmente os mais pobres (25,3%). A fatia com dívidas atrasadas entre 30 e 90 dias (62,9%) ainda é majoritária, enquanto o grupo pendente há menos de um mês responde por somente 11,9% do bolo. 

Em relação aos dados de um mês atrás, a situação piorou nas estimativas de tempo de comprometimento com as dívidas, já que aumentou o percentual dos que estimam levar mais de um ano para isso –de 48,6% para 48,9%. O grupo dos ‘pendurados’ por três meses também subiu –de 11,2% para 14,3%. A fatia de devedores comprometidos entre seis meses e um ano, por outro lado, encolheu de 22,6% para 21,2%, enquanto a parcela dos endividados entre três a seis meses permaneceu em 14,3%.

O comprometimento de renda, entretanto, melhorou. Em média, as famílias manauenses consomem 37,9% de seus ganhos com dívidas, pouco menos do que os 38,4% anteriores. Pelo segundo mês, o grupo das famílias que recebem mais de dez mínimos seguiu preponderante (42,5%). Houve relativa melhora na distribuição por níveis de comprometimento: a maioria gasta de 11% a 50% (52%). Na sequência estão os que gastam mais da metade de seus ganhos mensais com dívidas (41,5%) e os que limitam os dispêndios a 10% (4,1%). Em setembro, as respectivas fatias foram de 49,9%, 43,8% e 3,9%.

Impacto dos juros 

O presidente em exercício da Fecomércio AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, ressalta que os juros mais altos estão contribuindo para uma taxa maior de endividamento do consumidor. Segundo o dirigente, a expectativa é que a taxa Selic cresça mais ainda na próxima reunião do Copom, se aproximando da faixa dos 10%, e ajudando a elevar o nível de comprometimento do consumidor com dívidas, no curto prazo. 

“Mas, o endividamento tende a ir caindo, aos poucos, porque vai ficando difícil responder a juros tão elevados. O consumidor está muito cauteloso, porque há ainda um estigma do desemprego muito elevado. Isso tudo contribui para todo esse quadro de dificuldades para a economia. Estamos com a expectativa de que, no começo de dezembro, já possamos vislumbrar alguma melhoria, embora esta ainda fique muito distante de nossa expectativa. E, se Deus quiser, não teremos mais uma nova onda de Covid que sacrifique o melhor momento de vendas do comércio”, afiançou.

Prazos mais longos

Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC, a economista responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, destaca que a proporção de famílias endividadas por mais de um ano é crescente desde o fim do primeiro trimestre, atingindo a máxima histórica de 35,8%. “É um indício de que os consumidores estão buscando alongar os prazos de pagamentos de suas dívidas para que a parcela caiba nos orçamentos e, assim, evitem a inadimplência”, explicou.

No mesmo texto, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, considerou que o “relativo” controle da taxa de inadimplência, diante do cenário econômico atual, é “impressionante”. “A inflação corrente elevada e disseminada tem deteriorado os orçamentos domésticos e diminuído o poder de compra das famílias, em especial as na faixa de menor renda. Os números demonstram os esforços em manter os compromissos financeiros em dia, com renegociação e melhor controle dos gastos”, concluiu.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar